Este review tem um peso especial para mim. Joguei Final Fantasy Tactics pela primeira vez em 1997 no PlayStation original, quando ainda era um adolescente fissurado por RPGs.
Depois, revisitei o jogo no PSP com o War of the Lions e até no celular, em uma versão que muitos criticaram, mas que mesmo assim me fez passar horas relembrando cada detalhe.
Sou um fã declarado, apaixonado por esse universo de Ivalice, pelo sistema de classes e por todos os segredos escondidos nas batalhas. Então, quando peguei The Ivalice Chronicles no Nintendo Switch 2, confesso que meu coração acelerou (e muito). E não me decepcionei.
Logo de cara, a sensação foi de reencontro com um velho amigo. A música de Hitoshi Sakimoto, que sempre considerei uma das melhores trilhas já feitas para videogames, me pegou de novo.
Mas ao mesmo tempo percebi que não era só nostalgia: havia novidades que deixavam tudo mais prático e vivo. O jogo continua sendo tático até o osso, mas agora temos dublagem completa, interface repensada e ajustes que fazem sentido para quem joga em 2025.
Uma história que nunca envelhece
A trama continua girando em torno de Ramza Beoulve e sua complicada relação com Delita Heiral. A forma como o jogo mostra que a história oficial foi distorcida, apagando as verdadeiras contribuições de Ramza, sempre me marcou. Hoje, com as novas ferramentas – como a linha do tempo que mostra eventos e deslocamentos das tropas – é muito mais fácil acompanhar toda a rede de traições, conspirações e manipulações.
Ver essa história no Switch 2, com dublagem de alto nível e legendas cuidadas, é quase como assistir a uma peça de teatro. Eu me peguei várias vezes apenas ouvindo os diálogos, admirando como a dublagem dá vida a personagens que antes existiam apenas em texto. Joe Pitts, como Ramza, trouxe exatamente o tom que sempre imaginei para o herói: ingênuo, mas determinado.
E tem algo curioso: mesmo depois de quase três décadas, o tema central do jogo continua atual. Fala sobre desigualdade, luta de classes, manipulação política e religiosa. Em 2025, esses temas ainda batem forte (e como batem forte). É incrível como um jogo pode continuar tão relevante, ainda mais com toda história recente do mundo.
Jogabilidade clássica com tempero moderno
Uma das coisas que mais amo em Final Fantasy Tactics é o sistema de classes. Desde 1997 sou obcecado em destravar cada uma, testar combinações e encontrar aquelas estratégias “quebradas” que só quem mergulha fundo no jogo descobre.
Em The Ivalice Chronicles, esse sistema continua intacto: você pode evoluir personagens em mais de 20 classes diferentes, combinando habilidades de formas quase infinitas. É nesse ponto que sinto a verdadeira mágica do jogo: quando você transforma um mercenário genérico em um ninja imbatível ou em um mago do tempo que muda o rumo da batalha sozinho.
No Switch 2, a jogabilidade continua fluida e agora temos algumas ajudas modernas. O botão de acelerar animações, por exemplo, é um alívio quando você precisa grindar habilidades.
O sistema que mostra na tela informações como chance de acerto e estimativa de dano também é excelente. Isso já existia, porém agora estão muito mais legíveis. São toques sutis que não mudam a essência, mas tornam a experiência muito mais agradável.
As batalhas continuam pequenas em escala, geralmente com cinco ou seis personagens contra oito ou dez inimigos. Mas é exatamente nesse tamanho contido que o jogo brilha.
Cada decisão importa: desde onde posicionar seu cavaleiro até o lado para o qual seu mago deve ficar virado no fim do turno. Um erro bobo pode custar uma run inteira. E, sim, ainda dói perder um personagem querido para sempre, mesmo que agora o sistema de autosave alivie um pouco esse peso.
O charme de Ivalice
Sempre fui apaixonado pelo mundo de Ivalice. Não só em Tactics, mas também em Final Fantasy XII, Vagrant Story e até nos Tactics Advance. The Ivalice Chronicles reforça isso trazendo um compêndio de lore que é viciante.
Passei muito tempo lendo a enciclopédia no jogo, conectando nomes e eventos, e lembrando como esse universo sempre foi o mais rico da franquia. É um presente para fãs como eu, que adoram mergulhar em cada detalhe.
E a direção de arte também merece destaque. A Square Enix optou por um estilo meio aquarela, meio pintura em movimento, que funciona bem no Switch 2.
Confesso que no começo estranhei, porque queria ter a opção de jogar o modo novo com os sprites clássicos. Mas com o tempo, esse estilo mais suave me conquistou. É diferente, mas respeita o espírito do original.
Basicamente pegaram a arte do jogo original e em vez de simplesmente colocarem-na em HD, refizeram com um pontilhado charmoso, mantendo ali a essência do jogo original.
O que falta
Nem tudo é perfeito. Algumas classes extras de War of the Lions, como Dark Knight e Onion Knight, ficaram de fora. Não são essenciais, mas como fã eu queria ter tudo reunido aqui.
Também senti falta de poder alternar entre o visual clássico e o novo dentro da mesma versão, sem precisar voltar ao modo “original” que vem incluso. Para uma edição que se propõe a ser definitiva, esses detalhes fazem falta.
Ainda assim, o saldo é extremamente positivo. A dublagem, a tradução repensada, os ajustes na interface e as opções de dificuldade fazem The Ivalice Chronicles ser, de longe, a melhor forma de jogar Final Fantasy Tactics em 2025.
E a versão do Nintendo Switch 2 ainda traz o prazer de poder jogar em qualquer lugar (assim como no Steam Deck). É bom demais poder jogar enquanto enfrento uma fila ou aguardo a chegada de um lanche.
Veredito
Como fã que acompanha Final Fantasy Tactics desde 1997, digo sem medo: The Ivalice Chronicles é tudo o que eu queria. Reencontrar Ramza e Delita no Nintendo Switch 2 foi emocionante. Ver o sistema de classes em toda sua glória, agora com pequenos ajustes de qualidade de vida, só reforçou meu amor por esse jogo.
É um clássico refeito com carinho. Tem falhas, sim, mas nada que apague o brilho de um dos melhores RPGs táticos da história. Para quem nunca jogou, é a chance perfeita de conhecer. Para quem já é fã, como eu, é quase um presente: poder revisitar um mundo que marcou minha vida gamer e sentir que ele continua vivo.
Não é só um remaster. É a celebração de um dos jogos mais importantes já feitos. E no Switch 2, ficou ainda mais especial.