REVIEW

REVIEW | Shinobi: Art of Vengeance — um retorno lendário com combate visceral

Testei Shinobi: Art of Vengeance no PC e encontrei um reboot que mistura combate criativo, exploração recompensadora e trilha sonora impecável. Visual incrível e ação constante, mas com narrativa simples e estágios longos.

Leitura: 9 Minutos
REVIEW | Shinobi: Art of Vengeance — um retorno lendário com combate visceral

Voltar ao universo de Shinobi depois de tantos anos foi quase como reencontrar um velho amigo. Dei start no jogo no Steam com uma mistura de expectativa e receio. Logo nos primeiros minutos, percebi que Shinobi: Art of Vengeance não é só um reboot: é um recomeço grandioso, daqueles que sabem respeitar o passado e, ao mesmo tempo, ditam um novo futuro.

O jogo me coloca na pele de Joe Musashi, lendário líder do clã Oboro, agora vivendo um raro período de paz. Isso até que Lord Ruse e sua corporação E.N.E. chegam para varrer tudo do mapa, transformando a vila e praticamente todo o clã em pedra. É o tipo de premissa simples que serve de gatilho para algo maior. Não precisei de uma narrativa complexa para sentir o peso da vingança, mas confesso que queria mais profundidade nos aliados que conheci ao longo da jornada.

Uma nova alma para o gameplay clássico

Logo no primeiro combate, percebi como a Lizardcube evoluiu a fórmula. A sensação é quase de estar jogando um character action game moderno, mas sem perder o DNA clássico. Os controles são rápidos, responsivos e me deixaram experimentar com combos desde o início. Entre ataques leves e pesados, desbloqueando novas habilidades, fui aprendendo a conectar movimentos de maneiras que lembram títulos como Devil May Cry, mas mantendo a essência do Shinobi.

O ponto alto para mim foi o dash cancel. Cancelar qualquer golpe para deslizar e recomeçar uma sequência dá uma fluidez absurda ao combate. Somado aos arremessos de kunai, que alimentam a barra de execução dos inimigos, cada encontro se torna uma dança sangrenta. É viciante testar quantos oponentes consigo executar simultaneamente para ganhar mais recompensas. A cada luta, parecia que o jogo me desafiava a ser mais criativo.

Estratégia e estilo na ponta da lâmina

Por mais rápido e dinâmico que o combate seja, Shinobi: Art of Vengeance me forçou a pensar. Executar inimigos rende mais moedas, vida e kunai, mas exige expor-se ao risco. Aprendi que matar rápido nem sempre é a melhor escolha. Esse equilíbrio entre estilo e estratégia deixou cada encontro memorável, especialmente nas arenas de desafio onde ondas de inimigos aparecem.

O arsenal cresce com o tempo: os Ninpo oferecem habilidades mágicas, como rajadas de fogo e escudos aquáticos, enquanto os Ninjutsu são técnicas devastadoras que só ativam com a barra de raiva cheia. Usei bastante o Fire Breathing Ninpo para eliminar hordas menores, mas quando os chefes entravam em cena, nada substituía um bom curativo instantâneo ou aquele ataque em área que limpa a tela.

Ainda assim, a quantidade de sistemas pode assustar no começo. Por sorte, não precisei dominar tudo: dominar dois ou três combos e entender o timing dos Ninpo foi o suficiente para me divertir desde cedo.

Uma jornada entre segredos e cenários deslumbrantes

Algo que me surpreendeu foi a variedade dos estágios. As primeiras fases já me jogaram de volta à vila Oboro, com suas lanternas tremulando ao vento, mas logo me vi escalando os prédios de uma Neo City repleta de luzes neon, deslizando por desertos carmesim e explorando uma base subaquática misteriosa. Cada cenário parece cuidadosamente pintado à mão, e isso mantém a sensação de frescor a cada nova área.

Explorar vai além do visual: o jogo recompensa a curiosidade. Descobri Relíquias Oboro, usadas para desbloquear itens raros na loja, e Rifts, portais que levam a desafios brutais. Confesso que alguns desses testes exigiram dezenas de tentativas, mas completar cada um traz aquela satisfação que só jogos bem pensados entregam.

A estrutura das fases lembra um pouco um mini Metroidvania. Alguns caminhos ficam bloqueados até você conquistar habilidades específicas, como a garra de escalada ou o planador. Não é necessário revisitar tudo, mas para quem busca 100% de completude, voltar a estágios antigos se torna quase obrigatório. Ainda bem que existe viagem rápida entre checkpoints, o que torna o processo bem menos cansativo.

Visual e direção artística impecáveis

A Lizardcube se superou aqui. Eu já admirava o estilo visual de Streets of Rage 4 e Wonder Boy: The Dragon’s Trap, mas Shinobi: Art of Vengeance leva isso a outro nível. Cada detalhe, dos cenários aos inimigos, parece feito para ser contemplado. Algumas animações perdem um pouco de definição em cortes de câmera mais próximos, mas, no geral, é difícil não parar para apreciar cada quadro.

O uso de uma câmera dinâmica aumenta a sensação de imersão: ela se aproxima para destacar animações detalhadas e se afasta para revelar panoramas impressionantes, como a vista da Neo City sob chuva pesada, repleta de referências à SEGA clássica. É um trabalho visual que consegue equilibrar nostalgia e modernidade de forma quase perfeita.

E a mistura de 2D com 3D nos cenários e personagens ficou impecável.

Trilha sonora de mestres

A trilha sonora merece um parágrafo à parte. Os lendários Yuzo Koshiro (Shinobi, Streets of Rage) e Tee Lopes (Sonic Mania) criaram uma mistura de sintetizadores retrô e batidas modernas que simplesmente não sai da cabeça. Cada fase tem uma identidade sonora única, reforçando a ambientação e o ritmo da ação. Já salvei mentalmente a playlist para o dia que ela cair no Spotify.

O resultado final é um espetáculo audiovisual: cada batalha, cada salto e cada exploração são embalados por uma produção artística e sonora que respeita o passado, mas brilha no presente.

Uma história funcional, mas esquecível

A narrativa tenta dar mais profundidade ao universo de Shinobi, mas acaba funcionando mais como um pano de fundo para a ação. O clã Oboro está em ruínas, Joe Musashi busca vingança, e a E.N.E. Corp ameaça o mundo com ambições de dominação global. É uma trama direta, que cumpre seu papel, mas não chega a empolgar.

Gostaria de ter visto mais desenvolvimento nos aliados de Joe. Apesar de existirem personagens interessantes, suas histórias são breves e pouco exploradas. Joe sequer tem falas — o que até reforça seu perfil clássico, mas limita a conexão emocional. A sensação geral é que a narrativa ficou em segundo plano, o que pode frustrar quem esperava uma expansão mais ousada.

E claro: isso pode ser melhorado em um Shinobi 2, 3, 4…

Modos extras e fator replay

Depois de terminar a campanha principal, que durou cerca de 15 horas, ainda encontrei motivos para continuar jogando. O Arcade Mode adiciona um desafio interessante, exibindo pontuação e tempo para cada fase, enquanto o Boss Rush coloca todos os chefes em sequência, testando reflexos e domínio do combate.

A exploração de 100% também prolonga a experiência. Caçar relíquias, amuletos e completar os Rifts pode ser recompensador, mas aqui encontrei um problema: o mapa. Apesar de marcar áreas secretas, ele não atualiza corretamente após coletar os itens, o que torna a limpeza completa um processo confuso.

Shinobi: Art of Vengeance e o peso do legado

É impossível jogar Shinobi: Art of Vengeance sem pensar no impacto que essa franquia teve nos anos 80 e 90. A Lizardcube conseguiu a proeza de modernizar os sistemas de combate, direção artística e ambientação, ao mesmo tempo que preserva a identidade da série.

A experiência do jogo é viciante. Cada confronto é um convite para experimentar novas combinações, abusar do dash cancel e sentir o peso de cada golpe. A trilha sonora impecável e os visuais estonteantes tornam o pacote ainda mais memorável.

Veredito

Shinobi: Art of Vengeance não só honra a franquia, como a eleva para um novo patamar técnico e artístico. O combate é profundo, responsivo e incrivelmente satisfatório. A exploração oferece recompensas reais, e os modos extras mantêm a longevidade do jogo. Por outro lado, a narrativa rasa, o mapa confuso e algumas colisões estranhas impedem que ele seja perfeito.

Nota final: 9/10

Se você é fã de ação 2D com toques modernos, este é um retorno triunfante que não pode ser ignorado. Para mim, a SEGA acertou em cheio.

Rômulo Justen
Rômulo Justen

Editor de Games

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.