Review | Super Mario Galaxy + Super Mario Galaxy 2

Há algo quase poético em revisitar um jogo que marcou um período de minha vida.
Não é apenas nostalgia — é uma espécie de reencontro. A sensação de retornar a um universo que você achava conhecer de cor, mas que, com novos olhos e nova tecnologia, parece ainda mais vasto e cheio de detalhes que antes haviam passado despercebidos.

Foi exatamente isso que senti ao mergulhar novamente em Super Mario Galaxy e Super Mario Galaxy 2, agora relançados no Switch (e compatíveis com o Switch 2).

Esses dois títulos, originalmente lançados entre 2007 e 2010 no Wii, representam o auge criativo da Nintendo em plataforma 3D. E revisitá-los agora — com visuais retrabalhados, texturas em alta definição e pequenas, mas cruciais melhorias de jogabilidade — é como abrir uma cápsula do tempo polida à mão. Tudo o que fazia desses jogos especiais continua lá, só que mais nítido, mais acessível e mais emocional.


Um reencontro com o impossível

Quando Super Mario Galaxy chegou em 2007, ele redefiniu o que um jogo de plataforma podia ser. O conceito de gravidade esférica, de correr e saltar em torno de pequenos planetas flutuantes, era algo quase impensável para a época. Hoje, com hardware mais potente e telas de alta definição, o impacto técnico já não é o mesmo — mas a genialidade de design ainda impressiona.

É fascinante perceber como a Nintendo, com limitações do Wii, conseguiu criar um senso de imersão cósmica que muitos jogos modernos ainda não alcançam. Cada galáxia é uma microaventura, uma mistura de experimentação e pura alegria. E o mais bonito é que esse sentimento ainda sobrevive intacto. Mesmo 18 anos depois, Galaxy continua divertido só pelo ato de se movimentar.

Mario corre, gira e pula com a mesma fisicalidade encantadora, agora suavizada por 60fps estáveis e uma nitidez que revela detalhes antes invisíveis — como o brilho das estrelas refletindo no capacete do protagonista ou o leve movimento das pétalas no “planetinha de rosas”.


Entre a leveza do primeiro e a precisão do segundo

O primeiro Galaxy é quase contemplativo. Tem ritmo, respiração e atmosfera. Rosalina e seu observatório funcionam como um ponto de calma entre as missões — uma pausa no meio do caos cósmico. É um jogo que não apenas diverte, mas acolhe. A música orquestrada, com seus crescendos e momentos de silêncio, ainda arrepia. Cada planeta parece pintado com intenção. Cada salto tem propósito.

Galaxy 2, por outro lado, é o contraponto perfeito: mais direto, mais desafiador, e muito mais focado no “design puro”. Ele substitui o hub central por um mapa linear e transforma cada fase em um laboratório de ideias. Nada dura mais do que precisa — o que é ótimo. Se uma mecânica brilha por alguns minutos, o jogo não a estende por obrigação. Ele simplesmente a deixa ir e te apresenta outra ainda melhor. É como folhear um livro de experiências de gameplay onde cada página traz uma surpresa nova.

A inclusão de Yoshi é um charme extra. Ele não está em todos os níveis, mas quando aparece, transforma completamente a dinâmica. Seja balançando em flores suspensas no vácuo, seja engolindo inimigos e disparando projéteis, o dinossaurinho é o tipo de adição que reforça o que a Nintendo faz de melhor: brincar com o próprio conceito de diversão.


Remaster de verdade — e não só de nome

Essas novas versões de Galaxy e Galaxy 2 são o que 3D All-Stars deveria ter sido. Enquanto a coletânea de 2020 parecia um port preguiçoso, este pacote mostra um trabalho real de remasterização. As texturas foram refeitas com cuidado, os modelos receberam melhorias visuais sutis, e o resultado final é um jogo que se mantém fiel ao estilo original sem parecer envelhecido.

Rodando em 1080p no modo portátil e até 4K no Switch 2 em modo TV, o conjunto impressiona. A iluminação é mais suave, os reflexos são mais precisos e os cenários brilham como nunca. Há momentos — como a travessia da Space Junk Galaxy — em que a combinação de cor, música e fluidez cria algo que beira o sublime.

Mas nem tudo é perfeito: as geometrias antigas ainda entregam a idade do jogo em alguns ângulos. Em cenas de aproximação, o modelo de Mario revela texturas planas e costuras visíveis entre o tronco e as pernas. É o preço de ser uma restauração fiel — e não uma reconstrução.


Controles e jogabilidade: a gravidade se ajusta

O controle por movimento foi um divisor de águas no Wii — e também uma barreira.
No Switch, a Nintendo parece finalmente ter encontrado o equilíbrio certo. O ponteiro agora funciona via giroscópio, seja nos Joy-Cons, seja nos sensores do próprio console, e o resultado é natural.

Em modo portátil, o sensor substitui o toque de tela, e embora eu tenha me sentido meio ridículo girando o console de um lado pro outro, é infinitamente melhor do que interromper o fluxo do jogo para tocar na tela.

Ainda há limitações — o jogo não permite mapear o ponteiro no segundo analógico, por exemplo, algo que facilitaria muito a vida de quem joga, tanto na TV quanto no portátil — mas o conforto geral aumentou consideravelmente. A resposta dos comandos está mais precisa e o delay praticamente desapareceu.

A física, por sua vez, permanece impecável: o pulo duplo continua intuitivo, o giro continua satisfatório e o momentum de Mario segue sendo uma das coisas mais prazerosas já criadas no gênero.


Extras e novidades: pequenos toques, grandes emoções

Além da remasterização visual, as duas edições trazem pequenas adições que reforçam o valor histórico do pacote.
Há suporte a Amiibos — que, embora pouco relevante, é simpático — e novos capítulos no Rosalina’s Storybook, além de uma nova coletânea de contos em Galaxy 2 protagonizada por dois Lumas gêmeos.

Esses acréscimos, por menores que pareçam, elevam o conjunto. O Storybook de Rosalina já era um dos momentos mais emocionantes da série Mario, e ver sua história expandida com delicadeza mostra que a Nintendo ainda respeita o poder narrativo da simplicidade. São trechos curtos, mas carregados de humanidade. E isso, em um jogo sobre saltar entre planetas, é bonito demais.


Som, direção artística e a assinatura Nintendo

Se o visual é o corpo, o som é a alma. E em Galaxy, essa alma é sinfônica. A trilha orquestrada, agora remasterizada com clareza cristalina, é uma das melhores já compostas para um jogo da Nintendo. O tema principal de Galaxy 2 — com sua mistura de otimismo e melancolia — continua perfeito.

Há algo de cinematográfico em ver Mario flutuando no espaço enquanto cordas e metais explodem no fundo. Poucos jogos traduzem o sentimento de “descoberta” de forma tão literal.

Mas talvez o mais impressionante seja como a direção artística envelheceu bem. Mesmo com hardware limitado, Galaxy sempre se apoiou em cores, formas e ritmo, e não em realismo.

Essa direção de arte que acompanha os jogos de Super Mario é o que torna possível um relançamento tão vibrante quase duas décadas depois. Em um mundo saturado de texturas fotorrealistas e clones sem alma, Galaxy ainda parece arte pura.


VEREDITO

Revisitar Super Mario Galaxy e Galaxy 2 em 2025 é mais do que jogar de novo: é entender por que esses jogos continuam sendo referência. Eles não apenas sobreviveram ao tempo — eles o desafiaram.

O novo pacote para Switch / Switch 2 é uma carta de amor ao design de jogos, à música e à emoção de descobrir algo novo em algo velho. É um lembrete de que, por mais que a tecnologia avance, o coração de um bom jogo continua sendo o mesmo: diversão genuína, movimento, descoberta.

Sim, poderia haver mais opções de controle. Sim, o preço é alto. Mas quando o primeiro acorde de orquestra toca e Mario salta rumo às estrelas, tudo isso desaparece. O universo parece mais bonito do que nunca — e o sentimento, mais sincero do que antes.

Nota final: 9/10

Rômulo Justen
Rômulo Justen

Editor de Games

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.