Prince of Persia

REVIEW | The Rogue Prince of Persia — um roguelike ousado e veloz

Joguei The Rogue Prince of Persia e encontrei um roguelike ágil, com combate criativo, parkour preciso, arte deslumbrante e progressão justa. Simples na narrativa, mas profundo na jogabilidade.

Leitura: 9 Minutos
REVIEW | The Rogue Prince of Persia — um roguelike ousado e veloz

Voltar ao universo de Prince of Persia nunca foi tão inesperado. Depois de anos de experimentações, The Rogue Prince of Persia chega com uma proposta ousada: transformar o clássico em um roguelike 2D cheio de mobilidade, parkour e combate frenético. E posso dizer logo: funciona. A sensação é de novidade, mas ainda com a alma da série intacta.

A história começa com Ctesiphon, a lendária capital persa, devastada pela invasão dos hunos e pela magia sombria do xamã Nogai. No meio do caos, o príncipe cai em batalha, mas renasce graças ao poder da misteriosa Bola, um artefato que o mantém em um ciclo interminável de vida e morte. Essa justificativa narrativa se integra perfeitamente ao loop roguelike, deixando cada nova tentativa com peso e significado.

Combate ágil e rápido como a luz

O que realmente me prendeu foi o sistema de combate. A primeira vez que conectei um combo aéreo usando saltos, chutes e ataques encadeados percebi o quanto o jogo valoriza mobilidade e criatividade. A cada arena, precisei pensar rápido, reagir melhor e improvisar.

O príncipe tem à disposição um conjunto amplo de movimentos: ataques leves e pesados, chutes acrobáticos, desarmes no ar e golpes que podem ser combinados de maneiras infinitas. Some a isso a liberdade de integrar o parkour durante o combate, e cada confronto se transforma em uma coreografia caótica que lembra uma mistura de Dead Cells com Katana Zero.

Outro ponto que me surpreendeu foi a diversidade de armas e ferramentas. Cada run começa com opções aleatórias, o que muda radicalmente a forma de jogar. Testei de tudo: do Caestus, que aposta em combos críticos e curtos, até lanças de longo alcance para manter os inimigos afastados. Essa alternância obriga a experimentar builds diferentes e dá ao jogo uma longevidade impressionante.

Medalhões e builds personalizadas

Os medalhões são outro sistema que merece destaque. Eles funcionam como perks passivos, alterando desde o ganho de recursos até efeitos únicos nos combates. Alguns são diretos e simples, outros trazem riscos claros para recompensas ainda maiores. Foi difícil não repensar toda a minha abordagem cada vez que encontrava um medalhão raro, ajustando a build para explorar ao máximo o potencial da run.

Também há algo de viciante no loop de progressão. O sistema incentiva testar combinações, intercalar armas e buscar sinergias criativas. Um simples ajuste no loadout pode mudar completamente o ritmo da jogada, e essa liberdade é um dos pontos mais fortes do jogo.

Progressão justa e recompensadora

Aqui, a Evil Empire acertou em cheio. Cada derrota trouxe aprendizado, mas também recompensas. Soul Cinders, pontos de habilidade e desbloqueios permanentes tornam cada tentativa significativa. É possível usar os altares para armazenar esses recursos com segurança, mas também há a opção de quebrá-los para multiplicar os ganhos com alto risco de perder tudo. Essa escolha constante entre garantir ou arriscar adiciona tensão real ao progresso.

O que mais gostei é que, mesmo quando a sorte não favorece, o jogo não pune. A habilidade do jogador dita o avanço. Com treino, mesmo runs menos favorecidas viram histórias de superação. Essa sensação de evolução constante me fez perder a noção do tempo.

Exploração recompensadora e biomas vibrantes

Se o combate é viciante, a exploração é igualmente satisfatória. Cada bioma apresenta um design único, com variações significativas em inimigos, armadilhas e recompensas. Passei por mercados vibrantes, templos tomados pela magia sombria e becos estreitos onde cada salto parecia decisivo.

Alguns desses cenários escondem missões secundárias, como resgatar membros da família do príncipe ou recuperar artefatos antigos. Esses objetivos, muitas vezes, exigem viajar entre diferentes zonas, criando uma sensação de interconexão rara para o gênero. Saber que cada run pode revelar novos segredos me manteve motivado a explorar cada canto.

Além disso, os altares de Soul Cinders adicionam uma camada extra de estratégia. Sempre me vi dividido entre depositar os recursos para garantir upgrades futuros ou destruí-los para multiplicar os ganhos imediatos, correndo o risco de perder tudo caso morresse. Essa dinâmica faz cada exploração carregar mais peso e significado.

Parkour impecável e sensação de liberdade

O parkour é, sem dúvida, o coração pulsante do jogo. Cada movimento do príncipe transmite fluidez e precisão, transformando cenários complexos em playgrounds verticais. Aprender a conectar corridas em parede, saltos de vara, chutes encadeados, escorregadas e ataques aéreos se tornou tão natural que comecei a encarar o próprio deslocamento como uma forma de combate.

A mecânica Vayu’s Breath foi outro detalhe que adorei. Realizar combos de movimentos bem cronometrados aumenta a velocidade, melhora as animações e recompensa o domínio da mobilidade. A cada run, me senti mais ágil, e dominar essa cadência tornou o jogo ainda mais gratificante.

Arte deslumbrante com inspiração única

Visualmente, The Rogue Prince of Persia é impressionante. A combinação de foregrounds 3D com cenários 2D pintados à mão cria um resultado visual inspirado, quase como páginas vivas de uma graphic novel. Os traços remetem à estética do lendário ilustrador Moebius, com um uso de cores vibrantes e iluminação dinâmica que transforma cada bioma em uma peça de arte.

Além disso, o design dos inimigos é funcional e estilizado. Silhuetas marcantes e animações distintas facilitam a leitura visual, mesmo em batalhas caóticas. Em várias ocasiões, parei no meio de uma arena só para observar os detalhes ao fundo — um raro equilíbrio entre jogabilidade e contemplação.

Trilha sonora envolvente

A trilha sonora, composta por ASADI, complementa essa estética com perfeição. A fusão entre instrumentos persas tradicionais e batidas eletrônicas modernas cria uma identidade sonora única, variando entre tensão e leveza de forma orgânica.

Cada bioma tem uma assinatura própria, reforçando sua atmosfera. Nas ruas de Ctesiphon, os arranjos percussivos transmitem urgência; nos templos ocultos, melodias mais etéreas criam um clima misterioso. Essa integração entre som, arte e gameplay eleva a experiência para um patamar quase cinematográfico.

Uma narrativa simples que serve ao propósito

A história de The Rogue Prince of Persia tem um papel funcional, mas não tenta roubar a cena. O enredo gira em torno da luta para salvar Ctesiphon da invasão dos hunos, liderados pelo xamã Nogai e sua magia sombria. O uso da Bola, que permite ao príncipe ressuscitar após a morte, é uma solução elegante para justificar o ciclo roguelike.

Apesar disso, senti falta de um desenvolvimento maior dos personagens secundários e dos laços pessoais do príncipe. Há missões para resgatar familiares e ajudar NPCs, mas elas são breves e deixam a sensação de que havia espaço para mais profundidade narrativa. Ainda assim, para quem busca ação e fluidez, o foco em gameplay compensa a simplicidade da trama.

Modos extras e fator replay

Concluir a primeira run não significa encerrar a jornada. O sistema de Awakenings adiciona modificadores de dificuldade que podem ser habilitados ou combinados para criar desafios personalizados, recompensando com novos recursos e pontos de habilidade. Essa liberdade para moldar a intensidade do jogo foi um dos aspectos que mais gostei.

Além disso, o desbloqueio de skins, armas e medalhões mantém o fator replay sempre alto. Testar combinações de builds é divertido e, com cada tentativa, há a sensação de evolução constante. Mesmo após várias horas, ainda encontrei motivos para voltar e experimentar novos estilos.

O legado reinventado

O que mais me impressiona é como o jogo consegue respeitar a essência da franquia e, ao mesmo tempo, reinventá-la. A série sempre foi sinônimo de movimento fluido, e aqui isso atinge outro nível com o parkour integrado ao combate. A Evil Empire conseguiu modernizar a fórmula sem descaracterizá-la, trazendo um ritmo de jogo que dialoga tanto com fãs antigos quanto com novatos.

Há, claro, algumas limitações: a variedade de inimigos poderia ser maior, e certos biomas repetem elementos visuais após muitas runs. Porém, o loop central é tão viciante que essas questões se tornam secundárias.

Veredito

The Rogue Prince of Persia é uma das melhores surpresas recentes entre os roguelikes. Combate dinâmico, parkour fluido, progressão recompensadora e direção artística inspirada se combinam para criar uma experiência difícil de largar. Apesar da narrativa simples e de algumas repetições, o resultado final é envolvente e viciante.

Se você busca ação 2D intensa, mobilidade criativa e desafios configuráveis, este jogo é praticamente obrigatório.

Nota final: 9.0/10

E você, está pronto para enfrentar os hunos e salvar Ctesiphon, ou prefere esperar pelo próximo capítulo da franquia?

Rômulo Justen
Rômulo Justen

Editor de Games

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.