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Xbox celebra 10 anos do primeiro jogo lançado para o console

Reveja os 10 anos de Aritana e a Pena da Harpia no Xbox One e saiba mais sobre sua produção e impacto no Brasil.

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Xbox celebra 10 anos do primeiro jogo lançado para o console

Aritana e a Pena da Harpia chegou ao Xbox One em 9 de setembro de 2015. Nesse dia, o game de plataforma desenvolvido pelo estúdio Duaik Entretenimento entrou para a história de Xbox como o primeiro game brasileiro lançado como parte do programa ID@Xbox no console.

Dez anos depois, conversamos com os irmãos Persis e Ricardo Duaik, dois dos responsáveis pelo game, para relembrar essa uma década de Aritana, as curiosidades da produção do jogo e como, até hoje, o lançamento em Xbox deixou marcas positivas no cenário de games no país.

“O Aritana ter sido lançado no Xbox mudou a nossa vida, foi um divisor de águas.” – Persis Duaik

Aritana e a Pena da Harpia é um jogo de plataforma em que controlamos o garoto indígena que dá nome ao título e que parte em uma aventura para salvar sua tribo de espíritos malignos.

Esse foi o primeiro jogo comercial da Duaik Entretenimento e as inspirações estão bem claras nos jogos clássicos na era 16-bit.

Curiosidade

Aritana seria baseado na cultura e costumes do povo indígena Xingu, nos mesmos moldes do indie Never Alone com os povos nativos do Alasca. As conversas com os Xingu, no entanto, não foram para frente.

Os irmãos Duaik citam especialmente a trilogia Donkey Kong Country, desenvolvidos pela Rare nos anos 90, como referência, além de certas, digamos, limitações técnicas.

“Sabe por que Aritana é um jogo 2D? Porque a gente não sabia programar movimentação. Ninguém sabia programar direito na época”, revela Persis Duaik, que tem formação em Economia e aprendeu a programar enquanto desenvolvia o game. “A movimentação de todos os inimigos em Aritana são equações do segundo grau, porque era o que a gente sabia fazer na época”.

No jogo em si, porém, o que se sobressai até hoje não são eventuais limitações técnicas, e sim as características que o tornam um interessante jogo de plataforma com sabor brasileiro, com elementos como sementes de guaraná, amuletos muiraquitã e o grande antagonista do jogo sendo a figura mitológica do Mapinguari.

Artes conceituais para o Mapinguari no jogo
Arte conceitual da primeira fase do jogo

A jogabilidade de Aritana também permanece atrativa 10 anos depois, trazendo personalidade e inovação para a experiência de jogo. O maior exemplo disso é o cajado – a arma que controla a mecânica de “posturas” do protagonista. São essas posturas que definem atributos como velocidade, pulo, ataques e habilidades especiais para superar os obstáculos do game.

“A gente gosta muito [da ideia] de pegar uma única mecânica e destrinchar ela ao máximo”, afirma Ricardo Duaik. “No Aritana, essa mecânica é o cajado, então toda a jogabilidade é envolta disso: o controle, os combos, tudo é voltado para um tipo de mecânica.”

Estudos para criar o cajado de Aritana

Já outro aspecto que não podemos deixar de falar em Aritana são seus controles diferenciados.

Uma questão de controle

Jogar Aritana e a Pena da Harpia é se deparar com uma configuração de controle que foge do padrão e, por isso mesmo, se destaca.

Curiosidade

Todo os meses, pelo menos uma cópia de Aritana ou da constinuação Twin Masks é vendida no Xbox. Ao invés de seguir uma configuração tradicional – por exemplo, o pulo no botão A – o ato de pular é acionado pelo gatilho RT e os golpes são feitos movimentando o analógico direito.

Jogo Aritana e a Pena da Harpia

Ricardo Duaik diz que o time testou diversos esquemas de controle, inclusive algo mais padrão de jogos de plataforma, mas que todos eles tiravam o fluir da jogabilidade que eles estavam buscando, porque o jogador fazia um malabarismo com os dedos.

No final, o que está no jogo foi o que eles se sentiram mais confortáveis e responsivos.

“O controle vai fazer muito sentido lá no final e isso é um pouco difícil de explicar na jogabilidade do Aritana no início, mas quando você está jogando as últimas fases, com todos os golpes liberados, você percebe o intuito dos controles, de não tirar os dedos dos botões”, explica Ricardo.

O fato é que, no lançamento, os controles foi assunto de debates entre os jogadores, mas que o tempo provou ser um diferencial que traz personalidade ao game hoje em dia. Ainda assim, passados 10 anos, fica a pergunta: eles fariam diferente?

“Na verdade, a gente fez diferente… no Aritana 2”, responde Persis, citando a continuação Aritana and the Twin Masks, jogo de aventura 3D lançado em 2019, com controles mais convencionais e que ganhou pouca repercussão. “A gente fez novas escolhas e comprovou que deveríamos ter seguido aquilo que a gente acreditava”.

O lançamento no Xbox

Aritana e a Pena da Harpia chegou ao Xbox pouco mais de um ano depois do lançamento original para PC, via Steam, mas até hoje o jogo é mais associado à marca Xbox, tanto pelos jogadores quanto pelo próprio time da Duaik.

Curiosidade

Imagem de um prêmio que que Aritana ganhou por ter sido o primeiro jogo brasileiro no Xbox

Aritana ganhou o prêmio “Inaugural Brazilian ID@Xbox Developer” pelo lançamento no Xbox.

“Foi no lançamento no Xbox que o Aritana fez um barulho maior, porque no lançamento no Steam foi bem morno”, revela Ricardo Duaik.

Claro, há o peso dele ter sido o primeiro jogo brasileiro no console, só que mesmo isso não foi algo que aconteceu por acaso para Aritana, porque há nessa decisão muito de uma visão de negócios e de mercado pelos Duaik.

Persis relembra como se aproximou de Xbox na época e descobriu que ainda não havia nenhum estúdio do Brasil como parte do programa de incentivo de desenvolvedores independentes da empresa, o ID@Xbox, que na época ainda estava em seus primeiros anos.

Logo, tanto a Duaik quanto Xbox perceberam o quanto daria certo trabalharem juntos. “A partir daí o Aritana começou a existir e se desenvolver junto com Xbox”, diz o desenvolvedor.

“O Aritana foi muito importante com o contexto de Xbox porque todo mundo estava trabalhando para empoderar o Brasil no momento.”

Para eles, a parceria com Xbox foi a decisão mais acertada que tiveram com Aritana, e algo que hoje, olhando para trás, fica mais evidente.

Xbox investiu no Aritana, levaram o jogo para a [mais relevante feira de games do mundo, hoje extinta] E3. Aqui no Brasil, todos os eventos que a gente ia, a gente falava de Xbox, do programa ID@Xbox, e isso sem eles pedirem, porque pra gente era um motivo de orgulho, de saber que a gente podia, de certa forma, mudar o contexto da indústria de games” – Persis Duaik

E como mudaram. Aritana e Pena da Harpia abriu as portas para jogos indies brasileiros no Xbox, o que resultou em dezenas de ótimos títulos apoiados por ID@Xbox desde então, de Unsighted a Mullet Madjack, passando por Blazing ChromeDodgeball AcademiaPocket Bravery e tantos outros, além de futuros lançamentos como One Beat MinGhetto Zombies (saiba mais aqui), Mark of the Deep e Master Lemon.

Time de desenvolvimento original de Aritana e a Pena da Harpia, da esquerda para direita: Ricardo Duaik, Vitor Otonni, Rafael Moraes e Persis Duaik. Créditos: arquivo pessoal

Curiosidade

Após a repercussão do lançamento do Aritana no Xbox, a Duaik iniciou um processo de internacionalização do estúdio, o que fez com que Persis Duaik se mudasse para o Reino Unido, onde mora até hoje.

Nos 10 anos do lançamento do primeiro jogo brasileiro no Xbox, o legado que Aritana deixou para a indústria de games no Brasil ainda é sentida e lembrado – pelos jogadores e pelas pessoas que o criaram.

Aritana e a Pena da Harpia está disponível no Xbox Series X|S por meio da retrocompatibilidade do Xbox One.

Imagem do jogo Aritana e a Pena da Harpia

Fonte

Rômulo Justen
Rômulo Justen

Editor de Games

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.

Jornalista que compila código e combos: troca bugs por chefões desde o Atari 2600. Agora farma XP em action‑RPGs com o filho Noah, sem perder o buff do café.