Gastronomia

De Alisson Becker a Totti: chef capixaba leva moqueca à elite do futebol

Roseli Schwartz saiu de Vila Velha há mais de 20 anos e conquistou atletas italianos e brasileiros com a culinária capixaba

Leitura: 5 Minutos
A chef capixaba Roseli Schwartz com os jogadores Alisson Becker e Francesco Totti (Foto: Divulgação)
A chef capixaba Roseli Schwartz com os jogadores Alisson Becker e Francesco Totti (Foto: Divulgação)

Mesmo há duas décadas em Roma, Roseli Schwartz nunca deixou de carregar consigo os sabores do Espírito Santo. A chef capixaba saiu de Vila Velha em 2005 com um plano simples: trabalhar um tempo na Itália, juntar dinheiro e realizar o sonho de dar uma casa para a mãe.

O que seria uma temporada curta acabou virando uma vida inteira em Roma, onde ela se tornou referência gastronômica e cozinhou para nomes como Alisson Becker, goleiro da seleção brasileira masculina de futebol, Francesco Totti, ídolo da Roma, e o ex-zagueiro Juan Santos, que atuou tanto no clube italiano quanto na Seleção.

Hoje, ela já não trabalha diretamente para famílias brasileiras, como fez por muitos anos enquanto o Roma contratava jogadores do Brasil.

O último foi o Roger Ibañez. Agora trabalho para um estilista italiano da alta moda e também cozinho em eventos. Inclusive, vou atender o jogador Wesley, ex-jogador do Flamengo.

Roseli Schwartz

Ao longo desses 20 anos na Itália, a capixaba estudou alta gastronomia, especializou-se em cozinha gourmet italiana e criou versões sofisticadas dos pratos brasileiros. Ela também levou a culinária capixaba a chefs italianos renomados, como Asterio Fecchi, da região da Úmbria; e Daniele Usai, do Ristoranti Il Tino, localizado em Roma.

Não existe moqueca sem panela de barro

Entre todos os pratos, a moqueca capixaba foi sua maior carta de apresentação. Um dos momentos mais marcantes aconteceu quando Roseli fez um teste para trabalhar na casa de Juan. Ela enviou três sugestões de cardápio para avaliação do craque e da esposa, Monick de Morais: comida mineira, fettuccine ao tartufo e a moqueca — e o prato típico capixaba foi o escolhido.

Roseli fez questão de levar suas panelas de barro para a Itália (Foto: Solange Souza/Divulgação)

Mas é claro que houveram desafios: as panelas de barro sempre chegavam quebradas quando alguém tentava levá-las daqui para Roma.

Minha mãe tentou levar várias vezes e todas chegaram em pedaços. No fim, tive que levar carregando como um bebê. Eu me recuso a fazer moqueca sem panela de barro.

Roseli Schwartz

A insistência valeu a pena. “Na Itália, o pouco é muito. Eles querem sentir o sabor do peixe, do azeite. A gastronomia italiana não mistura muitos ingredientes. Quando servi a moqueca, a apresentação já os encantou. Aquela fumaça, o cheiro, era alquimia. E quando sentiram o coentro com peixe, foi uma surpresa positiva. Eles adoraram e sempre pedem de novo.”

Chef dos craques

Roseli já cozinhou para Roger Ibañez, Juan Santos, Marquinho, Fábio Simplício, Daniel Osvaldo e guarda uma coleção de camisas de jogadores que já atendeu (Foto: Divulgação)

Ao longo da carreira, Roseli cozinhou para dezenas de atletas, incluindo Francesco Totti, Daniel Osvaldo e brasileiros como Alisson Becker, Juan Santos e Rafael Tolói. Muitos deles se tornaram amigos próximos.

“Na Itália, ser cozinheiro é uma questão de amor. Eu entrava na vida das famílias, ajudava a organizar a casa, ensinava italiano, indicava médicos. Era além da culinária. Eles me acolheram e eu os acolhi de volta”, contou.

Entre os momentos mais marcantes, ela cita o aniversário de 30 anos de Juan Santos, ex-zagueiro do Roma. “A esposa dele alugou um restaurante e pediu para eu preparar a festa para 120 pessoas. Era o time todo do Roma de 2013. Quando vi o Totti elogiando minha comida, fiquei emocionada. Foi uma noite inesquecível.”

Roseli guarda também um carinho especial pelo goleiro da Seleção Brasileira. “Alisson é uma pessoa extremamente doce, educada, simples e humilde. Até hoje ele me liga e, em um instante, estou cozinhando para família dele”.

Apesar da fama e do glamour dos gramados, Roseli garante que os jogadores de elite, pelo menos os que saem do Brasil, têm uma base alimentar muito próxima da mesa brasileira.

Pouca coisa muda: eles comem arroz, feijão, carne, verdura… Logo quando eles chegavam lá, eu tentava introduzir comida italiana e eles recusavam, mas depois se acostumavam. A verdade é que o arroz com feijão é fundamental.

Roseli Schwartz
Improvisos na cozinha italiana

Levar a culinária brasileira para a Europa exige criatividade e muito estudo. Ingredientes típicos, como a couve da feijoada e a carne seca, não são encontrados na Itália.

“Eu já tive que improvisar muitas vezes. Para substituir a couve, usei cavalo nero, que tem a mesma fibra e perfume do Brasil. Já a carne seca, eu consegui, depois de muito estudo, recriar usando as pontas do presunto cru de Parma. Cozinhando, ele tem a mesma consistência e dá um sabor incrível”, explica.

Roseli em Roma (Foto: Solange Souza/Divulgação)

Esse olhar atento para adaptar sem perder a essência foi o que marcou sua trajetória, tornando-se uma “embaixadora afetiva do Brasil” em Roma.

Adaptei algumas receitas ao paladar italiano, claro. Mas a alma do prato, o sentimento que ele carrega, isso eu nunca mudo. Cada prato que sirvo tem uma pitada do meu estado, da minha história, da minha raiz.

Roseli Schwartz
Maeli Rhayra, editora de entretenimento do Folha Vitória
Maeli Radis

Editora de Entretenimento e Cultura

Editora de Entretenimento e Cultura do Folha Vitória. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Editora de Entretenimento e Cultura do Folha Vitória. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).