
João Carlos Butske, de 42 anos, natural de Nova Venécia, no Espírito Santo, acaba de alcançar um feito histórico: está entre os sete finalistas de melhor padeiro do mundo.
Depois de conquistar o título de melhor padeiro das Américas em 2024/2025, ser eleito melhor padeiro e confeito do estado e estar entre os 100 melhores do Brasil, ele agora representa o país e toda a América Latina na competição internacional.
A premiação, promovida pela International Union of Bakers and Confectioners (UIBC), que será realizada durante a Feira Internacional de Panificação, Confeitaria, e do Setor de Food Service (Fipan), dos dias 22 a 25 deste mês, em São Paulo, avalia profissionais de vários continentes, incluindo Europa e Ásia.
João é o único capixaba e um dos dois brasileiros a disputar o título de Melhor Padeiro do Mundo em 2025. Sua história é marcada por superação, fé e uma dedicação de 26 anos à panificação artesanal, e tudo sempre com um toque capixaba.
Às vezes me pergunto: ‘sou eu mesmo?’ Um menino do interior, agora entre os melhores do mundo. É gratificante demais ver que o esforço de tantos anos está sendo reconhecido.
Uma história de trabalho desde a infância
Aos 9 anos, João começou a trabalhar em uma oficina mecânica. Aos 16, saiu de casa para estudar na Escola Agrotécnica Federal de Alegre (EAFA), atual Ifes, onde se formou técnico agrícola. Seu sonho era cursar Zootecnia, mas as condições financeiras da família não permitiram.
Voltei para casa porque minha família não tinha como me manter estudando fora. Minha mãe conseguiu duas vagas de emprego: uma em uma cerâmica, outra em uma padaria. Pensei que forno por forno, a padaria seria mais leve. E foi assim que tudo começou.
Em 1999, aos 17 anos, entrou na Padaria Salute, onde permanece até hoje. Sua história com a panificação começou pelas entregas. Aos 19 anos, ele entregava pães de bicicleta e nem imaginava que um dia chegaria aos sete melhores do mundo.
Dentro da padaria, ele passou por praticamente todos os cargos: entregador, ajudante de embalador, embalador, ajudante de padeiro, até virar gerente de produção. Foi nesse período que começou a estudar panificação e aplicou o que aprendeu diretamente no trabalho.
Eu ganhava R$ 270 por mês, e a mensalidade da faculdade era R$ 260. Mas mesmo assim eu fui. O estudo sempre foi minha única chance de crescer. O que eu aprendia na faculdade, tentava aplicar no dia a dia da padaria.
Em 2002, João teve a oportunidade de fazer um curso de panificação no Sindipães, em Vitória. Faltou um mês de aulas da faculdade para se dedicar ao aprendizado técnico. “Aquele curso me deu uma nova visão sobre o setor. Comecei a entender os processos e me encantar pela panificação”, contou.
Em pouco tempo, ele se tornou gerente de produção e, em 2007, foi convidado a ministrar sua primeira palestra na Acaps e na PanShow, duas das maiores feiras do setor alimentício. “Eu morava em um porão com minha esposa e minha filha, mas sentia que as coisas estavam mudando. Comecei a colher os frutos do esforço”, relembrou.
Confira algumas fotos do chef padeiro:
Receita com sabor capixaba
Com especialidade em pães de fermentação natural, sua principal criação é o Pão Rosa das Montanhas, um pão artesanal feito com fermentação natural que leva café, suco de laranja e mel. A receita é inspirada na identidade capixaba e leva três dias para ficar pronta.
O Espírito Santo está em evidência no setor de panificação. Temos uma produção forte, com bons profissionais e potencial para liderar esse cenário. Eu queria criar algo com a nossa cara, e esse pão tem alma capixaba. Demora três dias para ficar pronto, é todo feito com fermentação natural. É o pão que representa minha trajetória.