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Abandono escolar ainda acomete mais da metade das crianças moçambicanas

A Associação Vida Para África trabalha para transformar essas vidas através da educação e de oportunidades

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Para Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”, ele que é considerado o patrono da educação brasileira, fala sobre o poder de transformação por meio do ato de educar uma criança. De acordo com informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de metade das crianças desistem dos estudos antes de concluírem o 5º ano do ensino básico em Moçambique. As razões são as mais diversas, como a falta de estrutura das escolas, dificuldade de acesso ou mesmo a necessidade de substituir os estudos pelo trabalho para ajudar no sustento da família. De acordo com a UNICEF, cerca de 70% das instituições de ensino não possuem água encanada. Além disso, no nível primário, há uma média de 74 alunos atendidos por apenas um professor, entre os quais apenas 58% têm nível de formação.

Apesar das dificuldades enfrentadas, a educação no país evoluiu muito nos últimos anos. Hoje, a cada 100 crianças em idade escolar, 83 estão matriculadas, um aumento relevante quando comparado à década de 1990, em que esse número era de apenas 32 a cada 100.

A questão se torna um problema ainda maior após análise da situação da desigualdade social, já que entre as famílias mais pobres apenas 39% das meninas estão estudando, contra 52% quando se trata dos rapazes. Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) apontou que a cada 10 meninas matriculadas no ensino primário em Moçambique, apenas 1,5 ingressam no ensino secundário. Esse fato pode ser ligado diretamente ao fato de metade delas já esperarem o primeiro filho antes dos 18 anos.

A Associação Vida Para a África (AVPA), com sede em Maputo, Moçambique, trabalha para melhorar esses números e transformar vidas. De acordo com Magaly da Silva, idealizadora do projeto, a intenção é “alcançar o máximo de crianças e jovens moçambicanos, garantindo educação de qualidade e alimentação diária a eles”. A AVPA é uma organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de transformar toda uma geração, promovendo o acesso à educação com a elaboração de material didático, capacitação de professores, construção e reforma de escolas, entre outras ações.

Hercílio Chambal é um jovem moçambicano que recebeu apoio da AVPA desde o ensino fundamental e, recentemente, deu início à sua vida profissional. Hoje, com 23 anos, ele trabalha em uma oficina especializada em carros de alto padrão. “Minhas expectativas são grandes e anseio aprender ainda mais coisas e me aperfeiçoar cada vez mais. Isso tudo aconteceu graças aos estudos, pude cursar desde a 8ª Classe até meu curso técnico de Mecânica Geral, na qual a AVPA garantiu essa oportunidade”, relata.

Apesar dos dois anos de paralisação de boa parte das atividades devido às restrições sanitárias impostas pela pandemia, hoje já retomando suas ações normalmente, a Associação tem apoiado mensalmente instituições de ensino comunitário, onde dezenas de crianças, muitas delas órfãs, vêm diariamente para receber alimentação e educação. “Nosso propósito é alcançar cada vez mais crianças e adolescentes, fornecendo ensino de qualidade e todo o auxílio que for possível, para que cheguem muito mais longe através da educação, que é capaz de criar um ambiente de oportunidades e estimular a transformação de toda a sociedade por meio do desenvolvimento coletivo”, completa a idealizadora.