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Apesar de ondas recorrentes de protestos, avanços são pequenos

A tempestade perfeita nos EUA também contou com a retórica de divisão da sociedade do presidente Donald Trump e com a extensa cobertura da imprensa dos casos de racismo policial

Apesar de ondas recorrentes de protestos, avanços são pequenos Apesar de ondas recorrentes de protestos, avanços são pequenos Apesar de ondas recorrentes de protestos, avanços são pequenos Apesar de ondas recorrentes de protestos, avanços são pequenos
Foto: Reprodução / Instagram

As mobilizações dos últimos anos em casos como o de George Floyd levaram a avanços tímidos em reforma policial nos EUA. Mas, desta vez, manifestantes acreditam que não será igual.

“Há uma coalizão multirracial, que é muito mais abrangente do que em qualquer ponto da história dos EUA”, afirma Ellis Monk, do Departamento de Sociologia de Harvard. “O que mudou é que a pandemia fez os brancos perceberem o quão letal é ser negro”, afirma Alexis Hoague, professora da Universidade de Columbia e advogada ligada ao movimento por direitos civis nos EUA.

Negros são infectados pelo coronavírus, morrem e perdem empregos na crise atual em taxas muito maiores do que os brancos proporcionalmente nos EUA e no Brasil, como consequência de disparidades nos acessos a saúde, educação e mercado de trabalho.

A tempestade perfeita nos EUA também contou com a retórica de divisão da sociedade do presidente Donald Trump e com a extensa cobertura da imprensa dos casos de racismo policial.

“É um tema que vem ganhando atenção da grande mídia, que traça a conexão entre as histórias”, afirma Monk.

Para Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural, no Brasil a mídia ainda trata o assunto de maneira pontual. “Os casos são ligados a algum indivíduo ou a grupos de desajustados, seja do ponto de vista da patologia, seja do ponto de vista moral, e isso mantém o racismo brasileiro intocado.”

Da necessidade de reconhecer o efeito perverso do legado da escravidão e segregação nasceram museus nos EUA dedicados ao tema, como o imponente Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana em Washington.

“A sociedade geralmente associa as peles negra e marrom à periculosidade. Discutir a legalidade de táticas policiais é importante, mas precisamos abordar o problema real, que é o legado da escravidão”, afirma Alexis Hoague.

Para Monk, uma das dificuldades para enfrentar o racismo no Brasil é a classificação racial diferente da dos EUA: “Na mesma família as pessoas têm tons de pele diferentes e podem reivindicar categorias raciais diferentes, torna-se mais difícil nomear as fontes de desigualdade racial do que um sistema como nos EUA, onde pessoas acreditam pertencer apenas a uma ou a outra raça.”

Uma das explicações, segundo ele, está no fato de o País ter recebido número maior de africanos escravizados, o que amplia a possibilidade de miscigenação. As estimativas são de que o Brasil teria recebido 5 milhões de africanos e os EUA cerca de 300 mil.

Irapuã Santana, advogado e membro da Educafro, avalia que o problema brasileiro é mais difícil do que o americano. “Os cargos eletivos no Brasil não têm preocupação antirracista”, afirma.

Atualmente, menos de 20% dos parlamentares brasileiros se declaram negros ou pardos. Os palácios e tribunais de Brasília são ainda mais brancos.

Os EUA também patinam em tornar espaços políticos mais representativos. Mas 12% dos deputados da atual Câmara são negros – próximo à proporção de negros na população (13,4%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.