Livre Pensar com Rodrigo Medeiros: Pensamento sistêmico, riscos e oportunidades para o Brasil

ReproduçãoInformações que circulam na mídia apontam para o fato de que o governo federal se deu finalmente conta de que a crise externa chegou ao país. Segundo apontam os números, a economia brasileira mostra-se frágil à queda dos preços internacionais das commodities.

As finanças públicas brasileiras são pró-cíclicas, sua economia é “tomadora de preços” e existe ainda a perspectiva do pouso forçado chinês. Há quem fale abertamente em menos de 2% de crescimento para 2012. Existem grandes incertezas quanto ao futuro próximo, inclusive se os recentes ganhos sociais possibilitados pela relação favorável dos termos de troca da economia brasileira seriam sustentáveis em um próximo momento de agravamento da crise global.

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No dia 8 de maio do ano corrente lançamos o livro ‘O desafio do futuro: a importância do empreendedorismo no século XXI’. O lançamento ocorreu na cidade do Rio de Janeiro e contou com a presença de um expressivo público de interesse variado.

Dentre as várias reflexões propostas no respectivo livro, destaco por hora a necessidade de se incorporar institucionalmente o pensamento sistêmico ao dia a dia das decisões nas organizações. Exemplos variados foram citados e correlacionados com a teoria acadêmica, ressaltando que os processos evolutivos humanos são fenômenos multidimensionais – tecnológicos, sociais, culturais, econômicos, políticos, históricos e institucionais. Vejamos um exemplo no campo dos riscos em empreendimentos.

Pensemos no muito comentado acidente ocorrido na plataforma da BP no Golfo do México, em 20 de abril de 2010. Esse pode ser considerado o maior acidente de vazamento de óleo da história norte-americana, superando inclusive o acidente de 1989 do navio Exxon Valdez no Alasca. As causas do acidente da BP foram objeto de muitas brigas, pois as participações das empresas Halliburton e Transocean nas operações da plataforma fizeram com que houvesse inclusive o jogo de disputas fratricidas pela transferência das responsabilidades pelas falhas.

Acidentes acontecem e suas causas costumam ser múltiplas; elas podem inclusive derivar de falhas de regulação. Conforme observou Nassim Taleb, “quanto mais raro for o evento, maior será o erro na estimativa de sua probabilidade”. A distribuição gaussiana não pode garantir exatidão no cálculo das probabilidades de que eventos indesejados ocorram. Não se deve cultuar fé inabalável na autorregulação dos mercados ou na infalibilidade do Estado. O mundo se tornou um lugar cheio de incertezas e bem menos estável nos últimos trinta anos.

A dispersão geográfica da produção global de bens integra esse quadro de complexidades enfrentadas pelas organizações. São monetariamente quantificáveis efeitos de intempéries ambientais regionais na produção de componentes industriais globais, algo que mereceu matéria da revista The Economist em sua edição de 14 de jan. 2012.

Segundo consta na referida matéria, “cadeias mundiais de abastecimento industrial estavam apenas se recuperando do terremoto do Japão e do tsunami em março quando um desastre natural cortou-as novamente em outubro”. Inundações ocorreram em Bangkok, Tailândia, o que provocou inclusive uma crise política. O dilúvio de outubro de 2011 custou US$40 bilhões, o desastre mais caro da história daquele país.

Parques industriais no entorno geográfico de Bangkok estão conectados a cadeias mundiais de abastecimento de automóveis e outros setores intensivos em tecnologia. A empresa Western Digital, por exemplo, fabricante de drives de computador que possui 60% da sua produção na Tailândia, teve duas de suas fábricas fechadas por inundações. O preço dos drives subiu em decorrência. Pode-se dizer que curiosamente as inundações não representam fenômeno desconhecido em Bangkok, chamada outrora de “Veneza da Ásia” pelos europeus.

Tais desastres naturais multibilionários estão se tornando comuns. Calcula-se que seus custos econômicos foram de US$378 bilhões no ano passado, quebrando o recorde anterior de US$262 bilhões em 2005 (a preços constantes de 2011 dólares). Desastres naturais estão matando menos gente do que no passado, porém seus custos econômicos estão subindo. Tal fato ocorre porque uma parcela expressiva da população mundial e das atividades econômicas está concentrada em locais propensos a desastres naturais. Vejamos um resumo sugestivo dos acidentes.

Além das calamidades no Japão e na Tailândia, a Nova Zelândia sofreu um terremoto, ocorreram inundações na Austrália e na China, e nos EUA houve furacões, tornados, incêndios florestais e inundações. O presidente Barack Obama, por sua vez, emitiu um recorde de 99 “declarações de catástrofe” em 2011.

Imaginemos o quanto o Brasil poderia receber de investimentos produtivos estrangeiros que desejassem se realocar geograficamente no mundo para regiões livres de intempéries ambientais caso evoluíssemos em reformas institucionais progressistas nos próximos momentos. Há espaço ainda para que o câmbio sofra ajuste por conta da necessária continuidade de queda da taxa básica de juros, o que liberaria mais recursos públicos para investimentos em infraestrutura física – saneamento básico e transportes, por exemplo.

Quem sabe uma já esperada realocação geográfica de investimentos produtivos globais e o avanço de reformas institucionais domésticas que melhorem o ambiente de negócios não nos ajudassem a reduzir, ou quem sabe até eliminar, déficits comerciais em indústrias de média-alta e alta intensidade tecnológica? Essa seria muito provavelmente uma política industrial menos intervencionista e de menores custos econômicos e políticos, porém exigiria maior bom senso na condução de assuntos sul-americanos e pragmatismo estratégico nos relacionamentos políticos, financeiros e comerciais com os EUA e a China.

Rodrigo L. Medeiros (D.Sc.) é membro da World Economics Association (WEA)

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* Carlos Camargo, Fabio de Azevedo e Rodrigo Medeiros são os autores de ‘O desafio do futuro: a importância do empreendedorismo no século XXI’. Editora Batel, 2012. 128 p.

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