A face do Novo Espírito Santo

Ana Paula Vescovi

Em dez anos, o estado do Espírito Santo sofreu profundas transformações, as quais, com certeza, ainda sequer foram plenamente percebidas e incorporadas pelos capixabas.

As mais observáveis passam pelas mudanças na estrutura produtiva, decorrentes dos vultosos investimentos em ampliação de setores tradicionais e em novos setores que vieram aqui se instalar. Mas também reside na recuperação da capacidade do governo estadual em realizar investimentos com recursos próprios tanto em infraestrutura quanto nas áreas sociais. A formação de novas cadeias produtivas e o protagonismo do governo estadual nos investimentos públicos são os grandes emblemas desse período.

Os resultados dessa transformação estão registrados no aumento da renda média do capixaba#, a qual alcançou R$ 781 em setembro do ano passado. Isso corresponde à alta de 47% em relação a 2001, quando era de R$ 532. Entre 2009 e 2011 a tendência persistiu, e a renda cresceu 9,6%. Mais importante que isso foi o aumento da renda dos 10% mais pobres: entre 2001 e 2011 cresceu 141%, e entre 2009 e 2011, 19%, o que demonstra a desaceleração na margem. A renda dos 10% mais ricos cresceu em 10 anos o mesmo que a renda dos 10% mais pobres em dois anos apenas (19%), o que contribuiu para explicar a redução na desigualdade.

Como medida mais usual de desigualdade, o índice de Gini passou de 0,589 em 2001 para 0,495 em 2011, o que equivale à queda de 16% no grau de concentração de renda. Essa queda tirou o Espírito Santo da posição de estado mais desigual da Região Sudeste.

Com o aumento da renda e a queda da desigualdade, 680 mil capixabas deixaram a pobreza em 10 anos, sendo 170 mil somente entre 2009 e 2011. Desse total, 270 mil (2001 a 2011) superaram a extrema pobreza, 17 mil nos últimos dois anos. Em 2011, a porcentagem de capixabas pobres caiu para 10%, e a de extremamente pobres para 3%. Em 2001, o Espírito Santo era o estado da Região Sudeste com maior incidência de pobreza (33%) e, uma década depois, é o estado com menor pobreza (10%) da Região.

Os cálculos, com base na Pnad de 2011, foram realizados pelos pesquisadores do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), Samuel Franco e Andrezza Rosalém. A Pnad é uma pesquisa amostral de frequência anual, que não é realizada nos anos censitários. A linha de pobreza utilizada para os cálculos foi construída pelo IPEA e CEPAL (1997) e varia regionalmente. Para o Espírito Santo a linha de pobreza é de R$ 173 mensais per capita e para a extrema pobreza, que caracteriza insuficiência de renda para alimentação adequada, é de R$ 87 mensais.

O epicentro dessa transformação foi a construção política da ética republicana dentro da gestão estadual. Os valores ali incorporados foram fundamentais para a conquista da confiança de investidores e demais agentes produtivos e, porque não dizer, dos inúmeros capixabas que apoiaram e legitimaram o difícil restabelecimento da ética no setor público.

O serviço público de qualidade e a garantia de um estado que funcione com base na meritocracia e na boa prestação de serviço aos cidadãos foi uma conquista coletiva da qual os capixabas não devem prescindir. Esse é o elemento que irá conferir sustentabilidade a esse ciclo virtuoso nos próximos anos.

Os riscos, contudo, tem se elevado: a crise mundial, as perdas fiscais impostas pelo governo federal ao estado, a falta de autonomia local das decisões mais fundamentais sobre infraestrutura. Assegurar a hegemonia desse modelo bem-sucedido de desenvolvimento é o único instrumento nas mãos dos cidadãos capaz de sustentar a contínua redução da pobreza e da desigualdade em terras capixabas.

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