Por uma cultura de inovação

De Leonardo da Vinci (1452-1519), o “primeiro cientista”, a Steve Jobs (1955-2011), o revolucionário do cotidiano contemporâneo, sem falar nos gregos que, há milênios, inventaram a política como meio de vida cidadã e civilizada, a história humana tem um combustível essencial: a inovação.

Em linhas gerais, inovar é experimentar ou testar novas ideias com êxito, tendo em vista a solução de problemas e a excelência de processos, negócios ou propósitos. Ou seja, inovar é fazer diferente para fazer o melhor, o mais competitivo e o mais sustentável, alcançando-se todos os aspectos da vida. Nessa direção, e invocando a constituição de uma verdadeira cultura de inovação entre nós, proponho uma rápida reflexão acerca de três temas.

Primeiramente, o econômico: num tempo como o atual, em que os mercados são globalmente articulados em questões de planejamento, criação, produção, distribuição e consumo, em ambiente de altíssima competitividade, a inovação é decisiva à sobrevivência e ao sucesso das empresas.

Nesta nossa época, em que a agenda da sustentabilidade pauta a busca por um modo de produção menos danoso aos seres humanos e ao ambiente natural, com implicações nos universos da política, da economia e das compras, é preciso que se invista em novas formas de produzir e consumir. Produtos e serviços ambientalmente insustentáveis, se não são barrados já na produção, tendem a encalhar nas prateleiras e vitrines.

Num tempo em que a política enfrenta desafios quanto à sua credibilidade e efetividade, seja por causa de especificidades do seu campo, como a corrupção endêmica e a incapacidade de dar respostas na velocidade e na qualidade desejadas pelos cidadãos, seja por marcas mais amplas, como o protagonismo dos mercados e as novas formas de convivência e articulação social sustentadas pelas tecnologias de informação e comunicação, é preciso inovar na formulação e na ação políticas.

Enfim, se a inovação desde sempre se colocou como um fator importante ao movimento do processo civilizatório, nos tempos atuais, de ampla concorrência, conscientização ambiental e revolução comportamental, entre tantas questões inquietantes e desafiadoras, é necessário inovar como nunca. Por isso, é que precisamos instituir uma cultura de inovação.

Tratando-se especificamente de Brasil, país que ainda experimenta uma janela de oportunidades, mas que também se vê pressionado por problemas históricos que lhe embaralham o presente e lhe travam o futuro, sendo o déficit na qualidade da educação o mais grave, essa cultura de inovação deveria ser tratada como prioridade absoluta por poderes públicos, sociedade civil e empreendedores.

A inovação viceja a partir da conjunção de mentes criativas em ambiente de incentivo e promoção de ações e comportamentos inovadores. É importante salientar que inovação não é o mesmo que processo continuado de melhorias. A inovação marca uma ruptura de procedimentos, causando impactos positivos em quaisquer que sejam os processos envolvidos.

Mas qual seria a origem das ações inovadoras? A inovação se dá por meio de pesquisas e estudos aplicados aos mais variados processos. Tecnologias, invenções, produtos, métodos, enfim, idéias são o combustível da inovação. Esse combustível pode ser obtido pelas próprias instituições e empresas ou por meio de parcerias com órgãos públicos ou particulares de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

O processo de inovação dentro de uma comunidade ou de uma organização é complexo e se fundamenta verdadeiramente na constituição de uma cultura para o inovar. Esse detalhe é importante porque as inovações frequentemente são obstaculizadas por resistências as mais diversas.

Cultura de inovação diz respeito ao imperativo de se fazer diferente com cada vez mais constância. E isso tem tudo a ver com imaginação e criatividade aplicadas a situações de alguma estabilidade, o que pode gerar resistências, principalmente por parte dos mais afeitos à burocracia, seja no âmbito público, seja na esfera privada. O compromisso da inovação é com o resultado e não com o apego aos métodos cristalizados.

Nesse sentido, o consagrado especialista Carmine Gallo reporta avaliações importantes acerca da cultura da inovação: “Os hábitos consagrados são uma receita para o desastre”; “A inovação não é algo que você faz uma vez e, sem seguida, senta-se e relaxa”; “A inovação é um compromisso com a melhoria contínua da parte de todos”.

Entender o que é inovação e praticá-la demanda conscientização e investimentos. Mas não há alternativa. Como mostra um olhar em retrospectiva, alcançando de Leonardo da Vinci à Grécia Antiga, inovar sempre foi preciso. E em razão das marcas do nosso tempo, como deixou claro Steve Jobs, nunca foi tão importante quanto hoje.

Paulo Hartung

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