Crise na indústria brasileira

A desindustrialização, compreendida como a perda de peso da indústria de transformação no PIB e a redução relativa da sua participação no número de pessoas ocupadas, não é problema exclusivo do Brasil. Podemos observar que esse fenômeno ocorreu inclusive em países ricos, quando plantas fabris foram deslocadas para nações menos desenvolvidas que ofereciam maiores vantagens comparativas. O problema é que a nossa desindustrialização se processa antes de nos termos tornado um país socioeconomicamente avançado.

Há descompasso entre demanda de consumo e investimento produtivo entre nós. Números confiáveis mostram que o Brasil se tornou um país caro para produzir bens comercializáveis e, portanto, ficou “mais barato” importar tais bens do que produzi-los domesticamente. Conforme aponta a Confederação Nacional da Indústria, o coeficiente de penetração das importações vem subindo nos últimos tempos (CNI, “Coeficientes de abertura comercial”, janeiro/março de 2013).

Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), pouco menos de 70% das importações brasileiras são manufaturas e aproximadamente 70% das suas exportações são commodities. Não podemos impunemente considerar infinito um ciclo favorável dos preços das commodities que exportamos. Commodities são conhecidas na literatura econômica como bens tomadores de preços nos mercados, sujeitas a demandas elásticas. Um país urbano e detentor de expressiva densidade demográfica, igual ou maior do que 23hab/km2, dificilmente poderá ambicionar o desenvolvimento econômico socialmente inclusivo se não possuir base industrial dinâmica do ponto de vista tecnológico. Conforme aponta a OMC, manufaturas representam mais de 60% das exportações de bens em países economicamente relevantes e detentores de consideráveis densidades demográficas – EUA, Alemanha, China, Reino Unido.

Vejamos brevemente algumas dimensões da questão brasileira. Uma política econômica permissiva à persistente sobrevalorização cambial da moeda nacional ajuda a explicar parte importante do imbróglio presente. Um sistema tributário complicado e oneroso do ponto de vista do tempo gasto para o pagamento de suas obrigações fiscais é outra parte do problema. Infraestrutura econômica ineficiente explicaria a parcela do famigerado custo Brasil que tanto afeta adversamente a produção da nossa indústria de transformação. Existem dificuldades de elevado grau nessa complexa discussão. O câmbio, por exemplo, é variável de ajuste na administração das expectativas inflacionárias do mercado financeiro no Brasil e ele ainda afeta os preços relativos de investimentos produtivos e bens comercializáveis.

Devemos evitar as tentações e as ilusões de um retorno ao processo de substituição de importações, lato sensu. Para o século XXI, compreendemos ser relevante construir as condições institucionais, macroeconômicas e alocar maiores energias políticas na formação do capital humano doméstico para que o desenvolvimento sustentado de indústrias dinâmicas ocorra em nosso país. As mesmas deverão integrar esforços produtivos de cadeias de negócios globais, exportando parcela da produção e não apenas produzindo para um mercado doméstico oligopolizado.

Nesse contexto, mostra-se relevante mantermos a luta capixaba pela atração de investimentos produtivos. Não podemos aceitar que apenas 3% do território brasileiro, que respondem por 33% do PIB nacional, tenham o direito ao desenvolvimento econômico. Há incompreensões em algumas poucas instâncias da vida capixaba com relação ao momento que vive a humanidade, dilemas e impasses brasileiros. Felizmente esse debate ocorre de forma qualificada entre nós e há elevado consenso de que precisamos persistir na luta pelo desenvolvimento socioeconômico capixaba, enfrentando eventualmente os dissabores das partes que apostam no retrocesso.

Paulo Hartung é economista e ex-governador do Espírito Santo

Rodrigo Medeiros é professor do Ifes

7 Respostas para “Crise na indústria brasileira

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