Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento?

Ocorre entre nós um qualificado debate sobre desenvolvimento. Seus argumentos consideram o último fiasco argentino (cuesta abajo!) e também as esperadas ineficiências econômicas do populismo distributivista venezuelano. Esta discussão parece-me mais interessante do que àquelas que vivemos nas décadas de 1990 e 2000, quando se polarizou simploriamente Estado e mercado como instâncias dissociadas e rivais da vida nacional.

Vivemos no Espírito Santo, entre os anos 2003 e 2010, uma rica experiência política que revelou ser esse simplório maniqueísmo falso e, nesse sentido, não nos deveria causar maior espanto que haja saudades do tempo heróico da reconstrução institucional das estruturas capixabas. O bom combate continua no Espírito Santo porque não podemos dar qualquer margem a retrocessos, o que certamente incluiria eventuais perdas de eficiência na condução da política fiscal estadual.

Chamou minha atenção nos últimos dias a divulgação da evolução da produção industrial física brasileira. Pode-se observar no gráfico que segue logo abaixo que ela encontra-se praticamente estagnada no patamar de setembro de 2008, quando estourou a crise global com a quebra do banco Lehman Brothers. Ao enfrentar uma concorrência internacional mais feroz, ficou bastante exposta a fragilidade da competitividade internacional brasileira.

Podemos encontrar ultimamente na mídia inclusive análises que apontam para riscos de um overshooting cambial na casa dos R$3,00 por dólar; há ainda sérias dificuldades de curto-médio prazo no campo da produtividade sistêmica da nossa economia e também ocorreu perda de credibilidade da política fiscal conduzida pelo governo federal. O empolgante crescimento vivido na demanda de consumo deveria estar cedendo gradualmente espaço na formação do PIB para o aumento da participação dos investimentos produtivos, considerando-se nossas necessidades, vantagens competitivas e a redução do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos.

Com uma política econômica permissiva à persistente sobrevalorização cambial do real e uma infraestrutura logística precária, o clima de “pleno emprego” poderá muito bem terminar logo adiante. Sinais diversos já indicam que a bonança externa dos preços das commodities terminou. Em 2000, as reservas eram de US$33 bilhões e suficientes para financiar um ano do déficit em transações correntes; o estoque atual é de US$380 bilhões e conseguiria financiar uns cinco anos desse déficit que chegou aos 3% do PIB, estimam fontes do mercado. Sabemos muito bem que estimativas não são certezas e que as expectativas mutantes dos agentes econômicos podem derreter logo adiante quando uma situação se deteriora, alimentando, portanto, uma espécie de profecia autorrealizável.

Matéria do The Wall Street Journal reforça a tese de que a festa está acabando: “O êxodo do capital se processou recentemente em ritmo acelerado especialmente para as economias muito dependentes de commodities, cujos preços vêm caindo” (11/06/2013). Sabemos muito bem que um dólar mais valorizado pressionará a inflação doméstica no Brasil. Vejamos um exemplo coletado no blog da jornalista Miriam Leitão: metade do trigo consumido no Brasil é importada. Com a apreciação cambial do dólar, o preço do trigo, em algum momento, também aumenta; nos últimos doze meses, o pão francês já subiu 16,18% até maio.

Afinal, precisamos efetivamente de um novo modelo de desenvolvimento socioeconômico que tenha consistência intertemporal e que nos conduza além do estado de um país de renda média? Nosso complicado sistema político estaria em sintonia com esse novo momento do País? Penso que uma aceleração de qualificados investimentos públicos e/ou privados em educação e infraestrutura econômica deveria ser uma prioridade suprapartidária nesta hora. Não devemos esperar por 2014 para esquentarmos intelectualmente essa relevante discussão.

Rodrigo Medeiros (D.Sc.) é professor do Ifes

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