Pedra Azul: o que ainda falta para decolar nacionalmente?

Por Nerleo Caus

Pedra Azul exerce um fascínio instantâneo sobre quem a conhece. Cercada por Mata Atlântica e com uma condição geográfica privilegiada – o distrito de Domingos Martins, a cerca de 90 Km de Vitória – é a joia da coroa das montanhas capixabas. O turista que chega a Vitória e se depara com a praia leva cerca de 1h30 para chegar ao destino e se encantar com a variedade de fauna e flora diante dos seus olhos.

As festas e festivais, especialmente no inverno, agitam Pedra Azul e conferem ainda mais charme ao distrito. Além da Festa do Morando, realizada no início de agosto, será realizado novamente o festival Pedra Blues & Jazz Festival, depois de cinco anos.

Pedra Azul está bombando localmente, mas poderia estar a nível nacional. Temos potencial para nos desenvolvermos como Campos do Jordão, em São Paulo, e Gramado, no Rio Grande do Sul. As duas cidades são modelos de excelência no turismo e podemos aprender muito com elas.

Elenco aqui alguns dos maiores desafios que Pedra Azul precisa superar para chegar lá: infraestrutura de transportes, estrutura de saúde e mão de obra qualificada.

A primeira das barreiras tem a ver com a dificuldade de acesso ao local, em que pese a boa ordenação urbana do distrito. Hoje o acesso ao local é basicamente limitado à rodovia federal BR 262, uma via que não suporta o trânsito de veículos, além de apresentar o problema crônico de falta de manutenção. Há muito tempo se discute a ampliação da via, mas nada é feito. Na alta temporada, o trânsito no local fica insuportável e exige muita paciência do visitante. Haja vontade de chegar a Pedra Azul!

Uma melhor infraestrutura facilita também a chegada de cargas e o escoamento da produção local. Pensando em um outro modal, também já passou da hora do distrito ter um aeroporto para receber aviões de pequeno porte. Isso daria uma outra projeção a Pedra Azul, com o deslocamento mais rápido de turistas. Até helipontos são raros no local.

O segundo empecilho é a falta de uma estrutura de saúde adequada, por exemplo, para o atendimento de pequenas emergências. Se hoje alguém tem um mal súbito em Pedra Azul, precisa se deslocar para Domingos Martins ou Venda Nova do Imigrante para receber atendimento. Isso fica ainda mais dramático se for um dia com muita névoa na pista.

O terceiro desafio de Pedra Azul é a falta de mão de obra qualificada. É urgente a estruturação de um programa de qualificação profissional. Eu costumo dizer que sobram empreendedores nas montanhas capixabas, mas falta gente preparada para trabalhar. Muito empreendimentos de Pedra Azul são familiares, o que torna a contratação de profissionais ainda mais fundamental.

Percebe-se, portanto, que antes de pensarmos em pizzarias temáticas, museu de chocolate, ruas cobertas e outros cases de sucesso dos nossos “primos ricos”, é preciso atuar no básico.

Não posso finalizar esse artigo sem lembrar dos cassinos. A liberação dessas casas traria um novo patamar para o turismo e o Espírito Santo tem potencial. A instalação de um cassino, por exemplo, poderia criar aproximadamente 1.500 novas vagas de emprego diretos, e 4 mil em toda a cadeia.

É uma atividade que gera um grande fluxo turístico. As pessoas vêm de longe, de outros lugares para jogar. Cria-se um movimento, e além dos jogos, o turista conhece a região em que está hospedado. Quando eu falo cassino, eu me refiro a todo o projeto de um cassino integrado, com arte e lazer, com shows, com galerias, com gastronomia e com coisas lúdicas que geram atratividade, inclusive o próprio jogo.

Por fim, Pedra Azul tem tudo para ser cobiçada por gente de todo o Brasil, é só a gente fazer nosso dever de casa.

Nerleo Caus é presidente da ABIH-ES (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo). É empresário e já foi Secretário de Estado de Turismo

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