Pesquisadores descreveram uma nova espécie de bromélia encontrada no leste de Minas Gerais. Batizada de bromélia enigmática (Stigmatodon enigmaticus), a espécie foi descoberta na Serra do Padre Ângelo, no município Conselheiro Pena, durante expedições científicas do projeto “Ecossistemas Rupícolas da Mata Atlântica”, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).
A descoberta foi publicada no dia 16 de fevereiro, na revista científica Phytotaxa, pelos pesquisadores Dayvid Couto, Paulo Gonella e Andrea Costa.
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O reconhecimento da nova espécie soma-se a mais de 30 outras espécies publicadas na última década para os campos e florestas das montanhas da região. Ao todo, 26 espécies são consideradas endêmicas – ocorrem exclusivamente nesses campos rupestres e em mais nenhum lugar do planeta.
Paulo Gonella, um dos pioneiros no estudo da flora dessa região, destaca que esses dados colocam a Serra do Padre Ângelo como importante área de endemismo na Mata Atlântica, e reforça a urgência de proteção desses ambientes.
A bromélia-enigmática, recém-descoberta, já é classificada como “criticamente em perigo de extinção”, correndo risco de desaparecer caso não sejam tomadas ações para sua proteção.
“Somente a criação de novas reservas na região será capaz de salvar essa e outras espécies da extinção, em um futuro próximo. As Unidades de Conservação protegem áreas de reconhecida importância biológica, e que prestam importantes serviços ambientais para sociedade, como o fornecimento de água, fixação de carbono, controle do clima, polinizadores, entre outros”, explica Gonella.
Descoberta em campos rupestres acima dos 1200 metros
A bromélia-enigmática foi descoberta em campos rupestres acima dos 1200 metros na Serra do Padre Ângelo. Essa serra, assim como outros afloramentos rochosos rodeados pela floresta, funciona como uma ilha terrestre – como está isolada na paisagem, as espécies que ali ocorrem têm suas populações isoladas umas das outras por um “mar de floresta”.
A nova bromélia vive sobre as rochas expostas a pleno sol, misturada com a vegetação campestre, típica dos campos rupestres.
“A descoberta revela a importância dos estudos básicos sobre a biodiversidade nessas ilhas terrestres da América do Sul”, ressalta Dayvid Couto.
Quando pensamos em ilhas, logo imaginamos as ilhas oceânicas, que são ambientes isolados e circundados pelo mar. Mas, outros ambientes, como os afloramentos rochosos e o cume de montanhas elevadas, são igualmente isolados e são tratados como ilhas terrestres.
Dentre as ilhas terrestres, merecem destaque os campos rupestres, formados por afloramentos de rochas que são comuns nas paisagens da Serra do Espinhaço entre Minas Gerais e Bahia.
Os campos rupestres, de modo semelhante às ilhas oceânicas, são isolados na paisagem e abrigam uma flora muito peculiar e adaptada às condições restritivas desses ambientes – baixa disponibilidade hídrica, presença de solos rasos e com baixa fertilidade, elevada amplitude térmica entre o dia (quente) e a noite (frio), entre outras características.
O projeto “Ecossistemas Rupícolas da Mata Atlântica” é realizado pelo INMA no âmbito do Programa de Capacitação Institucional do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Tem por objetivo catalogar a biodiversidade (flora e a fauna) dos ambientes rochosos, levantando dados que possam servir de subsídio para a criação de políticas públicas para a conservação desses ambientes.