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Carnaval de blocos ‘paralelos’ cresce no Rio

Carnaval de blocos ‘paralelos’ cresce no Rio Carnaval de blocos ‘paralelos’ cresce no Rio Carnaval de blocos ‘paralelos’ cresce no Rio Carnaval de blocos ‘paralelos’ cresce no Rio

Rio – Fortalecidos desde os anos 2000, os blocos de carnaval do Rio, que reúnem 5 milhões de pessoas, pelos cálculos dos órgãos municipais, dividem-se entre uma agenda oficial e outra paralela. A primeira, divulgada pela prefeitura, que analisa e aprova previamente os horários e itinerários propostos pelos organizadores dos desfiles, começou no dia 16 e só se encerra em 14 de fevereiro, o “domingo de Cinzas”. A segunda é a dos blocos que reivindicam mais espontaneidade na festa e saem sem reportar local e data. Seus foliões defendem um carnaval mais romântico, menor, sem carro de som e patrocínio – e pregam o fim da “mercantilização da folia”.

O Boi Tolo, que está completando dez anos, tem esse espírito. Seu nascimento se deu de forma inusitada: um grupo grande de desconhecidos chegou à Praça 15 para aproveitar outro bloco, o Cordão do Boitatá. Animados, os presentes resolveram juntar-se e brincar o carnaval sem compromisso.

“Somos um encontro de foliões, ninguém paga nada, ninguém recebe nada. Para nós, essa burocracia de ter de solicitar autorização com seis meses de antecedência é impossível, não temos estrutura para isso”, disse o aposentado Luiz Otávio Almeida, que tem sido um porta-voz do bloco, mas rechaça a alcunha de “diretor”. “A prefeitura não faz distinção entre um bloco pequeno e o que chama milhões, tolhe qualquer tipo de liberdade. Entrega o carnaval a uma marca de cerveja. Se você precisa de R$ 30 mil para colocar um bloco na rua, já é algo artificial.”

O valor citado por Almeida é referente aos custos para o desfile de um bloco médio, para cerca de dez mil pessoas. Cobre o caminhão de som, alugado por cerca de seis horas, a contratação de seguranças e o pagamento dos direitos autorais pelas músicas tocadas, entre outros gastos. O dinheiro é levantado pela organização dos blocos com patrocinadores, que podem buscar isenção fiscal pela Lei Rouanet ou se inscrever em editais públicos, e também por meio de shows realizados durante o ano. Em alguns casos, lança-se mão de sites de financiamento coletivo.

A bandeira dos blocos “dissidentes” é a “deseletrificação” do carnaval, ou seja, a presença dos músicos na rua, tocando seus instrumentos entre os foliões, sem palco. Eles consideram que desinchar os blocos é o caminho para o carnaval do Rio. Hoje, além do tradicional Bola Preta, que sai aos sábados de carnaval no centro desde 1918 e reúne 2 milhões de pessoas, blocos como o da cantora Preta Gil e o Monobloco, segundo a prefeitura, devem atrair cerca de 400 mil foliões.

Secretos. Para este ano, acredita-se no aumento do número de blocos secretos, que não se divulgam. Tudo indica que eles sairão em áreas até agora não ocupadas por desfiles, como a Gamboa, a Saúde e a Praça da Bandeira, na região central do Rio, e também na zona norte. No mapeamento oficial, 26,14% dos blocos são da zona sul – área considerada saturada, na qual não são aceitas novas inscrições.

A ideia de que a organização acaba com a espontaneidade é refutada pelo secretário de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Mello. “Isso é uma baboseira. Hoje 99,9% dos blocos são autorizados. A prefeitura organiza a cidade, caso contrário fica inviável. Até 2008 não tinha nenhuma ação para o carnaval de rua. Você acordava e tinha um bloco fechando a sua rua, que depois ficava lotada de lixo. Hoje o carnaval de rua do Rio é o maior do País, democrático, sem cordas, e a gente dá seminário para cidades que têm tradição, como Salvador e Recife.” Ele afirmou que blocos sem autorização não serão coibidos durante o carnaval. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.