Geral

'Cena de terror', conta professora que viu ataque

‘Cena de terror’, conta professora que viu ataque ‘Cena de terror’, conta professora que viu ataque ‘Cena de terror’, conta professora que viu ataque ‘Cena de terror’, conta professora que viu ataque

Janaúba (MG) – “Tá boa, Dona Célia?”, perguntou o vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, ao cruzar com a professora no pátio da creche, onde as crianças do maternal tomavam banho de mangueira. Brincando com seus alunos, de 3 e 4 anos, Maria Nicélia Pereira, de 44, assentiu. “Estou muito doente”, emendou o homem, carregando a mochila de sempre nas costas, antes de entrar no salão. Lá dentro, outra turma via um filme. Em segundos, o vigia retirou um balde e começou a espalhar um líquido nas crianças. “Que é que isso, seu Damião?!”, foi a única coisa que Célia conseguiu dizer. Tudo que viu, então, foi fogo.

“Foi uma explosão, acho que porque o balde caiu no chão, e só veio aquela bola de fogo em cima de mim”, relata Célia, que, à frente de salas de aula desde os 26 anos, trabalha há 10 na Gente Inocente. Com a blusa em chamas, a professora começou a correr e gritar por socorro. “Não dei conta das crianças”, lembra, com tristeza.

Desesperada, arrancou a camisa, nem sabe como, e, só de sutiã, parou cerca de 500 metros após a creche, onde pedreiros realizavam uma obra às 9h30 da manhã daquela quinta-feira. A tragédia deixou onze mortos, sendo nove crianças, uma professora e o autor do ataque.

Os homens correram para o local e, com baldes de água, tentaram conter o fogo que atingiu três salas e o salão principal da creche, derretendo materiais escolares, ventiladores, alimentos e até o teto, feito de PVC.

Muitos vizinhos, alarmados com a gritaria e a fumaça que tomou conta da rua, saíram de casa e tentaram ajudar no resgate das cerca de 75 crianças que estavam na unidade de ensino, além de funcionários e professores. Não havia extintores.

No salão, a diretora da unidade conseguiu se esconder no único banheiro, com algumas crianças. Na esperança de escapar da fumaça, quebrou o vitrô para aumentar a circulação de ar. Havia grades nas janelas.

“Foi uma cena de terror, um trem inexplicável”, diz Célia, que sofreu queimaduras nos dois braços, no rosto e nos pés. Sem saber o que fazer, a professora tentava organizar as crianças que, tossindo, gritando e chorando, saíam de lá. Muitas delas, feridas. “Me ajuda, Célia! Me ajuda!”, repetia a sua auxiliar, Geni Oliveira Lopes Martins, de 63 anos, a mais velha das vítimas.

Socorro

Com uma criança no colo, ela foi levada de viatura a um hospital, onde vítimas recebiam banhos de soro para aliviar a dor das queimaduras.

Célia passou dois dias internada e recebeu alta anteontem. Em casa, toma antibiótico e remédio para dor, e troca os curativos nos braços várias vezes por dia. Na cabeceira da cama, onde a irmã a ajuda, fica a imagem de Nossa Senhora de Aparecida. A professora faz aniversário no dia 11, véspera do dia da santa. “Eu renasci naquele dia.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.