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Chico Buarque dá 'canja' em bar no centro do Rio

Chico Buarque dá ‘canja’ em bar no centro do Rio Chico Buarque dá ‘canja’ em bar no centro do Rio Chico Buarque dá ‘canja’ em bar no centro do Rio Chico Buarque dá ‘canja’ em bar no centro do Rio

Rio de Janeiro – A reserva feita em nome de Francisco Buarque e mais 11 não havia chamado a atenção do funcionário do Semente, um dos bares pioneiros do renascimento da Lapa, bairro boêmio na região central do Rio. A ficha caiu quando o próprio Chico pediu uma cerveja no balcão, enquanto os músicos do Semente Choro e Jazz passavam o som. Era só o começo. A noite terminaria de forma ainda mais surpreendente: quase um sarau, com Chico Buarque ao violão, o público a poucos centímetros, alguns sentados no chão. “Essa é de alto risco. Desculpem aí”, disse um descontraído Chico, antes de levar “Carioca”, canção de sua autoria.

Há 17 anos, as noites de segunda-feira são do violonista Zé Paulo Becker e o Semente Choro e Jazz, dedicadas à música instrumental. Nesses dias, o bar vira ponto de encontro de artistas, que volta e meia dão canja. O guitarrista sul-africano Dave Matthews e o violoncelista Jacques Morelembaum estão entre os que já se apresentaram informalmente no bar. O cantor Marcos Sacramento e o violonista Yamandu Costa estão sempre na casa. Há três semanas, foi a vez de Ney Matogrosso. Chico chegou sozinho. Depois, vieram os amigos – o compositor Carlinhos Vergueiro e o jornalista Rodrigo Paiva entre eles. O cantor deixou de lado a conversa e sentou-se de frente para o palco. Acompanhou as músicas, retribuiu o beijo que Sacramento lhe mandou, depois que este cantou “Samba e Amor” em homenagem ao visitante. Yamandu também deu canja.

Zé Paulo já havia deixado o palco, quando Chico se aproximou. “Eu quero cantar um pouco”. Foram três músicas: Aquela Mulher e Palavra de Mulher, além de Carioca. “Eu já estava lá fora e voltei correndo. Perguntei se ele queria que os músicos o acompanhassem, mas ele disse que preferia tocar sozinho. A sensação é de que ele estava se sentindo em casa. O Semente tem esse clima. As pessoas estão ali pela música”, disse Zé Paulo.

Marcos Sacramento resumiu a noite como “redentora”. “A gente se sente distante dos medalhões, do chamado mainstream, e o Chico veio lembrar que essas diferenças não existem. Ele é genial até nisso. Foi uma noite de reconciliação do primeiro time com a música contemporânea”, disse Sacramento. A jornalista Patrícia Terra, que está preparando o documentário Semente da Música Brasileira, em parceria com Cavi Borges e o Canal Brasil, sobre a geração de músicos que surgiu com o bar, aproveitará os registros feitos pelo celular. “As baterias já estavam caindo, foi tudo captado de improviso. Mas essa é a cara do Semente – a imprevisibilidade.”