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Cinco pessoas são enterradas como indigentes todo mês em Vitória diz prefeitura

Segundo a Secretaria de Serviços, para esses indivíduos é reservada uma área no Cemitério de Maruípe para sepultamento. Nesse caso não é realizado funeral e não é cobrada taxa

Cinco pessoas são enterradas como indigentes todo mês em Vitória diz prefeitura Cinco pessoas são enterradas como indigentes todo mês em Vitória diz prefeitura Cinco pessoas são enterradas como indigentes todo mês em Vitória diz prefeitura Cinco pessoas são enterradas como indigentes todo mês em Vitória diz prefeitura
Corpos são levado ao DML, onde esperam a liberação de familiares para sepultamento Foto: Divulgação

Diariamente o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória recebe diversos corpos, de pessoas de diferentes idades, sexos, etnias e classes sociais. A maioria é rapidamente liberada para sepultamento, assim que algum familiar vai ao local para fazer o reconhecimento e tratar de todos os trâmites necessários. No entanto, alguns corpos permanecem no local por dias, ou até meses, esperando algum parente fazer sua liberação e, assim, serem enterrados. 

O problema é que, em muitos casos, esse familiar nunca aparece ou o corpo sequer consegue ser identificado. Quando isso acontece, a pessoa é enterrada como indigente, em uma sepultura reservada pela prefeitura em algum cemitério público.

De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços (Semse) de Vitória, no município cinco pessoas são sepultadas, em média, nessa situação todos os meses. Para elas, é reservada uma área na quadra de número 2, no Cemitério de Maruípe. A prefeitura disse que, no caso de enterro de indigente, não é realizado funeral e não é cobrada taxa alguma.

Segundo a Secretaria de Serviços, os enterros são feitos em caixões simples, de madeira. A prefeitura garante, ainda, que respeita o padrão de profundidade das covas estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 1,5 metro. Normalmente esses corpos são exumados a cada cinco anos, a não ser que exista um pedido da Justiça antecipando este prazo, informou a Semse.

Identificação

Em Vitória, segundo a prefeitura, o enterro de indigentes é feito no Cemitério de Maruípe Foto: Divulgação/Prefeitura

De acordo com o superintendente de polícia técnico-científica da Polícia Civil do Espírito Santo, delegado Danilo Bahiense, cada cadáver enterrado como indigente recebe uma plaqueta de metal, com um número de identificação. O superintendente explica que o procedimento é fundamental para, caso um parente dessa pessoa venha a procurá-la algum dia, a Polícia Civil possa saber onde ela está sepultada.

“Já houve um caso de um cadáver enterrado como indigente que, depois de muitos anos, a família veio procurá-lo. Precisávamos identificar onde essa pessoa estava sepultada e, como ela possuía a plaqueta de identificação, foi possível encontrá-la e ter certeza de que era a pessoa procurada”, ressaltou Danilo Bahiense.

O delegado salientou ainda que a Polícia Civil obedece a uma série de procedimentos para a identificação do corpo e contato com a família daquela pessoa. “Quando o DML recebe um corpo, é feita uma necropsia. Em seguida os peritos papiloscópicos vão ao local e realizam o exame chamado de necropapiloscopia, que é a coleta das impressões digitais do cadáver. Essas impressões vão para o Departamento de Identificação, para que seja feito o cruzamento das informações e, assim, possamos identificar a pessoa. Também fotografamos o cadáver, realizamos exames toxicológicos e recolhemos material biológico para exame de DNA”, explicou o superintendente.

“Em muitos casos, a família já está procurando aquela pessoa. Com as impressões digitais do cadáver, associadas às informações fornecidas pelos familiares, fazemos a identificação civil da pessoa e liberamos o corpo”, concluiu.

Segundo Danilo Bahiense, a Polícia Civil obedece a uma série de procedimentos ao receber um cadáver no DML Foto: TV Vitória

Danilo Bahiense destacou, no entanto, que muitas vezes a polícia não tem nenhuma referência de familiar da pessoa encontrada morta, para que seja realizado o contato. 

“Fazemos contato com a Delegacia de Pessoas Desaparecidas, que possui um banco de dados com as características das pessoas que estão sendo procuradas. Esse banco de dados traz informações como a idade da pessoa, a roupa que ela vestia quando foi vista pela última vez, entre outras. Teve um caso em que encontramos uma ossada em João Neiva e precisávamos identificar aquela pessoa. Havia um registro de uma mãe que procurava o filho e descreveu a cor da camisa que ele vestia, a calça, meia e até a cueca dele. Disse ainda que ele colocava a chave de casa pendurada no pescoço. Essas características batiam com as do corpo encontrado. Pegamos então a chave que ele tinha e fomos até a residência em que ele morava, e a chave abriu a porta”, contou.

O superintendente lembrou ainda que, em casos de pessoas de outros estados encontradas mortas no Espírito Santo, muitas vezes é difícil fazer a identificação do corpo, já que o indivíduo não possui registro civil na polícia capixaba.

“No caso do cadáver que não é identificado, ele permanece no DML o tempo que for necessário. A lei obriga que o Departamento Médico Legal mantenha o corpo por pelo menos 30 dias. Mas muitas vezes nós deixamos ele no local por 60, 90 dias ou até mais. Teve um caso em Colatina que o cadáver permaneceu no DML por cinco anos e nós ainda conseguimos encontrar os parentes daquela pessoa”, contou.

O delegado explica que, após esgotado o prazo de permanência do corpo no DML, a Polícia Civil entra em contato com a prefeitura do município de procedência daquele cadáver. “Procuramos verificar de onde é aquela pessoa e procuramos a prefeitura daquele município. As prefeituras normalmente não aceitam enterrar corpos de pessoas que não sejam daquela cidade”, frisou.

No caso de Vitória, a prefeitura explica que, após ser acionada pela Polícia Civil, recebe o corpo juntamente com um ofício do DML, para que assim possa ser feito o sepultamento. Ainda de acordo com a administração municipal, existe um livro próprio com o número do registro do Departamento Médico Legal para o enterro. Na segunda via do ofício, que volta ao DML, aparece o número da sepultura onde o corpo foi enterrado.