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Comunidade internacional tenta impedir Hamas de desviar recursos de doações

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Com o estabelecimento do cessar-fogo após 11 dias de guerra entre Israel e o Hamas, grupo radical islâmico que controla a Faixa de Gaza, a comunidade internacional enfrenta o desafio de impedir que as doações para ajudar na reconstrução de Gaza sejam usadas para outros fins. O financiamento do Hamas não é simples e o dinheiro usado para a construção de foguetes, pagamento de militantes e melhoria dos túneis usados pelo grupo entra na região de diversas formas.

Desde que a Autoridade Palestina (AP) perdeu o controle de Gaza para o Hamas, em 2007, ficou mais difícil controlar a destinação do dinheiro que entra no enclave. “A população palestina está dividida não apenas em termos geográficos (Cisjordânia e Gaza), mas também em termos políticos. A AP vê o Hamas e a Jihad Islâmica, que também opera em Gaza, como um perigo. Há um conflito entre os grupos e o dinheiro é parte disso. A AP quer controlar o dinheiro destinado a Gaza, mas o Hamas também”, explica Yoav Tenembaum, professor de ciência política da Universidade de Tel-Aviv.

Gaza recebe de forma lícita dinheiro de diferentes fontes: ajuda humanitária, projetos de outros países árabes no enclave e até mesmo ajuda de Israel. O Hamas costumava receber dinheiro vivo, com a autorização de Israel, por meio do Catar. Mas esse é um dos pontos que deverá ser mudado para ampliar o controle sobre a destinação da verba.

“Muitos países árabes estão sendo pressionados, até mesmo o Catar, para usarem outros mecanismos. Um dos primeiros passos é não dar dinheiro vivo e sim o projeto pronto. Está na agenda política de países árabes ajudar a população palestina de Gaza, mas estão estudando essa forma”, diz André Lajst, diretor executivo da StandWithUs Brasil e especialista em Oriente Médio, mestre em contraterrorismo e segurança nacional pelo Centro Interdisciplinar Herzliya (Israel).

O próprio governo de Israel fornece ajuda financeira desde 2007 a Gaza. Segundo a revista Forbes, a primeira transferência foi de US$ 51 milhões (R$ 258 milhões), feita para fortalecer a influência do presidente da AP, Mahmoud Abbas, e pagar os salários de cerca de 35 mil funcionários leais a ele.

A agência da ONU para os refugiados palestinos, UNRWA, por exemplo, levanta verbas para a região por meio de seu site e os pagamentos são feitos por meio do WorldPay – parte do Royal Bank da Escócia -, pelo Banco Árabe PLC em Gaza e o HSBC na Jordânia. A UNRWA tem um orçamento anual de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) para Gaza.

No recente conflito entre o Hamas e Israel, o Banco Islâmico de Gaza foi destruído. De lá, segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF), saía o dinheiro usado em ações terroristas. “O Hamas recebe financiamento de alguns países árabes e também de pessoas privadas dentro do mundo árabe, mas não apenas isso”, disse ao Estadão o porta-voz das IDF para a América Latina, Roni Kaplan.

O dilema de Estados Unidos, países da Europa e outros que prometeram ajudar na reconstrução do enclave está justamente em como evitar o desvio de verbas. “Por um lado, os atores querem enviar o dinheiro por meio da Autoridade Palestina, na Cisjordânia. Assim, a verba e qualquer outro item para ajudar Gaza seria canalizada por uma entidade reconhecida pela comunidade internacional. O problema é que o Hamas controla a Faixa de Gaza então fica praticamente impossível enviar ajuda sem que o Hamas seja envolvido”, afirma Tenembaum.

Militares

Segundo as IDF, mais de 50% do orçamento do Hamas é aplicado no desenvolvimento de capacidades militares. A verba que o grupo desvia de doações estrangeiras, além dos cerca de US$ 70 milhões que o Irã envia anualmente e as taxas cobradas da população são destinadas ao pagamento de militantes, construção de foguetes e melhoria dos túneis que os radicais usam para transportar armas, se esconder de ataques de Israel e até chegar ao lado israelense da fronteira para realizar sequestros e ataques.

“O Hamas foi construindo ao longo dos anos, por meio de engenheiros e especialistas, uma série de tecnologias que ajudaram a construir foguetes semi-industriais. Eles têm muita criatividade para ter acesso a ferro, por exemplo. Além de entrar ferro em Gaza por Israel, porque todo lugar precisa de ferro para a construção, também aproveitam parte do aço dos mísseis de Israel disparados contra Gaza. Mergulhadores também vão até navios ingleses naufragados na costa de Gaza durante a 1ª Guerra e retiram bolas de canhão. O concreto que entra em Gaza é usado para construir esses túneis, mas a questão é que não tem como impedir essa entrada, pois Israel tem uma responsabilidade com Gaza”, conta Lajst.

Segundo autoridades militares de Israel, o Hamas também obtém verbas ao recolher US$ 14 de cada serviço elétrico em Gaza, US$ 27 de cada tonelada de fruta e US$ 1,50 de cada pacote de cigarros. O grupo deu uma declaração recente garantindo que “não desviará nem um centavo” da ajuda internacional para a reconstrução da Faixa de Gaza, destruída no recente conflito.