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Ensino híbrido ganha espaço nas escolas de educação básica

O estudo dessas aves é o tema da pesquisa individual que desenvolve na escola Lumiar, na região central de São Paulo, onde cursa o primeiro ciclo do ensino fundamental

Ensino híbrido ganha espaço nas escolas de educação básica Ensino híbrido ganha espaço nas escolas de educação básica Ensino híbrido ganha espaço nas escolas de educação básica Ensino híbrido ganha espaço nas escolas de educação básica
Foto: Reprodução/ TJES

Liz Honorato Parente tem 8 anos e um conhecimento sobre pássaros de deixar os adultos boquiabertos. Reconhece alguns pelo formato do bico, tonalidade da penugem e até forma de voar. O estudo dessas aves é o tema da pesquisa individual que desenvolve na escola Lumiar, na região central de São Paulo, onde cursa o primeiro ciclo do ensino fundamental. Durante a aula, a garota recebe as orientações, mas toda a exploração é feita fora dos muros do colégio: tanto em vídeos e textos na internet como nos parques da capital.

Já comum no ensino superior, o ensino híbrido – modalidade de aprendizagem que combina ensino presencial e a distância (EAD) – tem ganhado cada vez mais espaço na educação básica. O crescimento é resultado dos avanços tecnológicos e, nas escolas de educação básica, surge principalmente como ferramenta para implementação da metodologia.

“A Lumiar reconhece o estudante em toda a sua potencialidade e organiza o currículo com atividades que o levam a desenvolver uma gama de competências fundamentais, como autonomia e responsabilidade”, diz Fabia Apolinario, gerente de implementação pedagógica. “Nesse aspecto, quando pensamos em ensino híbrido, criamos oportunidades para que essa criança ou adolescente possa coplanejar os objetivos de aprendizagem e as etapas de suas atividades.”

Para os especialistas, o formato é um amadurecimento de uma vocação já bem brasileira. “O Brasil tem uma tradição forte na questão da lição de casa, que já caracteriza uma atividade a distância. O que o modelo híbrido faz é incentivar um pouco mais isso, mas desta vez com atividades mais atrativas e com maior protagonismo das ações coletivas”, afirma João Mattar, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional. “Além disso, o ensino híbrido já é um aperitivo para quem, talvez, vá escolher um curso superior totalmente a distância. Não faz sentido deixar o aluno ficar até seus 17 anos em modelos totalmente presenciais.”

Para trabalhar o tema “cultura” com alunos de ensino médio no colégio Mary Ward, a professora de leitura e letramento Elaine Cristine Fernandes da Silva organizou a turma em grupos relacionados a tópicos como cultura popular, cultura erudita e cultura de massa e deu aos alunos a tarefa de buscar as referências, deixando os momentos em sala de aula para mediar o andamento dos trabalhos. Cada grupo produzirá um blog, que será visto e comentado pelos colegas. “Isso é metodologia ativa. O professor se torna um mediador e os alunos têm mais chance de, por meio da tecnologia, gerir o próprio aprendizado. Isso enriquece muito o repertório deles”, diz a educadora.

Um dos pioneiros no uso do ensino híbrido no ensino fundamental, o colégio Dante Alighieri tem até um case sobre o assunto. Em 2009, quando o surto de H1N1 obrigou muitas escolas a suspender as aulas, a escola manteve a aplicação do conteúdo pela plataforma online. Por uma questão curricular, a coordenação também marcou aulas de reposição in loco. “Mas, quando no meio tempo a Diretoria Regional de Educação viu os relatórios da produção dos alunos online, liberou o Dante para cancelar as presenciais, pois o currículo estava em dia. A partir disso, passamos a respeitar mais a plataforma e ampliar seu uso”, conta a diretora, Valdenice Minatel.

Formação de professores

Para que o uso do ensino híbrido na educação básica ganhe escala, é preciso não apenas investir nas ferramentas mas também na formação dos professores que irão administrá-las. Desde 2018, o professor Alan Cordeiro Fagundes, filiado à Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), oferece uma oficina gratuita e online para ensinar o uso de Metodologias Ativas a professores das redes pública e privada. “Explicamos como usar as plataformas e pedimos que os professores tragam casos concretos que têm em sala de aula para trabalhamos propostas juntos”, explica Cordeiro. Uma das recomendações do curso é que os docentes reorganizem os materiais. “Deve-se parcelar os conteúdos em vídeos, atividades etc. Não dá para fazer o ensino híbrido com material muito adensado.”

Outras instituições oferecem a própria estruturação de uma disciplina para o formato híbrido. A CS Plus, startup criada pela escola de programação e robótica Super Geeks, auxilia a instalar o ensino de Ciência da Computação nas escolas. “Instalamos nossa plataforma, treinamos os professores e oferecemos suporte no dia a dia para que possam trabalhar programação sem a necessidade de serem programador seniores”, explica Marco Giroto, fundador da Supergeeks.

Uma das escolas atendidas é o Colégio CEM, em Concórdia, a 466 km de Florianópolis. A escola transformou Ciência da Computação em disciplina obrigatória da pré-escola ao ensino médio. “Várias outras escolas estão no procurando, até porque cultura digital é uma das competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).”