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Covid-19: terceira onda de infecções pode ser ainda pior no Brasil

Epidemiologistas afirmam que o atual cenário do Amazonas serve como previsão para o que possa acontecer em outras partes do país

Foto: Pixabay

O aumento de casos de covid-19, o relaxamento nas medidas restritivas, retomada na lotação dos hospitais, a descoberta de uma variante do vírus com um poder de transmissão ainda maior e as dificuldades referentes à vacinação da população, são alguns dos fatores que, segundo especialistas em saúde pública, podem fazer com que o Brasil presencie uma terceira onda da covid-19 nos próximos meses, causando um cenário ainda mais trágico.

Durante as três primeiras semanas do ano, o país registrou os piores números no registro de casos, maior ainda do que o auge da pandemia no meio do ano passado.

Desde o dia 21 de janeiro, o número de casos ativos de covid-19 encontra-se em aproximadamente 900 mil, valor bem acima dos 690,6 mil registrados na semana de 22 de julho, período em que foram registrados os picos da doença.

De acordo com a epidemiologista Ethel Maciel, durante os meses de setembro e outubro, as previsões apresentavam certo otimismo.

“Pensamos que passaríamos o verão com baixo número de casos. O vírus está desafiando as nossas previsões, é algo preocupante. Pelas nossas previsões, teríamos uma segunda onda lá para abril e maio, já com a vacinação em andamento”, disse.

O médico e epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a terceira onda de contaminações possa começar antes mesmo do país sair da segunda.

“Saiu um artigo mostrando que o coronavírus está assumindo uma sazonalidade em todo o mundo, mostrando com dados e uma análise epidemiológica a respeito. Se isso ocorrer aqui no hemisfério sul, nós, que estamos na vigência de uma segunda onda sem que tivéssemos saído da primeira, e possivelmente pelas dificuldades de uma vacinação em massa, continuaremos em um patamar elevado. Quando chegar em abril e maio [outono na parte mais populosa do país], isso não nos permite uma visão otimista”, afirmou.

Os meses em que o país apresenta maiores quedas de temperatura, também são os meses em que a população apresenta um aumento nos casos de doenças em vias respiratórias, como a covid-19.

“O melhor preditor do comportamento futuro é o comportamento passado — e vocês podem ver o passado. O futuro do Brasil é o que está acontecendo aqui nos Estados Unidos e na Europa, os casos estão subindo conforme está ficando mais frio. Eu acredito 100% que os casos vão subir no Brasil quando esfriar, a menos que haja uma vacina”, disse ao R7 em novembro o pesquisador Adam Kaplin, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

Nova variante no Amazonas

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) descobriram uma nova variante do vírus e detectaram um maior poder de transmissibilidade. O registro de casos desta variante estão predominantes em Manaus e especialistas veem este cenário como um alerta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) adicionou a nova mutação brasileira na lista de “preocupantes”, classificação que inclui também as variantes encontradas no Reino Unido e na África do Sul. A organização também informou na última quarta-feira (27) que a nova cepa já foi detectada em oito países, como Estados Unidos, Itália, Alemanha e Japão.

“Se já está em oito países, é possível que já esteja no país todo”, acrescentou Waldman.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também aparentou preocupação a respeito da variante e da forma como o governo federal tem lidado com a situação do Amazonas.

“O mundo inteiro está fechando os voos para o Brasil, e o Brasil está, não só aberto normalmente, como está retirando pacientes de Manaus, mandando para Goiás, Bahia, outros lugares, sem fazer os bloqueios de biossegurança. Provavelmente, a gente vai plantar essa cepa em todos os territórios da federação e daqui a 60 dias a gente pode ter uma megaepidemia”, afirmou em entrevista ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura, na última semana.

A variante encontrada no Brasil possui 12 mutações situadas na proteína de superfície do vírus, chamada de spike, parte responsável pela conexão do vírus com o sistema respiratório humano para entrar nas células.

O virologista e pesquisador da Fiocruz Amazonas, Felipe Naveca, integrante da equipe que descobriu a variante, aponta que essas mutações concederam “vantagem” ao vírus.

“Fazendo uma analogia simples: a nossa célula seria a porta, a fechadura seria o receptor [por onde o vírus entra no organismo]. O vírus conseguia abrir aquela porta, mas era uma chave que não era muito boa. Agora, a gente pode ter uma chave que consegue abrir com muito mais facilidade. Por isso chamam muito atenção essas mutações”, explicou.

* Com informações do Portal R7.