Geral

Em Genebra, ministra deixa reunião com ativistas sobre direitos humanos

Em Genebra, ministra deixa reunião com ativistas sobre direitos humanos Em Genebra, ministra deixa reunião com ativistas sobre direitos humanos Em Genebra, ministra deixa reunião com ativistas sobre direitos humanos Em Genebra, ministra deixa reunião com ativistas sobre direitos humanos

Genebra – A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, não ouviu nesta quarta-feira, 4, a sociedade civil brasileira e internacional em um debate sobre as principais questões de direitos humanos e direitos sociais no País previsto para durar de três horas em Genebra. A ministra deixou a reunião logo início e deixou ONGs e ativistas surpresos.

Nesta sexta-feira, 5, o Brasil passa por um exame de sua política de direitos humanos na ONU. Governos de todo o mundo terão a oportunidade de apresentar perguntas e queixas sobre o comportamento do governo em diferentes áreas.

Antes do debate com os demais governos, a delegação brasileira organizou nesta quarta-feira um encontro com seis ONGs brasileiras e internacionais, justamente para tratar dos desafios. Luislinda, porém, abriu o encontro, falou por alguns instantes e deixou a reunião.

Segundo presentes, a ministra alegou outros compromissos com responsáveis por temas de refugiados na ONU o que, segundo a reportagem apurou, acabou não acontecendo. Antes de sair, declarou que “nunca podemos nos dar por satisfeitos em Direitos Humanos”.

A condução da reunião acabou ficando sob a responsabilidade da diplomata local, a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, além dos técnicos de cada um dos setores. Durante a reunião, a diplomata chegou a dizer que o Brasil era “um exemplo” em direitos humanos”.

A reunião contou com entidades como Anistia Internacional, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Conectas e outros. Mas a ausência da ministra deixou as entidades decepcionadas. A ministra não ficou para escutar nenhuma das ONGs que, em cada uma de suas falas, lamentaram a ausência da chefe da pasta para ouvi-las.

Uma nota de imprensa oficial da Secretaria de Direitos Humanos, porém, trouxe uma foto da ministra na reunião, indicando que ela “abriu” o encontro. À reportagem, membros do governo indicaram que, de fato, a reunião que ela havia mencionado para a ONGs com os representantes de refugiados da ONU não ocorreu e que o encontro acabou sendo transferido para quinta-feira.

No lugar disso, ele teria se dedicado a contatos com autoridades em Brasília, na esteira de telefonema que manteve com o presidente Michel Temer na noite de terça-feira.

De acordo com diplomatas, ela ainda usou seu tempo para “elaborar e rever” intervenções que deverão ser proferidas durante o evento de sexta-feira. Já sua nota oficial indica que ela manteve reuniões com o diretor da Unidade Antidiscriminação do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos e com a presidente do Grupo de Trabalho Intergovernamental sobre a Efetiva Implementação da Declaração e Programa de Ação de Durban, Yvette Stevens.

Para apresentar sua versão sobre os fatos, o governo de Michel Temer mandou para Genebra uma equipe de peso, mas sem qualquer representante do Ministério da Justiça. De acordo com o Itamaraty, a delegação será composta pela própria ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, pelo subsecretário-geral de Assuntos Políticos Multilaterais, Europa e América do Norte do Itamaraty, embaixador Fernando Simas Magalhães, pela secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro e por Maria Inês Fini, Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, além de diversos outros assessores e diplomatas.

Se a ministra não esteve presente no debate com a sociedade civil sobre a crise no Brasil, a delegação brasileira em Genebra tem realizado uma série de reuniões com governos estrangeiros, já na preparação da sabatina. Na semana passada, com o objetivo de se apresentar a alguns dos demais embaixadores, a missão brasileira organizou um jantar, prática considerada como rotineira entre chancelarias. Diplomatas estrangeiros, porém, não deixaram de comentar a “coincidência” entre o evento, que contou com uma feijoada, e o exame que o Brasil passará na ONU.

Mas, na sexta-feira, a delegação terá de responder a questões de 109 países sobre temas como violência policial, saúde, prisões, defensa de ativistas e igualdade de gênero.

Orçamento

Durante o encontro desta quarta-feira, ONGs chegaram a tocar ainda no tema do corte orçamentário e o congelamento de recursos para a área social. O assunto deixou a diplomacia em uma situação desconfortável, enquanto Maria Helena Guimarães de Castro justificou que as contas mostrariam que era possível investir bem em políticas sociais”.

Outro tema sensível será o indígena. Relatores da ONU indicaram já que o Estado brasileiro “fracassou” em proteger os direitos dos povos indígenas. “É motivo de preocupação o fracasso do Estado em proteger as terras indígenas de atividades ilegais, especialmente em mineração e madeireiros”, indicaram relatores das Nações Unidas, citados no informe distribuído para todos os governos.

Nesta semana, em reuniões preparatórias para o exame do Brasil na ONU, governos já indicaram que o recente caso de violência contra sete indígenas no Maranhão reforçará o debate sobre a questão de demarcação de terras e os recursos para a FUNAI. O grupo teria sido alvo de pistoleiros.

Mas antes mesmo do caso, os documentos da ONU distribuídos aos governos já apontavam como alarmante o “nível de violência contra os povos indígenas”.