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Em SP, 'donas' de Higienópolis são tema de passeio

Em SP, ‘donas’ de Higienópolis são tema de passeio Em SP, ‘donas’ de Higienópolis são tema de passeio Em SP, ‘donas’ de Higienópolis são tema de passeio Em SP, ‘donas’ de Higienópolis são tema de passeio

O motivo não é claro, mas há mais de 100 anos a viúva Maria Angélica de Sousa Queirós desistiu de homenagear o ex-marido na avenida que acabara de ampliar. Em vez de manter o nome da via que seria estendida (Avenida Itatiaia), a empreendedora decidiu colocar o próprio nome no local, que fica na região central da cidade. A situação perdurou até 1907, quando toda a extensão do logradouro foi oficializada como Avenida Angélica. E a homenagem ao ex-marido? Ficou em uma travessa, a Alameda Barros, onde ambos moraram.

Parte dessa história é resgatada pelo coletivo PISA: cidade + pesquisa, que reúne pesquisadores, estudantes, arquitetos, historiadores . A primeira série de atividades foi encerrada com a realização de três passeios sobre as “fundadoras” de Higienópolis, Santa Cecília e Vila Buarque: Veridiana da Silva Prado, Maria Angélica de Sousa Queirós e Maria Antônia da Silva Ramos.

Roteiro

O tour, feito em parceria com o Sesc Consolação, é dividido em três passeios, cada um focado em uma das “donas”. Para a coordenadora do “Três Donas”, a pesquisadora Karoline Barros, a classe social foi um dos motivos que garantiu a permanência do nome dessas mulheres nas três vias.

“Muitos nomes de ruas e avenidas mudaram ao longo do tempo, de mulheres especialmente. Mas a importância dessas mulheres acabou resguardando o nome delas nessas vias”, diz. “O sobrenome era muito ligado ao marido. E elas conseguiram de uma maneira ou de outra cuidar dos negócios”, diz.

O passeio liga cada uma das mulheres à área em que mais se destacaram (educação, empreendedorismo e artes e vida social). No caso de Maria Antônia da Silva Ramos, seu maior legado é ter vendido por um valor baixo parte do terreno da Chácara Lane à Escola Americana, em 1879, primeira instituição de educação mista de São Paulo (com meninos e meninas) – que, desde o início, aceitava estudantes negros. A Escola Americana deu origem ao Instituto Presbiteriano Mackenzie.

O roteiro seguinte é focado na mais famosa das três donas: Veridiana da Silva Prado, que se destacou pelos eventos artísticos e sociais que realizava e pelo fato de ter se separado em um período muito anterior à legalização do divórcio. O palacete em que ela viveu era o grande espaço de reunião da elite intelectual e, atualmente, é sede do Iate Clube.

Por fim, o trajeto de Maria Angélica está focado nos dois perfis da via, que tem propriedades de maior dimensão (e mais abastadas) no trecho abaixo do Parque Buenos Aires, e um comércio mais variado na outra metade da avenida. O motivo, segundo Pedro Beresin, que estudou a via em sua dissertação de mestrado, é que a proximidade com o Cemitério da Consolação e o antigo Hospital de Isolamento (hoje Hospital Emílio Ribas) afastava as elites por questões sanitárias e de status – atraindo a classe média e também operários.

Enquanto a nova edição do “Três Donas” não ocorre, o PISA realiza o “PISAço pelo Centro” no próximo sábado, com saída às 9 horas do Sesc 24 de Maio. O passeio é gratuito e não é preciso fazer inscrição. Ainda há a ideia de reunir o conteúdo do tour em um livro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.