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Escolha conservadora de Trump para Suprema Corte muda cenário eleitoral

Escolha conservadora de Trump para Suprema Corte muda cenário eleitoral Escolha conservadora de Trump para Suprema Corte muda cenário eleitoral Escolha conservadora de Trump para Suprema Corte muda cenário eleitoral Escolha conservadora de Trump para Suprema Corte muda cenário eleitoral

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a indicação da juíza conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, em um importante movimento eleitoral na reta final da disputa à presidência. Com a nomeação de Barrett, Trump busca reavivar sua campanha ao energizar a base fiel do eleitorado republicano. O presidente também briga para garantir uma nova juíza na Corte antes da eleição, para o caso de a votação ser judicializada.

Nos jardins da Casa Branca, Trump afirmou que Amy Coney Barrett é notável pelo caráter e intelecto e qualificada para o trabalho. “Se confirmada, ela fará a história como a primeira mãe de crianças em idade escolar a servir na Suprema Corte”, disse Trump, ao lado de Barrett. Na sequência, Trump mencionou os nomes dos sete filhos da juíza, que assistiam a cerimônia na primeira fileira do público. “Ela irá decidir (casos) baseada no texto da Constituição como escrito”, afirmou Trump.

Juíza da Corte de Apelações Federal para o 7º Circuito, em Chicago, Barrett era a favorita ao posto da ala conservadora do partido republicano, por sua visão anti-aborto. A possibilidade de ampliar o conservadorismo na Corte é tema de campanha de Trump desde antes da morte de Ruth Bader Ginsburg e tem sido explorada politicamente pelo republicano, que está pressionado pelo mal resultado nas pesquisas eleitorais. O assunto mudou o foco das atenções na política e na imprensa americana e se sobrepôs às manchetes sobre a pandemia de coronavírus, por exemplo, na semana em que os EUA superaram a marca de 200 mil mortos por covid-19.

Amy Barrett será a quinta mulher indicada na história do tribunal e vai substituir a progressista Ginsburg, que morreu no último dia 18, aos 87 anos. Ginsburg era uma pioneira no judiciário americano na luta pelo fim da discriminação entre gêneros e foi a segunda mulher indicada à Corte, em 1993, pelo democrata Bill Clinton. Em seu discurso, Barrett adotou um tom conciliador e tentou desmontar os críticos. Ela começou o pronunciamento com a promessa de lembrar Ginsburg. “Ela não só quebrou tetos de vidro, como os esmagou, e por isso ganhou a admiração de mulheres em todo o país”, disse.

Em aceno à oposição, a indicada por Trump disse que os juízes devem “deixar de lado quaisquer opiniões políticas que possam ter” e “aplicar a lei como está escrita”. Ela lembrou da amizade de Ginsburg com o conservador Antonin Scalia, ao enaltecer a capacidade de manter amizades mesmo com divergências. “Aos americanos”, disse Barrett, “eu não assumiria o posto por meu próprio círculo ou por mim mesma. Eu assumiria o papel de atendê-los”. A juíza também buscou desmontar a ideia de que o grupo religioso ao qual é vinculada a torna subserviente aos homens, ao dizer que o marido – também advogado – a pergunta todas as manhãs “o que pode fazer por ela naquele dia”. “Magnífico e generoso”, disse ela.

Durante a cerimônia de nomeação, o democrata Joe Biden divulgou uma declaração na qual sugere que o acesso à saúde está ameaçado com a indicação da conservadora à Corte. Barrett já criticou a reforma no sistema de saúde conhecido como Obamacare, da gestão de Barack Obama. “O presidente Trump vem tentando descartar o Affordable Care Act há quatro anos. Os republicanos vêm tentando acabar com isso há uma década. Por duas vezes, a Suprema Corte dos EUA confirmou a constitucionalidade da lei”, afirmou Biden.

Enquanto Trump tenta centrar o debate político na nomeação à Corte e na defesa de valores conservadores, Biden recoloca em debate à pandemia de coronavírus — um calcanhar de aquiles na campanha do presidente.

“Mesmo agora, em meio a uma pandemia global, o governo Trump está pedindo à Suprema Corte que anule toda a lei, incluindo suas proteções para pessoas com doenças pré-existentes”, escreveu Biden, antes de mencionar na sua declaração a posição de Amy Barrett sobre o Obamacare e pedir, novamente, que o Senado espere a eleição para decidir sobre a vaga ao tribunal.

Atrás de Joe Biden nas pesquisas de intenção de voto, Trump tem pressionado os senadores a aprovarem o nome de Barrett antes da eleição, que acontece em 3 de novembro. Os senadores da base do presidente terão pouco mais de cinco semanas para sabatinar e aprovar a juíza, um prazo apressado se comparado com outras nomeações à Corte. A maioria do Senado é republicana e o líder do partido na Casa, Mitch McConnell, garantiu que tem os votos necessários para a aprovação. Os procedimentos de confirmação devem acontecer a partir de 12 de outubro, pelas contas dos parlamentares.

O presidente quer a Corte completa, com mais uma juíza indicada por ele, para decidir eventuais questões eleitorais. As campanhas republicana e democrata se preparam para uma batalha jurídica após a eleição presidencial deste ano. Trump tem reiteradamente acusado a existência de fraude nas eleições, sem apresentar provas. Os Estados americanos ampliaram as possibilidades já existentes de voto pelo correio e voto antecipado na tentativa de conter aglomerações no curso da pandemia de coronavírus. Trump afirma que o voto pelo correio permite fraude e tem dado sinais de que irá questionar o resultado das eleições. O caso pode ser decidido pela Suprema Corte, a exemplo do que aconteceu em 2000, na disputa entre George W. Bush e Al Gore.

Os democratas acusam os republicanos de hipocrisia, pois em 2016 o partido bloqueou uma nomeação de Barack Obama para esperar o resultado da eleição presidencial, mas não têm poder para bloquear a votação no Senado. Só dois republicanos declaram oposição à indicação à Corte antes da eleição. O partido tem 53 votos no Senado, enquanto os democratas têm 47.

Trump prometeu repetidamente na campanha de 2016 que com “duas ou três” indicações à Suprema Corte conseguiria reverter o precedente judicial de 1973 que reconheceu o direito ao aborto no país. Amy Barrett é católica, integrante de um grupo cristão conservador e já se manifestou a favor de uma maior regulação por parte dos Estados sobre a prática de aborto. Ao ser confirmada como juíza da Corte de Apelações em 2017, Barrett foi pressionada por senadores democratas sobre o quanto a religião influenciava sua posição jurídica. A juíza também já mostrou apoio a políticas imigratórias de Trump, além da expansão do direito ao porte de armas.

A pressão da Casa Branca para que os senadores confirmem a indicada antes da eleição, que acontece em 3 de novembro, também esquentou a luta política pelo controle do Senado. Os republicanos estão pressionados pela campanha de senadores democratas, com dificuldade de defender o mandato em alguns Estados. Agora, democratas e republicanos disputam para ver quem irá se beneficiar da polarização sobre a indicação à Corte com a ida de mais eleitores às urnas.

A composição da Suprema Corte é apontada como uma grande preocupação por 64% dos eleitores americanos, segundo pesquisa do Pew Research, perdendo apenas para os temas “economia” (considerado importante por 79%) e acesso à saúde (68%). Em eleições passadas, o assunto mobilizava particularmente eleitores republicanos, mas ganhou atenção dos democratas na campanha de 2020, especialmente depois da morte de Ginsburg. Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos americanos prefere uma nomeação feita pelo presidente eleito em novembro – seja Trump ou Joe Biden – à indicação às vésperas do processo eleitoral.

A aposta da oposição é que eleitores que se opõem ao conservadorismo de Trump, mas ainda não estavam energizados a ponto de votar por Biden, agora decidam se engajar na campanha e isso dê impulso também às disputas ao Senado. Republicanos como senador Cory Gardner, que disputa a reeleição no Colorado, um Estado democrata, devem ter dificuldade entre o eleitorado moderado depois do apoio dado a Trump na disputa sobre a Corte. Por outro lado, há republicanos que esperam que a polarização aumente as chances do partido em Estados divididos, como o Arizona e a Carolina do Norte.

Com 48 anos, Amy Barrett é a terceira indicada por Trump ao tribunal. Se ela for aprovada pelo Senado, a Corte terá uma super maioria conservadora, com 6 juízes indicador por presidente republicanos e 3 por democratas. Os outros dois juízes nomeados durante o governo Trump também são jovens para os padrões da Corte e devem garantir mais de três décadas de viés conservador no tribunal. Se reeleito, Trump deve conseguir emplacar mais um indicado e garantir 8 conservadores na Corte, já que o integrante mais velho do tribunal é um nome progressista, o juiz Stephen Breyer, de 82 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.