Geral

Familiares e amigos se despedem de Jeanne Bilich: "merecia ter vivido mais"

Jeanne marcou a história do jornalismo capixaba, atuando em diversos veículos de comunicação do Espírito Santo, inclusive, como apresentadora e editora na TV Vitória

Familiares e amigos se despedem de Jeanne Bilich: “merecia ter vivido mais” Familiares e amigos se despedem de Jeanne Bilich: “merecia ter vivido mais” Familiares e amigos se despedem de Jeanne Bilich: “merecia ter vivido mais” Familiares e amigos se despedem de Jeanne Bilich: “merecia ter vivido mais”
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

O corpo da jornalista Jeanne Bilich, que morreu aos 73 anos no apartamento em que morava, em Vitória, foi cremado na tarde de domingo (27), no Cemitério Parque da Paz, em Vila Velha. 

Destaque do jornalismo capixaba, ela atuou em vários veículos de comunicação. Inclusive, estreou como âncora no Jornal da TV Vitória

As filhas e a irmã de Jeanne estavam muito abaladas e não quiseram conversar com a imprensa. Elas disseram que a jornalista era uma pessoa alegre e que completava a família. 

Foto: TV Vitória

O jornalista Álvaro José Silva, colega de profissão e um dos melhores amigos de Jeanne, lamentou a perda da amiga. 

“Pessoa fantástica, intelectual, mestra da Ufes e trabalhou em vários veículos de comunicação. Ela vai deixar um buraco enorme porque merecia ter vivido mais. Pelo menos mais 10, 15 anos”, disse ele. 

Leia também: Jeanne Bilich: familiares e amigos lamentam morte de jornalista e Vitória decreta luto oficial

Destaque na comunicação, Jeanne gostava de aprender, ensinar e de colecionar memórias. Segundo o amigo, ela era expansiva e tinha uma personalidade crítica. 

“Tinha uma imensa biblioteca em casa. Ao longo dos anos, colecionou 50 diários que ela chamava de “cadernos de anotar a vida”. Tudo que acontecia de importante, ela anotava, colava fotos, recortes de jornais, filmes”, contou Álvaro. 

A jornalista morreu na manhã de domingo (27), no apartamento em que morava, na Praia do Canto, em Vitória. Há três meses, ela foi diagnosticada com um câncer de pulmão e pelo estado avançado da doença, optou por ficar em casa com a família. 

“Ela foi pega de surpresa por um câncer e quando descobriu já era tarde. Ela decidiu que não iria se submeter a nenhum tratamento. Montaram uma cama de hospital no quarto dela, com balão de oxigênio e todos os equipamentos. Os últimos 3 dias ela passou na cama de hospital no quarto dela, com a presença de um técnico de enfermagem especializado, com cuidados paliativos e com a visita diária de médicos, inclusive do neto, que é neurocirurgião”, explicou Álvaro. 

Jeanne atuou na TV Vitória como apresentadora e editora-chefe

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Jeanne nasceu em outubro de 1948, no Rio de Janeiro, mas se estabeleceu no Espírito Santo. Jornalista, advogada, radialista e Mestre em História Social das Relações Políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ela era a quinta ocupante da Cadeira 07 da AEL, que tem como patrono José Fernandes da Costa Pereira Júnior.

A jornalista marcou a história do jornalismo capixaba e atuou em diversos veículos de comunicação, inclusive na TV Vitória/Record TV, como apresentadora e editora-chefe. 

Hoje um amigo disse que ela abriu caminhos para as mulheres no jornalismo capixaba. Não foi a primeira jornalista, mas foi a que mais se destacou, a que mais estudou, a que mais talento tinha como apresentadora. Ela foi a maior em muita coisa e deixa um patrimônio de exemplo, um legado muito grande para o jornalismo, mas principalmente para as mulheres que querem entrar no jornalismo”, destacou Álvaro. 

Quando soube que estava doente, Jeanne realizou um grande sonho, que vai contribuir ainda mais para a história capixaba. Ela decidiu doar todo o acervo, cadernos de anotar a vida e livros importantes dela para o Arquivo Público do Espírito Santo. 

“Isso já tem um pré-contrato assinado, ela autorizou. Será revisado e doado. É o legado que ela deixa, o depoimento dela. Esses 50 anos têm muito valor histórico. Fica uma saudade grande, as lembranças são valiosas e a doação é o maior legado da vida dela”, destacou. 

Jeanne falou sobre experiência na TV Vitória

Em 2014, por ocasião do aniversário de 30 anos da TV Vitória, Jeanne Bilich escreveu um artigo para o Folha Vitória, em que fez um resgate histórico a partir de sua experiência profissional e ressalta importantes conquistas da TV Vitória.

Foto: Reprodução

Com uma escrita sempre culta, mas mantendo a linguagem popular, Jeanne contou a história que vivenciou durante os anos de atuação na emissora.

“Atesto-o eu – e se preciso for até em juízo – a plena e absoluta veracidade de haver experimentado, por muitos e muitos anos, certo e peculiar modo de “existir” em comum, tempo amalgamado pelo estreito e diário convívio profissional”

Jeanne destacou que, mesmo após anos longe da tela da TV Vitória, ela ainda era abordada nas ruas, no trânsito, nos estabelecimentos comerciais por telespectadores que questionavam se ela não voltaria a aparecer na TV.

“E como me sinto?… Bem, confesso-lhe, sagaz leitor, embasada na franqueza & sinceridade que bem me caracterizam – seja na tela, seja na vida privada – que me sinto recorrentemente surpresa, feliz e lisonjeada, pois, o questionamento do público cimenta em mim a convicção que a revista jornalística Espaço Local – que estreou naquele distante junho de 1989, tendo permanecido por 10 anos consecutivos no ar, apresentado, diariamente ao meio dia, por mim – marcou, sim, o imaginário dos telespectadores, cristalizando-se na memória dos capixabas. E convencida estou que prêmio maior e mais valioso não poderia ser almejado, tanto da parte da TV Vitória, quanto da parte desta jornalista, uma eterna apaixonada pela Comunicação. Reafirmo: trajetórias entrelaçadas! Casamento profissional sólido e duradouro, pois não?… União embasada na ética, confiança, liberdade de expressão e, sobretudo, no respeito e amor correspondidos entre, digamos, os “cônjuges”: TV Vitória & Jeanne Bilich”, escreveu.

Ela também relembrou o trabalho realizado a frente de um dos programas que apresentou.

Pela “sala de visita” do Espaço Local passaram candidatos à presidência da República, ao governo estadual, ministros da área federal, secretários de Estado, senadores, deputados, magistrados, lideranças empresariais, sindicalistas, intelectuais de renome nacional – lembro-me da viva emoção ao entrevistar o Mestre dos Mestres, Darcy Ribeiro – bem como uma constelação de artistas que brilharam no cenário cultural do país – Walmor Chagas, Tônia Carrero, Arthur Moreira Lima, este último ainda a brilhar -, enfim, um colossal mosaico ou vitral luminoso composto por uma plêiade de políticos, atores, escritores e formadores de opinião da mídia local e nacional. Asseguro-lhe, sagaz leitor, embasada em sólida certeza que ficaram, sim, após tantos anos idos, os “perfumes” emanados dessa época, ou seja, da década 90 do século findo. Inaudito, do ponto de vista pessoal, realço uma vez mais, é a lembrança do Espaço Local ainda pulsar tão vívida na teia da memória do capixaba.

Com ampla experiência como apresentadora. Jeanne foi convidada a assumir um novo desafio: se tornar chefe de redação da TV Vitória.

“Já no correr do ano de 2001 – após ter estreado, tempos antes, como âncora do Jornal da TV Vitória, em parceria com o brilhante jornalista Boris Casoy, então, no comando do Jornal da Record, em São Paulo -, o diretor e amigo Fernando Machado, a quem carinhosamente (ainda) chamo de “eterno chefe”, convidou-me e num assomo de coragem aceitei assumir a função de Chefe de Redação da TV Vitória. Experiência árdua que, confesso, requereu de mim novíssimo aprendizado no manejo da área administrativa da Redação, desafio para esta comunicadora que sou e sempre fui, desde a minha estreia na imprensa, em 1974. Do “eterno chefe” aprendi preciosas e inesquecíveis lições. Quais? Teorias e exercício prático da arte de bem administrar uma equipe de jornalistas”, relembrou Jeanne.

Para ela, o trabalho realizado na TV Vitória por vários anos e em diversas funções foi um “casamento profissional”.

“Exercendo funções jornalísticas diversas, que se distribuíram por períodos diferentes, mas todos, sem exceção, vividos prazerosamente por mim, anos e anos acabaram por somar mais de década que, pouco a pouco, foi se escoando na Ampulheta do Tempo Vivido Em Comum, consolidando o casamento profissional: TV Vitória & Jeanne Bilich”.

“Do passado e do presente. Para mim, foi um real privilégio haver participado da construção desta emissora de televisão, ainda que, lúcida e conscientemente, sabendo ter sido apenas mero ou nano fragmento de uma das páginas – ou seria nota de rodapé?… – do livro-memória da História da TV Vitória, hoje integrante da Rede Vitória de Comunicação. Um marco também na História do Espírito Santo!”

Jeanne Bilich, maio de 2014.