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“Há uma grande confusão por parte dos que defendem a redução”, diz Rita Camata sobre o ECA

Para a ex-deputada Rita Camata (PSDB-ES), relatora do ECA na Câmara dos Deputados na segunda metade da década de 1980, as discussões em torno da proposta foram “extremamente ricas”

“Há uma grande confusão por parte dos que defendem a redução”, diz Rita Camata sobre o ECA “Há uma grande confusão por parte dos que defendem a redução”, diz Rita Camata sobre o ECA “Há uma grande confusão por parte dos que defendem a redução”, diz Rita Camata sobre o ECA “Há uma grande confusão por parte dos que defendem a redução”, diz Rita Camata sobre o ECA
De acordo com Rita, o estatuto prevê punição para o adolescente infrator a partir dos 12 anos Foto: R7

No dia 13 de julho de 1990, o Brasil ganhava o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).  O Estatuto mudou a forma como Estado via e tratava os jovens até 18 anos. A norma, aprovada pelo Congresso Nacional, completa nesta segunda-feira (13) 25 anos de vigência. 

Para a ex-deputada Rita Camata (PSDB-ES), relatora do ECA na Câmara dos Deputados na segunda metade da década de 1980, as discussões em torno da proposta foram “extremamente ricas”. A proposta partiu de entidades sociais, como o Movimento dos Meninos e Meninas de Ruas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que integraram a comissão nacional sobre o tema. 

“Foi uma grande inovação [após a ditadura] a proposta partir dos movimentos que viviam o cotidiano da criança e do adolescente e sentiam a necessidade de ter uma proteção integral às crianças e aos adolescentes”, afirmou.

De acordo com Rita, o estatuto prevê punição para o adolescente infrator a partir dos 12 anos de idade. “ Quem defende a redução acaba confundido. Geralmente acham que o estatuto impende a punição dos adolescentes. Na verdade, o estatuto diz que o adolescente deve ser punido a partir dos 12 anos”, explicou.

Direitos e proteção
Diferentemente do chamado Código de Menores, lei de 1979 que antecedeu a legislação atual, o ECA extrapolou o aspecto punitivo e passou a prever direitos e proteção a crianças e adolescentes. “A lei anterior era mais punitiva e a sentença era determinada pela cabeça do juiz. Não havia preocupação com a prevenção. O Estado só intervia quando o adolescente tinha cometido um crime. Menor era o filho do pobre, criança era o filho do rico”, comparou Rita Camata.

Na avaliação do advogado Pedro Hartung, do Instituto Alana, entidade que atua em prol da infância, a criança e o adolescente, com o ECA, passaram a ser o centro da preocupação do Estado, das famílias e da comunidade, ao serem considerados sujeitos de direito. “[Eles] passam a ser protegidos de forma especial. Esse foi o entendimento do ECA, seguindo padrões internacionais, como a Convenção sobre os Direitos da Criança, da ONU [Organização das Nações Unidas], de 1989”, frisou ele, que também é membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança.

A relatora da proposta avalia que o Brasil deve “celebrar” os 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente e destaca que a norma não é uma lei acabada. “[Há] ajustes que a sociedade vai pedindo e o legislador tem que ter essa sensibilidade de legislar sempre pensando, projetando avanços. [É preciso] pensar em como ter uma sociedade avançada, integrada, de forma permanente, em que todos tenham oportunidade”, disse Rita Camata.
Internatos x ensino

Um dos redatores do texto do ECA, o procurador federal aposentado Edson Sêda conta que dois aspectos marcaram as discussões sobre o tema: o fim dos chamados internatos e a universalização do ensino.

“O Brasil tinha uma rede nacional de depósitos públicos, que o estatuto acabou, onde se metiam os meninos à força. Eram internatos, verdadeiras fábricas de crimes”, relembrou. Além disso, segundo ele, no final da década de 1980 mais de 30% das crianças não frequentavam a escola. “Na medida em que o estatuto foi sendo aplicado, as famílias foram obrigadas a matricular os meninos e hoje há um resíduo de 3% a 4% [de crianças fora da escola].”

Suellen Araújo

Repórter

Formada pela Faculdades Integradas Hélio Alonso ( FACHA-RJ), com experiência em assessoria de imprensa, mídias sociais e televisão.

Formada pela Faculdades Integradas Hélio Alonso ( FACHA-RJ), com experiência em assessoria de imprensa, mídias sociais e televisão.