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Invasões aéreas pontuais testam resposta inimiga

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Fogo pesado: ao menos 380 tiros de canhão 20mm, salvas de granadas de calor, caças pesados manobrando a curta distância de aviões gigantes de inteligência; uma ação aérea de alto risco sobre um dos cenários mais sensíveis da Ásia, as Ilhas Takeshima, para o Japão, ou Dokdo, para Coreia do Sul.

O arquipélago rochoso é disputado pelos dois países há cerca de 300 anos. Foi assim há 12 dias, às 9 horas da manhã de um dia sem nuvens, um grande Beriev-50A de quatro turbinas da Força Aérea da Rússia invadiu a Zona de Identificação de Defesa Aérea (Kadiz, na sigla internacional) uma espécie de autodeclarada área vestibular do espaço sul-coreano, na qual o país exige reconhecimento para permitir o sobrevoo.

Em 8 minutos, acionados pelo comando de Seul, estavam no local caças F-15K e F-16K, versões locais customizadas dos modelos americanos da Boeing e da Lockheed. Interceptado, o Beriev saiu fora, seguiu para o quadrante internacional. O tempo todo a tripulação manteve silêncio nas comunicações.

Cerca de 20 minutos mais tarde a aeronave de alerta avançado e vigilância cruzou novamente a linha vermelha. Os disparos com munição traçante e os sinalizadores incandescentes de fósforo branco voltaram ao céu de Mejima, segundo os japoneses ou de Seodo, conforme os coreanos. Haveria ainda outros três personagens na cena; todos bombardeiros de longo alcance – dois chineses e mais um, também russo.

Antes disso, no dia 19, houve outro incidente. No litoral da Venezuela, dois supersônicos Su-30Mk2V, de um lote de 24 unidades fornecido pela Rússia ao regime bolivariano a partir de 2005, foram despachados da Base de Barcelona, no Mar do Caribe, para interceptar um avião de reconhecimento e coleta de informações Aries II, da força aérea dos EUA.

A missão foi cumprida no perímetro externo do terminal de Maiquetía, onde funciona o aeroporto da capital, Caracas. O piloto americano registraria depois que o turboélice teria sido “acompanhado agressivamente” durante algum tempo pelos impressionantes caças venezuelanos armados com dois tipos de mísseis ar-ar.

Jogo ruim

Esse tipo de episódio se repete com extraordinária frequência, todos os dias, em várias partes do mundo. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não revela os números consolidados das interdições efetivamente realizadas – aqueles acionamentos que resultam em um contato visual com aeronaves militares “em situação irregular”. A agência cita “centenas de missões” e admite que, apenas nos últimos seis meses, houve “14 casos de nível 1” (o mais alto) no norte da Europa envolvendo interceptadores da coalizão e aviões russos. O que se pretende com esses ensaios é medir o tempo de reação das forças oponentes.

Os radares de defesa aérea indicam a presença dos bandidos e os esquadrões de combate mantidos em regime de alerta – não mais de 10 minutos da decolagem – são acionados. O tempo que demoram para chegar ao ‘intruso’, o modo como isso é feito e a forma da abordagem são cuidadosamente monitorados, eventualmente por sensores a bordo de satélites. O jogo é pesado e está no limite de segurança: um leve descuido, um dedo nervoso no gatilho, pode precipitar uma crise difícil.

Vigilância brasileira

O Brasil é o único país da América Latina capaz de supervisionar todo seu espaço aéreo. Faz isso por meio de uma rede eletrônica, a dos sete Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle do Tráfego (Cindacta) diretamente ligada aos comandos operacionais da Força Aérea. Todos os dias os alertas soam nas bases do sistema. Quase sempre o ‘agressor’ é só um piloto privado, um fazendeiro, sem plano de voo ou com falha técnica de comunicações.

Interceptado por turboélices A-29 Super Tucano ou, em situações especiais, por jatos F-5M, é orientado a pousar em uma pista próxima. Pode ser diferente. Às vezes o ‘bandido’ é um traficante de drogas ou contrabandista de armas. Seguindo um protocolo em etapas previstas na Lei do Abate, o curso do intruso é interrompido. Eventualmente, uma tentativa de fuga pode resultar em tiros de canhão. “Para neutralizar a ameaça”, disse ao Estado um oficial do Esquadrão Flecha, da ALA 5, de Campo Grande (MS). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.