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Maior parte da verba federal para evitar nova tragédia não foi usada

Maior parte da verba federal para evitar nova tragédia não foi usada Maior parte da verba federal para evitar nova tragédia não foi usada Maior parte da verba federal para evitar nova tragédia não foi usada Maior parte da verba federal para evitar nova tragédia não foi usada

Onze anos após o temporal que deixou 918 mortos, a Região Serrana do Rio ainda não recebeu boa parte do dinheiro prometido para prevenção a novas tragédias. De R$ 987,6 milhões empenhados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional na ocasião para obras de manejo de águas pluviais apenas R$ 53 milhões foram pagos até hoje – e R$ 11,6 milhões só foram repassados nos últimos três anos para obras de drenagem urbana.

Para as obras de contenção de encostas, do valor empenhado de R$ 60,2 milhões, um total de R$ 41,4 milhões foi pago aos municípios. Em nota, a pasta ressaltou que “os repasses ocorrem de acordo com a execução da obra, cuja responsabilidade é dos entes proponentes”.

O governo do Estado – em balanço realizado no ano passado, nos dez anos da tragédia – reconheceu que um terço da verba (cerca de R$ 500 milhões) destinada à construção de moradias, contenção de encostas e limpeza do leito dos principais rios não havia sido ainda aplicada. Pelas contas do governo, mais de R$ 1 bilhão havia sido investido na entrega de mais de 4 mil casas, no reassentamento de 2,9 mil famílias, em 93 obras de contenção de encostas, na reconstrução de 24 pontes e na limpeza de leitos de 8 rios. Mesmo assim, faltavam cerca de mil moradias e dez contenções e desassoreamentos.

Segundo Cláudia Renata Ramos, representante de Petrópolis na Comissão das Vítimas da Tragédia da Região Serrana, o município deveria ter recebido 3.250 unidades habitacionais. Mas apenas 1.025 foram entregues. Pelo menos 700 pessoas ainda recebem o aluguel social por causa da enxurrada de 11 anos atrás.

Segundo o deputado estadual Carlos Minc (PSB), entre 2012 e 2013 foi feito o mapeamento de risco de toda a Região Serrana, com indicações sobre as encostas a serem reflorestadas, os rios a serem desassoreados, as áreas que precisavam de drenagem. Planos de contingência foram elaborados, mas nada foi posto em prática a contento. Também por ocasião da tragédia de 2011, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Alerj apresentou um relatório final com 42 recomendações a serem adotadas para que o problema não se repetisse. Entre elas, a questão da ocupação irregular das encostas, a fiscalização do desmatamento e estruturação das Defesas Civis.

As obras não necessariamente evitariam uma nova tragédia – as áreas atingidas foram distintas. Mas certamente poderiam ter amenizado o problema, causado, essencialmente, pelo desmatamento das encostas e a ocupação irregular de terrenos já vulneráveis.

Para piorar o problema, um levantamento feito pelo gabinete do deputado estadual Eliomar Coelho (PSOL) revela que aproximadamente 60% da verba do governo do Estado do Rio destinada à prevenção de enchentes e deslizamentos para o ano passado não foi usada. Dos R$ 402,85 milhões que deveriam ter sido investidos em 2021, apenas R$ 167,28 milhões foram, de fato, executados. “Não há preocupação com problemas sérios e quase frequentes. Os desastres são anunciados”, afirmou Eliomar Coelho.

Um segundo levantamento, feito pelo gabinete do deputado estadual Carlos Minc (PSB), revela que somados os recursos destinados à prevenção de desastres naturais que não foram liquidados nos últimos dois anos se chega a um total de aproximadamente R$ 400 milhões não investidos. Os dois levantamentos foram feitos com base no cruzamento da Lei Orçamentária, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), com o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). “Não há preocupação com problemas sérios e quase frequentes. Os desastres são anunciados”, afirmou Eliomar Coelho.

TRAGÉDIA REDUZIDA

Em nota, o governo do Estado informou que no ano passado foram investidos mais de R$ 300 milhões em quase 30 ações relacionadas à prevenção de desastres e emergências na Região Serrana. Além disso, R$ 115 milhões foram investidos por meio da Cedae em redes de distribuição de água, esgoto e em reflorestamento. Ainda segundo o governo, foram contratados R$ 350 milhões em materiais e serviços para o Plano de Contingência para as Chuvas de Verão, na Região Serrana

Além disso, informou que a cidade de Petrópolis foi uma das contempladas pelo programa Casa da Gente, criado em setembro, para receber 340 unidades habitacionais – ainda parte do passivo de 2011. O Estado informou ainda que desde novembro do ano passado, foram empregados R$ 28 milhões em obras de melhoria do escoamento dos Rios Santo Antonio, Cuiabá e Carvão, para minimizar os riscos de transbordamento. Além disso, 13,37 metros cúbicos de resíduos foram retirados do leito de outros cinco rios da região.

Outro legado da tragédia de 2011 foi a criação do Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden/RJ) para o monitoramento e a emissão de alertas sobre as condições meteorológicas, bem como a implementação de um sistema local de alarme por sirenes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.