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Mudança do Instituto de Estudos Brasileiros será depois da Copa

Orçado em R$ 4 milhões, o projeto de mudança do arquivo, da biblioteca e das coleções de artes visuais depende da liberação de verba da reitoria da USP

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São Paulo – O sonho da sede própria estava, até segunda-feira, 02, muito perto de se realizar para o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Nos próximos dias, seus arquivos seriam transportados numa manobra especial para o Complexo Brasiliana, que abriga, desde o início do ano passado, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, o Sistema Integrado de Bibliotecas e a Livraria João Alexandre Barbosa, da Edusp.

Foi aberta uma licitação para escolher quem faria a mudança de parte do seu acervo e a empresa que perdeu contestou, no pregão de ontem, as condições técnicas da vencedora. Agora, a direção terá que comprovar se quem ofereceu o menor preço está mesmo habilitado para a função ou então reiniciar o processo de licitação. Foi um balde de água fria.

Se tudo tivesse corrido bem, a mudança seria realizada na próxima semana e o IEB seria reaberto para pesquisas no fim do mês – ele está fechado desde o final de abril. Para completar, foi realizada eleição para nova diretoria na semana passada e em alguns dias Sandra Margarida Nitrini assumirá o posto de Maria Angela Faggin Pereira Leite. Isso tudo sem contar a Copa do Mundo, que está para começar e deve atrasar ainda mais os processos, e a greve em curso na Universidade de São Paulo, que abriga o IEB.

Essa mudança, quando realizada (em não menos de um mês, imagina-se), não levará, ainda, o IEB para o lugar que lhe é de direito e em sua totalidade – por falta de dinheiro. Orçado em R$ 4 milhões, o projeto de mudança do arquivo, da biblioteca e das coleções de artes visuais depende da liberação de verba da reitoria. Em 2013, esse dinheiro estava garantido, conta a vice-diretora Marina de Mello e Souza, que, ao contrário da Maria Angela, ficará no cargo por mais alguns meses. “Há dois anos preparamos essa mudança, mas como as licitações são muito minuciosas, não conseguimos soltar no ano passado. O dinheiro foi retido na passagem do ano e não estamos conseguindo a liberação junto ao reitor”, comenta.

Ela conta que a mudança de agora, só do arquivo, foi possível por um arranjo informal e provisório com o SIB, que já tinha o mobiliário condizente com as necessidades do IEB e não usava.

Pela distância, o transporte do material não seria complicado. O moderno Complexo Brasiliana fica a cerca de 300 metros do Centro Residencial da USP, onde o instituto funciona desde 1992. Quando foi criado por Sérgio Buarque de Holanda, em 1962, ele também ficava no Crusp, num espaço igualmente não ideal. “Sairemos com o acervo histórico de 550 mil documentos empacotados em cerca de cinco mil caixas especiais em caminhões próprios para mudanças de acervos, de obras de arte e de bibliotecas de obras raras. O que sai daqui já tem lugar certo lá. Será mais ou menos como a saída da bateria da Sapucaí”, conta Elisabete Ribas, supervisora Técnica do Serviço de Arquivo.

Nessas caixas, estão preciosidades como uma carta jesuíta de 500 anos, mapas, bilhetes, cartões, cartas, cadernos e toda a sorte de documentos e manuscritos de intelectuais que ajudaram a pensar o Brasil. O maior acervo é de Mário de Andrade e o IEB começa a se organizar para o aumento da demanda a partir do ano que vem, quando sua obra entra em domínio público. Estão lá seus móveis, os discos, originais de obras como Macunaíma, o caderno em que Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema No Meio do Caminho e mandou para ele, uma carta em que Manuel Bandeira escreveu o poema Porquinho-da-índia, o original de O Quinze, que ele ganhou de presente de Rachel de Queiroz, entre muitos outros documentos.

Há, ainda, o original de Vidas Secas, de Graciliano Ramos; cadernos e mais cadernos com anotações e desenhos do escritor Guimarães Rosa – um deles com manchas de café; a primeira partitura feita no País, datada de 1759, de Mascarenhas Pacheco Coelho de Mello; a primeira ópera de Carlos Gomes, A Noite do Castelo, que estreou em 1861. E muita coisa curiosa nessas caixas. Um exemplo: os dentinhos dos gatos de Guimarães Rosa. Outros: um chumaço de cabelo de Caio Prado Júnior (ou de alguém de sua família), uma “selfie” do autor de Evolução Política do Brasil na frente do espelho e duas fotos dele nu.

Com os R$ 4 milhões liberados, inicia-se a mudança do restante do acervo – os quadros de Tarsila do Amaral e de Anita Malfatti, o violino de Marcelo Tupinambá, o mobiliário de Mário de Andrade, a toga de Milton Santos, entre outras raridades. A saída do Crusp e a ida ao Complexo Brasiliana está dando novo fôlego ao IEB. “Já aumentou a procura de pessoas que querem depositar suas preciosidades familiares”, diz Marina Souza. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.