Reação do governo a morte de brasileiro é para público interno, diz especialista
Brasília - A reação do governo Dilma Rousseff ao fuzilamento de Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, é destinada muito mais ao público interno, aos brasileiros, do que às relações com a Indonésia. A avaliação é do especialista Carlos Vidigal, doutor em Relações Internacionais e professor de História da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo ele, o governo Dilma age corretamente, ao seguir o que determina a Constituição, que proíbe a pena de morte, e ao explicitar o que os brasileiros querem ouvir: "Todos queremos nos sentir seguros pelo governo brasileiro quando estamos no exterior", disse o especialista.
"Mas o Brasil nem ninguém têm força para alterar a situação. A Indonésia está seguindo as leis internas do país e pode, sim, fazer o que fez", afirmou Vidigal, que citou o caso do italiano Cesare Battisti, condenado na Itália e que teve a concessão de refúgio como preso político no Brasil, em 2010.
"Podemos discordar, mas os países têm sua soberania e suas regras internas. Nos Estados Unidos também há pena de morte e um dos crimes expressos como passíveis dessa condenação é o tráfico de drogas."
De acordo com o especialista, o Brasil não pode aplicar nenhuma retaliação à Indonésia por causa da execução de Archer, que fora preso por tráfico de drogas. Questionado pelo Estado se a relação econômica e comercial com a Indonésia poderia sofrer abalos, Vidigal foi direto: "De forma alguma. São esferas completamente distintas. Não há nenhuma razão para retaliação do governo brasileiro à Indonésia".
Retaliações
Em 2014, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) entre Brasil e Indonésia somou US$ 4,04 bilhões (ou cerca de R$ 10 bilhões). O volume representou apenas 1,25% do total registrado no ano passado pelo País. Apesar de pequeno, o resultado de 2014 foi o maior porcentual em 15 anos. "As retaliações econômicas ocorrem em casos geopolíticos muito mais graves. Os Estados Unidos, por exemplo, aplicaram retaliações comerciais à Rússia por causa da anexação da Crimeia após conflito entre russos e ucranianos. Agora não há absolutamente nada parecido", disse Vidigal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.