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Lama pode matar os corais de Abrolhos

O alerta de que a pluma de resíduos poderia ter atingido uma das áreas de maior diversidade de corais do Atlântico Sul foi feito anteontem pelo Ibama, com base em imagens de satélite

Redação Folha Vitória
Na última sexta-feira (8), o secretário estadual do Meio Ambiente da Bahia, Eugênio Spengler, também sobrevoou o local e disse que o arquipélago em si "está sem mancha aparentemente" Foto: Divulgação

São Paulo - Se a mancha de lama que foi observada na região do Arquipélago de Abrolhos for mesmo a resultante do rompimento da barragem de minérios da Samarco, o impacto sobre a biodiversidade que vive ali pode ser catastrófico. Essa é a avaliação de cientistas que trabalham no local.

O alerta de que a pluma de resíduos poderia ter atingido uma das áreas de maior diversidade de corais do Atlântico Sul foi feito anteontem pelo Ibama, com base em imagens de satélite e observações aéreas.

Na última sexta-feira (8), o secretário estadual do Meio Ambiente da Bahia, Eugênio Spengler, também sobrevoou o local e disse que o arquipélago em si "está sem mancha aparentemente", mas que no mar mais próximo da costa a água está bastante turva e, ao norte de Abrolhos, em direção a Porto Seguro, foram vistas manchas escuras.

Spengler não descartou que a lama da Samarco possa ter chegado ali. "É temerário dizer que é, mas também é temerário dizer que não é", afirmou ao Estado. Ele encomendou análises de amostras do material paralelas às que também estão sendo feitas pela Samarco, por determinação do Ibama.

Mas o secretário disse que, ao menos para a área mais próxima da costa, o motivo da turbidez pode ser as chuvas que caíram na região nos últimos dias, que poderiam ter levado mais sedimentos para o mar.

Para o pesquisador Ronaldo Francini-Filho, da Universidade Federal da Paraíba, que há 15 anos monitora espécies de peixes e de corais de Abrolhos e tem acompanhado a movimentação da pluma de rejeitos de minério, se for confirmada a suspeita, pode acontecer uma mortandade em massa dos corais. O maior risco é que a lama cause um sombreamento na área. Em outros pontos por onde os rejeitos avançaram desde Minas Gerais, pelo Rio Doce, até desaguar no mar, observou-se que a luz não passa de 10 centímetros de profundidade. "Sem luz, os corais morrem por não fazer fotossíntese", afirma.

Para o biólogo também há o risco, dependendo da densidade da pluma, de os sedimentos cobrirem os corais. "Se isso acontecer, fica mais difícil a recuperação, porque inibe o recrutamento de novos corais."

Ele concorda, porém, que, por enquanto, é difícil ter certeza de que se trata da lama, visto que as chuvas recentes deixaram as águas da região mais turvas. Segundo Francini-Filho, a região do arquipélago é de altíssima sedimentação e costuma ter maior turbidez em situações de frentes frias, tempestades e muito vento. Portanto, diz, há uma possibilidade de se tratar de sedimentação natural.

Berçários

E mesmo se a lama não tiver atingido o Parque Nacional de Abrolhos, há outros recifes no entorno, principalmente mais perto da costa, alerta o pesquisador, que são importantes berçários de vida marinha, e podem já estar sendo afetados.

Rodrigo Leão de Moura, coordenador executivo da Rede Abrolhos, ressalta também que, mesmo se a suspeita não se confirmar agora, a ameaça de contaminação pode continuar pelos próximos anos. "Essa situação pode se tornar crônica. A lama é formada por um material muito fino, que se espalhou por uma área enorme, e que, depois de depositado, pode ser suspenso novamente a cada chuva e voltar a se deslocar. Então, se não for agora, a lama ainda pode chegar a Abrolhos." Para ele, é fundamental que seja reforçado o monitoramento, visando a uma melhor resposta se o pior cenário acontecer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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