TRAGÉDIA EM BRUMADINHO

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Vale anuncia que vai fechar 10 barragens semelhantes à de Brumadinho

A medida vai reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano

Redação Folha Vitória
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, anunciou que a companhia vai descomissionar todas as barragens que possui semelhantes à de Brumadinho, que se rompeu na última sexta-feira, 25, e causou a morte de pelo menos 84 pessoas. 

Em entrevista coletiva após se reunir com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ele disse que o programa vai custar R$ 5 bilhões e deve reduzir a produção da companhia em 10%.

Schvartsman disse que a Vale possui hoje dez barragens no modelo de Brumadinho, chamada de a montante, todas em Minas Gerais, já desativadas. Desde o acidente de Mariana, em 2015, nove foram desmontadas. A ideia da companhia, após Mariana, era fazer esse descomissionamento de forma gradual, conforme indicavam laudos internacionais. Com a tragédia de Brumadinho, a direção atual decidiu executar o plano imediatamente. 

O prazo de descomissionamento de cada barragem será de um a três anos. "Vamos eliminar e acabar com todas as barragens a montante, com efeito imediato", disse ele, ressaltando que o plano de ação da companhia, construído três ou quatro dias após o acidente, está acima de qualquer norma legal e internacional. "A decisão da companhia é que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem", acrescentou. "Trouxemos hoje a decisão de fazer o que é necessário para encerrar dúvidas."

Nesse período em que as barragens serão descomissionadas, a Vale vai paralisar a produção de minério nas áreas adjacentes, hoje feita a seco. Isso vai reduzir a produção da companhia em 40 milhões de toneladas por ano, ou cerca de 10% da produção anual, de 400 milhões de toneladas por ano. "A única maneira de fazer o descomissionamento é interrompendo a operação", disse, ressaltando que haveria risco em manter as atividades em paralelo com o descomissionamento. No período, a Vale vai diminuir a produção de 11 milhões de toneladas de pelotas. "A decisão terá impacto produtivo na companhia", reconheceu o executivo. Ele não comentou se haverá algum impacto no preço do minério de ferro - a Vale é uma das maiores mineradoras do mundo. As informações sobre o plano serão enviadas em fato relevante ainda nesta noite.

Os projetos de licenciamento para o descomissionamento das barragens estão prontos e serão enviados aos órgãos ambientais em até 45 dias. Após aprovação do licenciamento, as obras podem começar quase que imediatamente. "A Vale fará um esforço inédito para dar uma resposta cabal, à altura dessa enorme tragédia", disse. Em Brumadinho, a limpeza e o descomissionamento vão começar após os trabalhos de resgate das vítimas do acidente.

O executivo disse que a Vale nunca teve problemas com as barragens que tradicionalmente utiliza, de maciço. Segundo ele, todas as estruturas são monitoradas e passam por auditoria de forma constante. "Temos laudos e auditorias que dizem que as estruturas têm estabilidade, mas resolvemos não aceitar esses laudos e agir de outra maneira", disse. "Esse é um plano definitivo e drástico, para não deixar dúvidas sobre a segurança."

Schvartsman disse que a Vale não sofreu qualquer pressão do governo a respeito do plano. "Foram reuniões absolutamente técnicas e não houve qualquer tipo de pressão. A Vale veio com um plano pronto e apresentou ao governo o plano que pretende praticar", disse.

O executivo disse que a empresa vai manter e realocar cerca de 5 mil empregados, próprios e terceirizados, que trabalham nessas áreas onde o descomissionamento será realizado. Ele negou ainda que haja discrepâncias entre a legislação brasileira e a internacional no que diz respeito à segurança de barragens.

Impacto

“A decisão da companhia é que, depois que esse desastre aconteceu, não podemos mais conviver com esse tipo de barragem, tomamos a decisão de eliminar com todas as barragens a montante, descomissionando todas elas com efeito imediato. Para tanto será necessário paralisar as operações de mineração em todos os sítios que estão nas proximidades dessas barragens”, disse o presidente da Vale.

A decisão também foi comunicada ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema, na segunda-feira (28).

O rejeito das barragens a serem descomissionadas poderá ser convetido em outros materiais, como tijolos, ou enterrado. “Todas as 19 já estão desativadas. As descomissionadas deixam de ser barragens ou são esvaziadas ou integradas ao meio ambiente”, afirmou Schvartsman. “Isso representa um esforço inédito de uma empresa no sentido de dar uma resposta cabal à altura da tragédia de Brumadinho”, acrescentou.

O presidente da Vale disse ainda que a empresa firmou o compromisso de incorporar os cerca de 5 mil trabalhadores que serão afetados com a redução da operação, em razão do descomissionamento das barragens.

Schvartsman disse que desde a tragédia em Mariana, a companhia havia decidido desativar esse tipo de barragem. Do total de 19 barragens em Minas Gerais, nove já foram descomissionadas, isto é, tiveram suas atividades encerradas, deixando de servir como barragens.

Serão contratadas empresas de engenharia especializadas nesse tipo de procedimento. Durante o descomissionamento das barragens, a operação da companhia será paralisada. A empresa comunicará a decisão ao mercado ainda na noite desta terça-feira. “A única maneira de fazer o descomissionamento é parar a operação. A Vale tomou espontaneamente a decisão de parar todas as operações. A razão pela qual temos que parar as operações é para acelerar o descomissionamento, se fizermos isso coma operação em andamento há enormes riscos de desmoronamento”, disse Schvartsman.

Segundo o presidente, a atividade da companhia nas minas ocorrerá sem o uso de barragens a montantes. Serão utilizadas apenas barragens convencionais e um procedimento de extração de ferro a seco, adquirido pela empresa pouco antes do rompimento da barragem em Brumadinho.

De acordo com o presidente da Vale, o trabalho de recuperação de Brumadinho terá início logo após o trabalho de remoção das vítimas. “Em primeiro lugar, estamos focados no atendimento as famílias das vítimas e no resgate dentro das possibilidades das pessoas vitimadas pela enorme tragédia”, afirmou.

Pressão

Questionado por jornalistas se a decisão de descomissionar as barragens seria uma resposta à pressão do governo junto a diretoria da empresa, Flávio Schvartsman disse que apresentou o plano “que pretende praticar”. “Em nenhum momento ouvi falar de intervenção ou de pressão sobre o conselho. Quero registrar que as reuniões foram absolutamente técnicas e não houve qualquer tipo de pressão. A Vale apresentou ao governo o plano que pretende praticar, como ele tem impacto de toda a natureza é necessário que o governo tomasse conhecimento”, afirmou.

Após o rompimento da barragem, circulou a informação de que o governo federal, acionista da empresa, pudesse agir para mudar a diretoria. Mais cedo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse em entrevista coletiva no Palácio do Planalto que "não há condição" de o governo intervir para mudar a diretoria da mineradora.

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