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Secretário nega que governo recuou em envio de tropas ao Ceará

Redação Folha Vitória

O novo secretário Nacional de Segurança Pública (Senasp), general Guilherme Teophilo, afirmou que não houve recuo na decisão de envio de tropas da Força Nacional para o Ceará em meio a uma onda de ataques de facções criminosas. Ele disse que reforço foi definido "em tempo recorde" e que não houve motivação política.

De acordo com ele, ao menos 100 homens devem desembarcar em Fortaleza até o fim do dia. O efetivo completo estará à disposição para atuar no Ceará neste sábado. O comando será feito pelas autoridades locais.

A decisão de envio de 300 homens da Força Nacional ao Ceará foi informada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública no fim da manhã desta sexta-feira, 4, depois de uma reunião entre o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da pasta, Sérgio Moro, e os ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Heleno), e da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.

Embora o governador Camilo Santana, do Partido dos Trabalhadores, houvesse pedido o envio imediato, o ministério não havia decidido a enviar tropas até a noite da quinta-feira, embora tenha anunciado que deixaria tropas em prontidão. Segundo Teophilo, a decisão só veio depois porque ainda estavam sendo feitos estudos sobre o tema. "Recebemos o pedido às 18h de ontem (quinta) e estamos atendendo ao pedido com menos de 24h, não houve retardo, mas planejamento", disse o chefe da Senasp.

"Isso é um trabalho de inteligência e nós temos que não desperdiçar o emprego da tropa. Tivemos trabalho de acompanhamento de toda a situação desde o surgimento até o dia de hoje (sexta). Estou com 24 policiais civis da Força Nacional fazendo investigações no Ceará desde a morte de Gegê do Mangue. Estamos olhando de perto, não houve recuo nem demora (na decisão de enviar o reforço). O estudo indicou que devemos entregar. Foi necessário certificar que era preciso enviar os 300 homens e 30 viaturas", disse Teophilo.

Até quinta-feira à noite, pelo menos 16 veículos foram incendiados, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social cearense e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros. Segundo o governador Camilo Santana, até a manhã desta sexta-feira, as autoridades locais prenderam 45 pessoas por envolvimento em atos criminosos ocorridos no Estado.

Sobre os ataques das últimas 48 horas, Teophilo disse que as ordens vêm de dentro dos presídios. O contexto no Ceará, segundo ele, é de disputa entre facções criminosas. "No Ceará temos Comando Vermelho, PCC, Família do Norte, GDE (Guardiões do Estado), entre outros, há disputa de território, por isso o número de homicídios está tão grande", disse, falando do quadro geral.

Ele também falou que é preciso enfrentar as facções alojadas nos presídios, citando por exemplo a necessidade de cortar as comunicações. "Muitas vezes o celular que entra tem conivência da autoridade penitenciária. Temos dificuldade séria de acompanhar. De dentro para fora estamos nos preocupando, agora temos de atuar de fora para dentro também", disse.

Uma das possibilidades levantadas para os ataques é a reação de facções a declarações do novo secretário estadual de administração prisional. Teophilo não confirmou se esse era o motivo, mas disse que, embora qualquer posicionamento mais forte possa gerar represália, "isso não pode nos impedir de fazer declarações". Ele ainda elogiou o novo comandante da segurança no Ceará.

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro comentou o envio das tropas ao Ceará e elogiou a medida.

"A questão do Ceará, pelo que tudo indica, agravou a situação. Desde ontem (quinta) à noite, conversando com o ministro Sergio Moro, tratando desse assunto, ele foi muito hábil, rápido e eficaz para atender o Estado, cujo governador reeleito é uma posição radical à nossa. Nós jamais faremos oposição ao povo de qualquer Estado. E o povo do Ceará precisa neste momento. As medidas já foram tomadas. Faltava por parte do governo do Ceará se enquadrar, e via ofício informar, da real necessidade da presença da força pela sua incapacidade de resolver o problema", disse Bolsonaro.

Teophilo negou que tenha pesado na decisão o cenário político no Estado, em que o governador Camilo Santana (PT) é de um partido de oposição a Bolsonaro. Ele disse que, inclusive, é amigo do secretário estadual de segurança. Sobre o fato de ter sido candidato ao governo do Estado pelo PSDB em outubro, disse que ser político nunca foi uma vontade sua e ele concorreu apenas a pedido do senador Tasso Jereissati.

Segundo o secretário da Senasp, a longo prazo, a intenção é utilizar menos tropas nos Estados e fortalecer a atuação dos órgãos locais de segurança. Atualmente a Força Nacional atua em 23 Estados da Federação. "Tentaremos fortalecer o uso das forças estaduais para reduzir o uso da Força Nacional. A ideia é não empregar as Forças Armadas de forma prematura. A ideia é que a Força Nacional aumente e seja um amortecedor entre a segurança pública estadual e as Forças Armadas", disse Teophilo.

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