CARNAVAL 2020

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Após polêmica, Carnaval de Vitória elege a primeira rainha trans

A Família Real foi eleita na última quinta-feira (17) com a nova categoria destinada a pessoas trans e a travestis

Foto: Dicesar Rosa

Falta menos de um mês para que o Sambão do Povo mude de cara e se encha de alegria, mas foi longe de lá que a atenção do mundo do Carnaval capixaba esteve nesta quinta (17).

A quadra da Unidos da Jucutuquara foi sede do concurso para a Família Real do Carnaval Capixaba. Foram eleitos Augusto Silva, rei, Eduarda Lima e Joyce Alves, princesas, e Melanie Jorden e Suelen Barbosa, rainhas. Rainhas, no plural.

Desde a última semana, surgiu uma polêmica na eleição para a Família Real da festa. Mulheres trans e travestis estariam impedidas de participar da disputa para a Rainha do Carnaval.

O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge) negou e disse que tudo não havia passado de um mal-entendido. “Não havia a previsão dessa possibilidade no regulamento”, esclareceu Edvaldo Teixeira.

Para resolver o problema, Deborah Sabará, presidente do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Associação GOLD), procurou a liga. “Uma das concorrentes veio conversar comigo porque o regulamento obrigava a utilização do nome de registro”, contou em entrevista para o Folha Vitória.

Foto: Walace Marrocchi/ Divulgação
Deborah Sabará, presidenta da GOLD

Deborah também confessou que ficou comovida com a polêmica porque ama o samba. “Não se pode proibir uma pessoa que não fez a cirurgia de redesignação sexual de participar só porque ela tem um pênis. O pênis não define o gênero”.

Agora, com o concurso, Deborah espera que novas políticas de inclusão venham. “O Brasil é o país que mais mata travestis e trans no mundo. Do início do ano até o dia 15, já foram sete mortas. A gente tem que trazer o debate para dentro das Escolas de Samba”, pondera a presidenta. Ela também acrescentou que há planos para 2021. “Para o ano que vem queremos fazer a eleição da Família Real LGTB”, contou.

O concurso

Ainda na entrevista para o Folha Vitória, Deborah Sabará defendeu a importância de ter havido a separação dos concursos, elegendo duas rainhas. "Valoriza a identidade das trans e das travestis. Ao contrário do que pensam, temos muito orgulho", aponta.

Foto: Reprodução / Instagram
Melanie Jorden, a Rainha Trans do Carnaval

Ela também acredita que a eleição de forma alguma é depreciativo. "Fazer outro concurso para pessoas de identidade trans não é uma forma de desmerecer, é uma forma de dar autoestima a essa população".

O concurso previa uma premiação em dinheiro para os eleitos, mas Melanie não irá ganhar. Segundo Everaldo, o orçamento não permitia. Porém, para o próximo ano, a liga e a associação pretendem sentar e conversar para criar um concurso para uma Família Real LGBT, como adiantou Deborah.

Outros carnavais

A participação de pessoas trans e de travestis no Carnaval não é de hoje. Na mais tradicional das folias, a do Rio de Janeiro, a Beija-flor de Nilópolis levou para a avenida Eloina dos Leopardos entre 1976 e 1978. Joãozinho Trinta, lendário carnavalesco, colocou-a à frente da bateria, e ela é considerada como a segunda rainha de bateria da história, posto imortalizado por Monique Evans somente em 1985.

Foto: Reprodução/Facebook
Primeira porta-bandeira trans do Carnaval foi Deborah Sabará

Já no Estado, a primeira rainha de bateria transexual foi Ednamara, que desfilou pela Mocidade da Praia, em 1980. Susette Barcellos foi a segunda, pela Chegou o Que Faltava, por três anos durante os anos 90. Após ela, Elaine Veiga também ocupou o posto pela Imperatriz do Forte, em 2001.

Deborah Sabará também fez história. "Em 2009, fui ser porta-bandeira da Imperatriz do Forte. Quiseram me impedir, houve reuniões, reportagens, e até algumas agremiações contrárias, mas eu consegui ser porta-bandeira", lembra.

Para Deborah, o concurso já deu resultados imediatos. Ela crê que o caso criou questionamentos e dúvidas nas pessoas, e que isso pode ajudar a esclarecer dúvidas. E ela explica que não se pode confundir pessoas trans e travestis com drag queens e transformistas. “As travestis e as mulheres trans vivem 24h por dia a identidade feminina; drag queens e transformistas, vivem a identidade para o espetáculo”, elucida.

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