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Chuvas no ES: desastres também são provocados por ações humanas, dizem especialistas

Entenda as tempestades, chuvas intensas e enchentes da última semana

Andressa Missio

Redação Folha Vitória
Foto: Andressa Missio

O dia vira noite, o sol se esconde atrás das nuvens carregadas e - não à toa - o capixaba já fica em alerta. A enchente no sul do Espírito Santo, e as últimas chuvas fortes na Grande Vitória resultaram em prejuízos, milhares de pessoas expulsas das próprias casas e a perda de vidas. 

Nos 4 municípios mais afetados, foram quase 3 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. 7 pessoas morreram. 

Mas até que ponto os desastres são naturais? Quando são provocados pela ação humana? Poderiam ser evitados? 

Para a doutora em Oceanografia Kyssyanne Samihra Oliveira, pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a chuva e o vento forte dos últimos dias são explicados pela formação de um ciclone subtropical na costa do Estado, denominado "Kurumi". Portanto, não poderiam ser evitados. Ao mesmo tempo, a pesquisadora alerta que o aquecimento do planeta tem gerado aumento no número e na gravidade de eventos desta natureza. 

No caso de Iconha, foram 250 mm de chuva num intervalo de 2 horas. É mais do que o previsto para dois meses na região, mesmo na estação mais quente e úmida do ano. Chuva que atingiu principalmente as cabeceiras dos rios, o que leva à cheia instantânea e as enchentes. 

Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
Resgate de uma das vítimas da enchente, em Iconha

Ocupação desordenada

Para o ambientalista Luiz Fernando Schetino, problemas ambientais como o desmatamento e a ocupação desordenada do solo são fatores que contribuem para a ocorrência de situações extremas: longos períodos de estiagem, ou muita chuva em um curto espaço de tempo. "Com o aquecimento global, a tendência é o aumento do número de tempestades", adverte o ambientalista. 

Em Cobilândia, Vila Velha, é difícil encontrar morador que nunca tenha sofrido com alagamentos. O comerciante Marcos Antônio Helal chegou a alterar toda a configuração da loja para "perder menos" durante os episódios. As mercadorias ficam em estantes altas, longe do chão. "Toda vez que chove é a mesma coisa, a água invade a loja. Por isso resolvi tomar essa medida", conta o empresário. 

Mudanças também na loja de produtos veterinários. No chão, ficam apenas objetos de plástico. O restante fica em prateleiras elevadas. Já na fachada, o vendedor Yuri Ferreira diz que o vidro foi trocado por concreto. 

A aposentada Alaídes de Oliveira Santos também se apavora a cada previsão de chuva. Há mais de cinquenta anos morando em Cobilândia, ela perdeu as contas de quantas vezes precisou reformar a casa após alagamentos. Esta semana, correu para a casa dos filhos, com medo de ficar ilhada. 

Morros e encostas

Quem mora em morros ou encostas também fica precisa ficar em alerta. Entre os sinais de risco, estão rachaduras que aparecem logo após chuvas intensas, e pequenos deslizamentos próximos à moradia. É o que explica o Ten Cel Carlos Wagner Borges, do Corpo de Bombeiros. "Em primeiro lugar, a segurança e a vida. Saia de casa aos primeiros sinais, vá para a casa de parentes e, principalmente, entre em contato com a Defesa Civil do seu município", alerta. 

Segundo Borges, não são apenas as construções irregulares que correm riscos. "No passado, não havia a preocupação necessária das autoridades com a liberação de obras em locais perigosos, como morros, encostas e beira de rio. Hoje, sofremos as consequências", comenta. 

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