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Justiça marca audiência para ouvir acusados de "racha" e mortes na Terceira Ponte

Os acusados respondem em liberdade por duplo homicídio com dolo eventual e por participar de corrida ou exibição em veículo automotor em via pública

André Vinicius Carneiro

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução
O advogado Ivomar Rodrigues e o estudante Oswaldo Venturini são acusados de disputarem um racha na Terceira Ponte.

Quase dois anos após o acidente que ocasionou a morte do jovem casal Kelvin Gonçalves dos Santos, de 23 anos, e Brunielli Oliveira, de 17 anos, o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior e o estudante universitário, Oswaldo Venturini Neto, serão ouvidos pelo juiz responsável pelo caso. Os dois acusados respondem em liberdade por duplo homicídio com dolo eventual e por participar de corrida ou exibição em veículo automotor em via pública. O atropelamento aconteceu na Terceira Ponte em 22 de maio de 2019.

O juiz Marcos Pereira Sanches, da 1ª Vara Criminal de Vitória, marcou para os dias 10 e 12 de fevereiro, e 19 de março, a primeira audiência para oitivas das testemunhas e interrogatório dos motoristas. De acordo com a polícia, Ivomar e Oswaldo praticavam um racha e teriam ingerido bebida alcoólica. Kelvin e Brunielly seguiam para Vitória em uma moto quando foram atingidos por um dos veículos. 

Foto: Reprodução/Facebook
Kelvin Gonçalves e Brunielli Oliveira tiveram a moto atingida na Terceira Ponte, em maio de 2019

Segundo o magistrado, diante do grande número de testemunhas, seria inviável o agendamento em data única. Desta forma, o juiz decidiu que nos dias 10 e 12 de fevereiro, serão realizada as oitivas das testemunhas arroladas pelo Ministério Público e pelos assistentes de acusação. Já no dia 19 de março, será realizada a oitiva das testemunhas arroladas pela defesa, além do interrogatório dos acusados. 

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Inicialmente, a Audiência de Instrução e Julgamento havia sido agendada para o dia 04 de novembro de 2019, mas foi cancelada devido a soltura dos réus. 

De acordo com o assistente de acusação no processo judicial, Siderson Vitorino, o momento é de expectativa pela audiência de instrução. "Os réus dirigiam embriagados e em altíssima velocidade na Terceira Ponte, disputando um racha. A oitiva das testemunhas é importantíssima para elucidar as verdades já contidas nos autos", afirma o advogado. 

Vídeo exclusivo

Foto: Reprodução TV Vitória

Em setembro de 2019, o jornalismo da Rede Vitória teve acesso, com exclusividade, a imagens internas da boate em que os acusados Ivomar Rodrigues Gomes e Oswaldo Venturini Neto, consumiram bebida alcoólica, antes de provocarem o acidente que causou as mortes de Brunielly da Silva, de 17 anos e Kelvin Gonçalves, de 23 anos. 

As imagens internas da boate revelam que dois policiais militares estavam no local. Em determinado momento, Oswaldo aparece ingerindo cerveja na frente dos policiais. Do lado de fora do estabelecimento, os policiais observaram o momento em que os acusados saem do local.

Cronologia dos fatos

Em depoimento, um amigo dos acusados, que estava com eles na noite do acidente, relevou que os três estavam em um bar em Vitória, quando Ivomar sugeriu, por volta de 22h40, ir até a boate de Vila Velha para tomarem uma 'saideira', na boate de um amigo.

Quando chegaram no local, os três entraram sem serem revistados, prática incomum na entrada do estabelecimento. 

1h: Os policiais militares aparecem no balcão da boate. Eles conversam durante alguns minutos com a mulher que opera o caixa do estabelecimento e observam o movimento do local. Neste momento, Ivomar chega, acompanhado do amigo, para pagar a conta. Em seguida, Oswaldo aparece bebendo uma cerveja. Ele fica parado ao lado do policial militar e apoia a bebida no balcão.

1h16: o trio sai da boate. Do lado de fora, Oswaldo e Ivomar se cumprimentam em frente aos policiais militares. Neste momento, outra guarnição da PM aparece no local e os policiais vão ao encontro da viatura. Os acusados e um outro amigo conversam e mais tarde, Oswaldo passa novamente em frente aos policiais, bebendo cerveja. Em seguida, os acusados entram nos veículos e saem do local, em frente aos policiais militares, que observam a saída dos acusados.

Especialista: 'eles tinham o dever de autuar'

Ao analisar as imagens, o advogado criminalista Alex Bello Lino disse, na época, que "a polícia militar deveria intervir, caso tivessem ciência de que essas pessoas estavam bebendo e assumiram a direção do veículo. Deveria abordá-los e prendê-los em flagrante".

Sobre o fato de os policiais estarem na boate, fardados e em horário de serviço, o advogado disse que "se eles tinham ciência de que aquele lugar era uma casa de prostituição, eles tinham o dever de autuar em flagrante o proprietário da casa, porque manter casa de prostituição é crime. Se eles tinham essa ciência, eles cometeram o crime de prevaricação".

Vídeos foram apagados de boate

Outro fato relevante é que, segundo um investigador da Polícia Civil, o dono da casa noturna disse, durante as investigações, que apagou os vídeos da boate, que mostram Oswaldo e Ivomar bebendo. O proprietário justificou que apagou o vídeo por estar sofrendo represálias de algumas pessoas. "A pessoa que alterou, de alguma forma, a cena do crime, está cometendo o crime de fraude processual", diz o advogado Alex Bello.

Outras imagens exclusivas, da Terceira Ponte, mostram que os carros de Ivomar e Oswaldo ficaram parados em cima da ponte, durante alguns minutos, momentos antes do acidente. Segundo o advogado criminalista, cabe às investigações, descobrir se neste momento houve algum combinado para a prática do racha.

Outro lado

Por meio de nota, a Polícia Militar informou, na época, que tomou as medidas cabíveis, caso sejam comprovadas quaisquer irregularidades na conduta dos policiais envolvidos. Segundo a nota, "os policiais que realizam patrulhamento ostensivo em regiões de comércio noturno, com aglomeração de pessoas e bens materiais, possuem orientação para realização de visitas nesses estabelecimentos, com o objetivo de trocar informações com seguranças privados e funcionários, e checar se há algum tipo de ocorrência em andamento, ou algo suspeito".

O caso

Foto: Reprodução

A batida que tirou a vida do casal Kelvin e Brunielly aconteceu na madrugada do dia 22 de maio de 2019, na Terceira Ponte, quando acusados e vítimas seguiam no sentido Vila Velha - Vitória. O casal estava em uma moto quando foi atingido pelos veículos que, segundo a polícia, participavam de um "racha". As vítimas morreram na hora. Já os suspeitos foram detidos e encaminhados para o presídio.

O laudo pericial detalhado sobre o acidente aponta que foi o veículo dirigido pelo advogado Ivomar Rodrigues, um Audi, que atingiu a moto. O laudo apontou ainda que o advogado não freou antes da colisão. Ivomar, segundo a perícia, seguia a 149 km/h e só acionou os freios no momento exato da colisão.

Já o carro de Oswaldo, um Toyota Etios, colidiu contra o Audi a 144 km/h, segundo o laudo pericial. Com a batida, o veículo do advogado atingiu a moto. Em seguida, o Etios girou, atingiu o Audi novamente e colidiu contra a mureta da ponte.

Ivomar e Oswaldo foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPES) por duplo homicídio doloso. A Justiça acatou a denúncia, o que fez com que os acusados se tornassem réus no processo.


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