CORONAVÍRUS

Geral

Secretaria de Saúde avalia aplicar dose única da vacina contra a covid-19; especialistas comentam

Estudiosos temem que, na tentativa de imunizar um número maior de pessoas, a Sesa acabe perdendo tempo e dinheiro, ao aplicar apenas a primeira dose ou postergar a aplicação da segunda

Foto: Reprodução/Pexels

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) avalia a possibilidade de aplicar apenas uma dose da vacina contra a covid-19 na população ou dar um intervalo maior entre a aplicação da primeira e da segundo dose. A afirmação foi dada pelo secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, durante uma entrevista ao programa ES no Ar, da TV Vitória/Record TV, na última terça-feira (5).

O secretário afirmou que está na expectativa de que estudos mostrem que as vacinas funcionam com apenas uma dose ou com a segunda dose postergada. "Com os resultados das demais vacinas, de que elas têm uma eficácia satisfatória e, com uma única dose, seja possível imunizar uma quantidade maior de pessoas, nós poderíamos então imunizar a ampla maioria da população e, em um segundo momento, aplicar a segunda dose. Não se descarta e não se diz que é uma dose única, mas uma primeira dose para toda a população, para uma extensão maior do povo, e uma segunda dose, em um segundo momento", declarou Nésio Fernandes.

No entanto, especialistas temem que, na tentativa de imunizar um número maior de pessoas, a Secretaria Estadual de Saúde acabe perdendo tempo e dinheiro, ao aplicar apenas a primeira dose ou postergar a aplicação da segunda até aumentar a oferta de vacinas.

"Nós temos que seguir o que a fabricante informou na bula, porque quando ela registra, ela registra uma bula. Então a gente não pode mudar esquemas. Por exemplo, se você e eu estivéssemos infectadas com uma bactéria e precisássemos tomar um antibiótico, e aí, como não tem antibiótico para nós duas, eu vou dividir o comprimido. Não vai tratar nem você e nem a mim. Então isso não pode acontecer. A gente precisa tomar a dose recomendada para combater aquela bactéria ou aquele vírus", afirmou a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pós-doutora em epidemiologia, Ethel Maciel.

Já o professor de imunologia da Ufes, Daniel Gomes, explica que, normalmente, as vacinas para doenças raras, como a covid-19, protegem somente após a aplicação de duas doses, no tempo correto entre uma e outra. Do contrário, segundo o professor, elas não fazem o efeito desejado.

"Se a gente pensar no pior dos cenários, essa vacina poderia não ter eficácia nenhuma. Isso significaria que a população vacinada ou os indivíduos vacinados estariam susceptíveis a desenvolver a doença", destacou.

Ethel Maciel afirmou estar otimista com o início da aplicação das vacinas da Universdade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, no Reino Unido, no início desta semana. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) segue em negociação para comprá-las.

"A AstraZeneca já enviou os documentos para a Anvisa. Estamos aguardando. A Anvisa fez a segunda reunião com o grupo da Fiocruz, para esclarecer ainda algumas dúvidas que havia no envio de alguns documentos. Mas a gente acredita que, até o final de semana, a gente tenha essa resposta da Anvisa", afirmou a epidemiologista.

No entanto, como as demais vacinas já aprovadas e em uso em outros países contra o novo coronavírus, a da AstraZeneca precisa ser aplicada em duas doses. A professora explica que a segunda dose deve ser recebida até 28 dias depois da primeira.

"Algumas fabricantes que já foram aprovadas, como a Pfizer, tem uma diferença de, se não me engano, 14 dias. Algumas outras fabricantes, 21 dias, e algumas, 28 dias. Essa é a maior diferença até agora, entre uma dose e outra. No Brasil, a gente tem vacinas que são de duas doses e vacinas de até três doses. Mas a gente não tem ainda uma em que a primeira e a segunda dose sejam num intervalo curto, dessa forma. Então será um desafio nós termos que fazer uma campanha com duas doses", ressaltou Ethel Maciel.

No entanto, tem se mostrado eficiente a vacina de dose única da Jansen — o braço farmacêutico da Johnson & Johnson. Trata-se da única vacina, até agora, com essa característica e que encontra-se em fase final de testes, que devem terminar neste mês.

"Até o momento, a empresa cujo imunizante mostrou ser seguro e eficaz com uma dose apenas foi a vacina da Jansen, que está prometendo que finaliza os resultados em janeiro. Seria, então, uma ótima oportunidade para que o Brasil começasse a fazer acordo com essa empresa. Já começasse agora, porque os resultados de fase 1 e fase 2 foram muito bons e é uma vacina de uma dose só", destacou Ethel Maciel.

Especialistas afirmam que pelo menos 70% da população deve ser vacinada para barrar a disseminação da covid-19. Alertam ainda sobre os riscos de o novo coronavírus continuar circulando por aí. Inclusive, uma forma mais transmissível do vírus já está entre os brasileiros.

"Essa mutação envolveu muito mais a capacidade de infecção dela, mas não a virulência dela. Então ela não é mais agressiva, e sim ela é mais capaz de infectar pessoas, comparada com a cepa original", explicou Daniel Gomes.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 

Pontos moeda