Psicólogos da Ufes fazem revezamento para atender policiais no HPM
Com os corredores lotados de policiais que alegram desequilíbrio, hospital precisou de reforço no atendimento
Do Hospital da Polícia Militar (HPM), um soldado sai sem a farda, descalço e com o olhar vazio mirando o nada. "Esse aí era da minha turma", diz um outro que foi levar um amigo, também policial, para a instituição. "Ele me ligou e pediu para trazê-lo porque está sem condições de dirigir", informou o rapaz. A situação se tornou comum para quem acompanha a rotina do hospital, em Bento Ferreira, em Vitória, lotado de policiais militares desde o começo da semana, quando se intensificou a crise de segurança pública no Espírito Santo.
"Tem psicólogos da Ufes fazendo atendimento lá dentro. Mais de 10 no momento se revezam para atender aos policiais que chegam com crise de choro, tremendo, em desequilíbrio emocional, estresse. Muitos deles se automedicaram. É bom lembrar que eles têm armas na mão, o que favorece um pensamento ainda pior num quadro de desequilibrado como esse", relata o Psicólogo , doutorando em Ciências Sociais e professor de psicologia e sociologia do Curso de Formação de Aperfeiçoamento (CFA) da Polícia Militar Pedro Luiz Ferro.
Para o professor, a situação é efeito de um sistema militar que não se sustenta. "Começamos a ministrar aulas de psicologia e sociologia para os policiais há quatro anos e nesse tempo houve uma diminuição drástica na situação de violência do Estado. Os meninos já entram com uma formação melhor, muitos deles vieram dos Institutos Federais (Ifes). Não é uma tropa como nos anos 70 e 80", explicou Ferro.
Para o professor, a razão do quadro apresentado pelos policiais é a situação de forte pressão a que eles estão sujeitos. "Muitos deles só tem isso. Eles estão com medo de serem exonerados, serem expulsos, mas também estão divididos em relação ao movimento. Muitos são vistos nas ruas trabalhando e chamados de traidores, hostilizados. Eles estão sentindo um mistura de diversos sentimentos negativos. Vergonha, pavor, principalmente", descreve o professor.
A Secretaria de Segurança Pública não soube informar o número de profissionais que estão atendendo os policiais no hospital nem a quantidade de policiais que procuraram o serviço, mas afirma que todos que estiverem com problemas de saúde, física e mental, e buscaremo HPM serão devidamente atendidos. De acordo com a Sesp há ainda um esforço em buscar mais profissionais para dar celeridade ao atendimento realizado no hospital.
Um dos policiais que foi buscar auxílio no local e saiu de lá sem atestado médico informou que os oficiais médicos que atendem no local foram proibidos de dar atestado médico. "Como que eles querem que a gente volte pra rua assim? Desequilibrados e portando uma arma. Em vez de segurança, o que o polícia vai levar para a sociedade?" questionou. Sobre a determinação, a assessoria da Polícia Militar informou que vai apurar com clareza a acusação.