Equador faz neste domingo referendo que pode impedir Correa de voltar ao poder
Quito - Os eleitores equatorianos irão às urnas neste domingo para decidir, entre outras coisas, se a possibilidade de se reeleger mais de uma vez para o mesmo cargo continuará permitida no país ou não, um movimento que pode impedir o ex-presidente Rafael Correa de voltar ao poder após deixar o posto, no ano passado.
O referendo foi convocado pelo atual presidente, Lenin Moreno, que foi vice de Correa entre 2003 e 2007, e provocou uma rusga os dois. Antes visto como uma continuação do governo anterior, Moreno parece buscar agora se distanciar de seu mentor, que se esforçou para elegê-lo. "Ninguém deveria acreditar que é dono do poder", disse Moreno em um comício na última quarta-feira.
Pesquisas indicam que a votação, que contém outras seis perguntas, deve dar vitória a Moreno, consolidando seu poder e afastando de vez Correa de perseguir outro mandato.
Correa comandou o Equador por uma década, período no qual se firmou como um líder com grande apelo junto aos mais pobres, beneficiados por grandes programas sociais e de assistência médica. Embora seja considerado por muitos o responsável por trazer estabilidade à nação, o ex-presidente também é criticado por reformas que centralizaram o poder no Executivo e silenciaram seus críticos.
Correa fez campanha para Moreno na eleição do ano passado, elogiando seu escolhido e dizendo que ele era a melhor pessoa para levar adiante o "socialismo do século 21" que implementou no Equador.
Oito meses depois, a relação entre os dois se deteriorou a ponto de Moreno acusar Correa de plantar uma câmera em seu escritório. Para o desgosto de Correa, o agora mandatário também se aproximou de lideranças empresariais conservadoras e estabeleceu pontes com grupos antes afastados por ele.
Esta semana, Correa, que passou a viver na Bélgica, país de sua esposa, voltou ao Equador para fazer campanha contra o homem que agora chama de "traidor". "Vamos dizer não a este referendo desonesto", disse a apoiadores.
Analistas acreditam que Correa ainda tem a lealdade de cerca de 25% do eleitorado do país. No entanto, sua influência tem diminuído ao longo do tempo e agora está em cheque. Seu ex-presidente, Jorge Glas, foi recentemente condenado a seis anos de prisão por aceitar propina da Odebrecht. Recentemente, Correa deixou o partido que ajudara a fundar e que agora está sob liderança de Moreno.
"Seu legado está sendo questionado", disse Carlos de la Torre, professor da Universidade de Kentucky. "Estamos vendo uma espécie de Perestroika, encabeçada por Lenin". Fonte: Associated Press.