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Demora ao comunicar surto de diarreia em creche de Vila Velha pode atrapalhar investigação

Afirmação é do secretário municipal de Saúde, Jarbas Ribeiro de Assis Junior. Cinco crianças foram internadas devido ao problema. Uma delas morreu

Foto: TV Vitória

A demora na comunicação à prefeitura sobre o surto de diarreia ocorrido em uma creche da Praia da Costa, em Vila Velha, pode prejudicar a investigação que apontará o que causou o problema. A afirmação é do secretário municipal de Saúde, Jarbas Ribeiro de Assis Junior, que atendeu a imprensa na tarde desta quarta-feira (27).

Segundo o secretário, devido a gravidade da diarreia observadas nas crianças, o caso deveria ser comunicado imediatamente pelos pais, pela escola ou pelo próprio hospital onde as crianças deram entrada. "Demorou-se demais a conversar com a Secretaria Municipal de Saúde. Os sintomas começaram no dia 15 de março e nós só tivemos a informação no dia 22, uma semana depois. A investigação fica muito prejudicada com isso. O ideal da investigação é logo no início. Não é qualquer diarreia, mas uma diarreia com sangue, uma diarreia mais grave. Teve situações que a criança teve diarreia de meia em meia hora. Então quadros assim precisam ser rapidamente informados à Vigilância do município de Vila Velha", destacou.

"Todo mundo acha que a diarreia é uma coisa muito natural, todos nós temos  diarreia. Só que o sintoma começou dia 15 e dia 17 já internou. Então, nesse caso, o hospital tinha que ter naturalmente nos informado. O outro internou dia 19 e nós só fomos saber dia 22. Então faltou informação do hospital, da escola, todos podiam ter notificado. Qualquer cidadão pode notificar", completou.

O secretário explica que a investigação pode ser prejudicada pelo fato de as crianças contaminadas já terem sido medicadas. "As pessoas começam a ser tratadas e, ao serem tratadas com algum medicamento, isso interfere no exame. Um antibiótico que possa ter sido usado em casa ou no hospital já mata as bactérias", pontuou.

Investigação

A investigação que deverá apontar a causa do surto de diarreia é feita por meio de um inquérito epidemiológico instaurado pela Prefeitura de Vila Velha. A investigação inclui amostra da água, alimentos e brinquedos, além de uma apuração no hábito de higiene adotado na creche. Os exames estão sendo realizados no Laboratório Central (Lacen) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Na manhã desta quarta-feira, foi realizada uma reunião entre representantes da Prefeitura de Vila Velha e Sesa para tratar do assunto. Durante o encontro, ficou definido que o Lacen dará prioridade aos exames referentes ao caso.

"Eles estão passando todas as informações para a gente, estamos conversando o tempo todo. Hoje de manhã tivemos uma reunião e um dos encaminhamentos foi fazer a busca de todo e qualquer material biológico que o hospital tivesse dessas crianças. Hoje nós fomos coletar o material biológico dessas duas crianças (urina, fezes, sangue) para encaminhar ao Lacen. Além disso, foi feita a busca dos prontuários dessas crianças para ver a evolução desses meninos desde o primeiro dia de internação até o dia atual", afirmou a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Vila Velha, Giovana Ramalho.

Além do material biológico das crianças, foram coletadas amostras de água e alimentos tanto da creche onde ocorreu o problema quanto de um quiosque onde duas das crianças estiveram antes do início do surto.

"A Vigilância Sanitária coletou, nos últimos dois dias, material junto ao quiosque onde as crianças teoricamente ingeriram o alimento que pode ter causado [a diarreia], mas estamos esperando o resultado do exame para poder confirmar essa situação. E a partir dessa reunião que tivemos hoje, estamos coletando também alimentos da creche para encaminhar para o Lacen para fechar os dois campos de intercessão, que é na creche e no quiosque", destacou a Gerente da Vigilância Sanitária de Vila Velha, Flávia Costa.

Exames

Giovana Ramalho explica que, a partir de um exame de cultura, que está sendo feito no material coletado nos dois estabelecimentos, será possível apontar qual agente etiológico - causador de alguma doença - foi o responsável por causar a diarreia nas crianças.

"Hoje a gente está lidando com um agente etiológico desconhecido. A gente sabe que alguma coisa fez mal a essas crianças e estamos investigando a fundo para saber quem é esse agente. Saiu quem é o agente etiológico, a gente tem mais ou menos um norte de onde ele está", explicou.

"O que crescer na cultura que estamos fazendo no Lacen vai nos indicar o que pode ser, se é uma bactéria, um fungo, um vírus. Vai nos orientar e nos direcionar de onde deve ter sido a causa do problema", completou o secretário, que, no entanto, admitiu a possibilidade de o exame não apontar o agente causador do surto.

"Possibilidade tem de não crescer nada e a gente vai ficar sem saber o que de fato aconteceu. Mas vamos acreditar que esteja crescendo alguma coisa ainda e se consiga fazer esse diagnóstico. A gente está com uma expectativa de que está começando a crescer alguma coisa em uma das placas", ponderou.

Surto pode ter sido causado por bactéria

Apesar de adotar cautela com relação ao resultado do exame que apontará o agente causador do surto de diarreia, o secretário adiantou que há uma grande possibilidade de o problema ter sido gerado por uma bactéria.

"A gravidade dos fatos fala muito a favor de uma infecção por bactéria. Mas que bactéria é essa? Cada bactéria tem o seu tratamento. A infecção por vírus costuma ser mais branda. Mas é apenas um indicativo. Agora, pode ter uma criança com maior deficiência imunológica que outra e a situação, então, se agrava mais. Mas são apenas suposições. A gente vai ter mais informações quando tiver os resultados e os prontuários. Nós não temos hoje informação do dia a dia da internação para poder juntar com os exames que estão vindo", afirmou.

Sobre o prazo para que o resultado do exame seja conhecido, os representantes da Prefeitura de Vila Velha preferiram não determinar uma data, mas admitiram a possibilidade desse resultado sair já no próximo sábado (30).

"Cultura não depende muito do profissional de saúde, mas sim do germe crescer. Então é preparada uma lâmina e se espera que formem-se colônias para a gente entender e fazer o reconhecimento do germe. Isso, infelizmente, não é de um dia para o outro. Demora dias", explicou Giovana Ramalho.

O caso

Cinco crianças, com idades entre 2 e 3 anos, foram hospitalizadas após um possível caso de contaminação em uma creche particular na Praia da Costa, em Vila Velha. Uma delas, que estava internada em coma em um hospital particular no município morreu na tarde desta quarta-feira (27).

Segundo informações da prefeitura, a criança, um menino de 2 anos, apresentava um quadro que sugeria a falência dos rins e edema cerebral. A criança estava internada desde o último dia 19, após sofrer com uma diarreia com sangue nas fezes.

Outra criança segue internada no mesmo hospital particular de Vila Velha. O quadro dela é considerado estável. Uma terceira criança está em observação em um hospital de Vitória e as outras duas já tiveram alta. Das cinco vítimas, quatro seriam da mesma turma.

"Houve uma contaminação dentro da escola, de um para outro. Mas ela pode ter vindo de fora e é dessa fonte que nós estamos atrás", frisou o secretário de Saúde de Vila Velha.

A creche onde aconteceu o surto teve as aulas suspensas. O dono do estabelecimento foi quem comunicou o fato à Prefeitura de Vila Velha. Já o quiosque onde duas crianças teriam ido antes do surto, permanece aberto, já que não apresentou nenhuma irregularidade na vistoria feita pela Vigilância Sanitária. Entretanto, um facão foi levado para ser examinado.

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