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Homem que é homem: Projeto oferece terapia para agressores

No ano de 2018, a reincidência ficou em 5% entre todos os participantes projeto

Marlon Max

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/ Polícia Civil

Um projeto social oferecido pelo governo do estado, chamado Homem que é homem, oferece terapia, palestra e suporte psicossocial para homens envolvidos em casos de agressão doméstica. A reportagem do Folha Vitória conversou com a Psicóloga Ana Paula Milani, uma das profissionais que estão na linha de frente do projeto.

Folha Vitória: Como os homens ficam sabendo e chegam até o projeto?

Ana Paula Milani: A adesão nesse projeto é voluntária, então é a gente sempre faz o convite a esses homens que tem alguma algum tipo de procedimento na delegacia -- então pode ser por meio de um boletim de ocorrência, ou de um inquérito instaurado ou até mesmo de alguma solicitação do ministério pelo Ministério Público.

Folha Vitória: E depois do convite, se ele aceitar, o que é oferecido pra ele?

Ana Paula Milani: Ele vai para um primeiro encontro onde ele assiste a uma palestra sobre a Lei Maria da Penha, nesta palestra, que é dado geralmente uma delegada que explica o porquê ele tá respondendo dentro dessa lei, e quais são as consequências e orienta sobre medidas protetivas. Aí depois que ela dá essa palestra, a gente faz um convite para eles de novos encontros com a equipe psicossocial.

Folha Vitória: Qual o perfil do homem que participa dessas reuniões?

Ana Paula Milani: Ao final de cada ano, quando a gente encerra o nosso ciclo de trabalho a gente faz um perfil geral dos participantes daquele ano. Por exemplo o perfil geral dos participantes 2018 ficou na faixa etária de 41 à 50 anos de idade, com uma escolaridade de fundamental incompleto e com vínculo empregatício formal. Entretanto com uma renda familiar que oscila de um a dois salários mínimos.

A psicóloga complementa a informação, justificando a ausência de pessoas de classes mais favorecidas no projeto.

Ana Paula Milani: E aí você pode me perguntar assim: Então isso só acontece nas classes menos favorecidas economicamente? Mas nós já tivemos diversos outros perfis dentro do nosso projeto, como empresários, médicos e professores universitários. Mas geralmente, esses resolvem tudo no âmbito privado e as políticas públicas não conseguem contabilizar esses casos.

Folha Vitória: Como é a receptividade dos homens no projeto? Pode-se dizer que eles gostam de estar participando desse ciclo de reuniões?

Ana Paula Milani: O nível de satisfação é muito alto. A gente tem avaliado desde que implantou o projeto que poucas coisas foram necessário ajustar para atendê-los. Inclusive, muitos homens pedem para continuar a participar, porque começam a entender que aquele espaço não é um espaço de punição, não é um espaço de perseguição, mais é um espaço, sobretudo, de diálogo.

Folha Vitória:  Vocês conseguem monitorar os casos para verificar o percentual de melhora ou de reincidência?

Ana Paula Milani: No ano de 2018 a reincidência ficou em 5% de todos os participantes da equipe passaram pelo projeto. A reincidência gira em torno disso desde que o projeto foi implantado em 2015. Um outro retorno também que a gente tem é das próprias mulheres às vezes elas procuram a delegacia para prestar uma nova declaração dizendo que depois que ele passou pelo pelo projeto que ele melhorou.

A psicóloga relembra casos de em que considera ter alcançado o objetivo do projeto. Ela relata a história de um jovem universitário que agrediu a esposa e só percebeu a dimensão do seu erro durante a dinâmica do projeto. 

Ouça o relato em áudio:

Relato: caso de violência

Ana Paula ainda frisa que as situações de agressão doméstica não são apenas entre casais, mas a lei Maria da Penha resguarda inclusive mulheres em casos de violência cometido entre irmãos. Ela conta a história de um casal de irmãos que chegaram ao projeto por causa de uma briga judicial, mas que chegaram a um acordo durante as terapias. 

Ouça o relato em áudio:

Relato: caso de violência (continuação)

Sobre o projeto “Homem que é Homem”

Lançado em 2015 e idealizado por psicólogas e assistentes sociais da Polícia Civil, o projeto “Homem que é Homem” foi desenvolvido para contribuir para a redução do índice de reincidência de violência contra a mulher.

Para isso, homens agressores que foram denunciados nos Distritos Policiais de Atendimento à Mulher são convocados a participar de um ciclo de palestras com temas voltados para a desconstrução de ideias sexistas e machistas, a fim de estimular formas pacíficas de lidar com os conflitos.

As reuniões acontecem uma vez por semana e totalizam cinco encontros, incluindo a de apresentação do projeto. Estes homens participam de encontros organizados por uma equipe psicossocial da Polícia Civil. O primeiro acontece por meio de intimação judicial, mas, depois, a permanência e frequência aos outros quatro encontros é voluntária. Em cada um são apresentados conceitos para uma cultura de respeito e não violência.

Os temas abordados contemplam relações de gênero, formas pacíficas de lidar com os conflitos, identificação e reflexão a respeito das violências nas relações, bem como aspectos relativos à relação familiar, propondo pensar o espaço subjetivo ocupado na família como um lugar democrático de convivência.



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