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Paralisações da Vale em Minas Gerais podem deixar 65 mil pessoas sem emprego

O consultor técnico da Amig, Waldir Salvador, explica que para cada um dos 5.000 funcionários da empresa, existem 13 profissionais empregados

Foto: Pilar Olivares/Reuters

Um levantamento da Amig (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais) aponta que o fechamento de 10 barragens da Vale que deixarão de existir até 2022 pode deixar 65 mil pessoas desempregadas direta e indiretamente, caso os funcionários da empresa não sejam realocados conforme anunciado.

O estudo é baseado nas consequências econômicas do desmonte das 10 estruturas construídas pelo método a montante — o mesmo de Brumadinho e de Mariana — que restam para ser descaracterizadas. Nenhuma delas recebe mais rejeitos.

O consultor técnico da Amig, Waldir Salvador, explica que para cada um dos 5.000 funcionários da empresa nestas minas, existem 13 profissionais empregados indiretamente. Segundo o estudo, estes serão os mais afetados, uma vez que a empresa promete realocar os próprios empregados.

Desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, a Vale anunciou o descomissinamento, ou seja, o desmonte de suas 19 barragens construídas pelo método a montante. O procedimento já foi concluído em 10 delas.

As atividades em algumas foram paralisadas pela própria mineradora para dar continuidade ao processo. Contudo, o número de estruturas interditadas subiu com o colapso em Brumadinho, que deixou 305 mortos e desaparecidos.

Atualmente, 31 barragens da Vale estão paralisadas. Somente nesta segunda-feira (25), a empresa anunciou a suspenção temporária em 13 delas, por determinação da Justiça.

Transporte

Um dos setores que pode sentir diretamente o peso destas mudanças é o de transporte. Geraldo de Souza Marques é presidente de uma cooperativa de caminhões que transportam materiais produzidos em usinas, a partir de minério. Marques relata que uma das preocupações atuais é de que a diminuição da produção do ferro prevista pela Vale, reduza a quantidade de fretes.

— Por enquanto, as viagens estão se mantendo. Mas se chegar menos matéria-prima nas usinas, com certeza, vamos perder carregamentos. Os efeitos serão sentidos pelos 270 associados e outros cerca 1.000 prestadores de serviços que nos atendem com borracharia, mecânica e suporte.

Fiscalização levaria cinco anos para vistoriar todas as barragens do país

O motorista Valdeci Souza já foi afetado indiretamente. O morador de Brumadinho conta que estava fazendo trabalhos esporádicos para uma firma de transporte da região desde o fim do ano passado. Porém, depois da tragédia que atingiu a cidade, a realidade mudou.

— Agora eu não estou mais sendo chamado para os trabalhos. Acredito que seja por contenção de gastos da empresa.

Desde da tragédia da Vale, as indústrias de mineração se tornaram alvo frequente de associações civis e processos judiciais. Waldir Salvador, consultor técnico da Amig, defende o endurecimento da fiscalização sobre o setor. Contudo, ele alerta para o risco de "demonizar" todos os assuntos ligados à temática.

— Uma coisa é responsabilizar os culpados por erros cometidos, outra é criminalizar todo o segmento da mineração. Minas Gerais é muito conservadora, não fez diversificação econômica. Nós precisamos nos unir para que as empresas atuem de forma responsável, pois elas têm grande valor para a população.

De acordo com o representante da Amig, a associação tentar marcar para os próximos dias uma reunião com a Vale para avaliar os números levantados e desenvolver propostas para evitá-los. A reportagem procurou contato com a empresa, mas ainda não teve retorno.

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