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Suspensão das aulas do ensino infantil em todo o ES divide opinião de especialistas

Decisão de suspender aulas por 21 dias para crianças de até 5 anos em todo o Estado foi tomada, entre outros motivos, pela alta ocupação de leitos pediátricos

Iures Wagmaker

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Uma decisão do governo do Estado, por meio das secretarias de Educação (Sedu) e Saúde (Sesa), suspendeu as aulas para o ensino infantil das crianças de até 5 anos de idade em todo o Espírito Santo, nas redes pública e privada, por 21 dias. A medida foi tomada devido à ocupação de leitos pediátricos no estado, que chegou a 90%. Especialistas ouvidos pelo Folha Vitória têm opiniões divergentes sobre o assunto.

As escolas têm até quarta-feira (17) para que se organizem junto às famílias, uma vez que em muitos lares enquanto as crianças estudam os pais estão no trabalho. A medida foi tomada após reuniões com a secretaria Estadual de Educação (Sedu), Ministério Público Estadual (MPES), Sindicato Empresas Particulares de Ensino no Espírito Santo (Sinepe) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação.

Para a pediatra Karoliny Veronese Pessi, o fechamento das escolas não seria necessário se as unidades seguirem medidas de segurança para evitar o contágio do novo coronavírus. Segundo ela, a perda pedagógica e psicológica para as crianças pode ser grande.

"Se as escolas seguirem os protocolos de segurança feitos pela Secretaria de Saúde, manterem afastados alunos e funcionários sintomáticos, o risco de contaminação é muito menor do que, por exemplo, uma festa de aniversário ou um restaurante. Portanto, sou contra o fechamento das escolas para crianças de qualquer idade. A perda psicológica e pedagógica para as crianças é imensurável. Principalmente nesta faixa etária de 1 a 5 anos, em que as aulas foram suspensas, faixa etária importante para interação entre as crianças e para o processo de alfabetização", ressaltou.

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De acordo com a médica, há a comprovação de que a abertura das unidades educacionais pouco interfere na proliferação da doença entre os estudantes. 

"Já foi mais do que comprovado de que as escolas não são o principal espaço para infecção do coronavírus nas crianças. Existem inúmeros artigos científicos que abordam tal tema. Inclusive a Sociedade Brasileira de Pediatria já emitiu nota sobre o retorno seguro das aulas. As medidas de proteção contra o coronavírus são as mesmas contra o VSR (vírus sincicial respiratório), causador da bronquiolite, e contra todos os outros vírus respiratórios: uso de máscaras, lavagem das mãos, uso do álcool em gel e distanciamento social de pessoas sintomáticas", disse.

"ABERTURA COM SEGURANÇA"

A pediatra e neonatologista Mariah Fonseca Gobbo Almeida também aponta que não há justificativa em fechar escolas enquanto restaurantes e comércio são mantidos abertos, por exemplo. 

"É uma discussão mais abrangente. Se o lockdown é necessário - que em situação de alto risco é - então que feche tudo. Porém, fechar escolas e manter demais seguimentos abertos não reduzirá a transmissão do vírus como o esperado", opinou. 

Ela explica que os estudantes não são os principais vetores do vírus e que o risco de contaminação de professores e funcionários das escolas são maiores fora da unidade educacional.

 "Crianças, em sua maioria, são assintomáticas ou oligossintomaticas, o que faz com que não sejam, elas, as maiores transmissoras do vírus. Os profissionais inseridos no ensino correm maior risco de se contaminarem entre eles e em outras atividades, como no transporte, por exemplo, do que propriamente com as crianças. Em minha opinião, deveriam ser vacinados com prioridade. Acredito que a educação é o seguimento que deveria ser o último a fechar, antes dos ditos essenciais. Mas não é escola aberta a qualquer custo, e sim escolas aberta dentro de um protocolo de segurança e ciência."

"RESTRIÇÕES SÃO NECESSÁRIAS"

Já o coordenador da Região Sudeste da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Rodrigo Aboudib, considera a decisão do governo do Estado como uma postura adequada. Para ele, a educação precisa ser compreendida como um quadro essencial, mas restrições são necessárias.

"Neste quadro atual em que vivemos, faz-se necessário algo mais restritivo nas atividades, de tal forma que consigamos frear e diminuir essa transmissão. As ações que tomarmos hoje serão sentidas em 14 dias. O pior momento chegou e vamos enfrentar agora. Por mais que entendamos que a Educação Infantil e a Educação como um todo seja uma construção importante para o futuro, é fundamental que essas crianças estejam com os pais e avós vivos para poder contar com eles", afirmou.

O m´´edico, que também é ex-presidente da Sociedade Espiritossantense de Pediatria (Soespe), ressalta que é importante analisar a oferta de leitos em um contexto geral para que decisões do tipo sejam tomadas. 

"Se observarmos as duas últimas semanas dos leitos totais do atendimento à covid-19 no Estado, vamos ver um crescimento na ocupação. No final de semana chegamos a 87,4%. Entre aspas, estamos contratando um colapso no atendimento de saúde do nosso estado. O Brasil, por não ter vacina e não fazer adequadamente as ações de combate, se tornou um território propenso as novas variantes", disse.

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O Sindicato das Empresas Particulares de Ensino no Espírito Santo (Sinepe) afirmou que está de acordo com a suspensão das aulas do ensino infantil durante os 21 dias, mas que aguardam mais diálogo. "Nós queremos que as escolas sejam consideradas atividades essenciais e não dependam mais do mapa de risco para sofrerem mudanças nas atividades toda a semana.", ponderou o diretor do Sindicato, professor Moacir Lellis.

Outro pedido do sindicato é que caso a situação dos leitos infantis melhore, que as aulas possam voltar antes do prazo de 21 dias. Segundo o presidente do sindicato, mais reuniões serão feitas ao longo da semana para que outros pontos sejam discutidos.

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A decisão foi anunciada pelo secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, e o da Educação, Vítor de Angelo, durante coletiva de imprensa, realizada na tarde de domingo (14). "Não temos condições de atender mais, em larga escala, as crianças neste momento caso isso seja necessário. Portanto, como temos a sazonalidade de algumas doenças respiratórias combinadas com a covid, variantes da covid cuja manifestação ainda não temos tanta clareza, somado a essa informação da ocupação dos leitos de uti pediátricos e a pressão assistencial sobre o atendimento pediátricos, é prudente nesse momento tomar essa medida." pontuou o secretário de Educação.

A suspensão foi feita por conta do aumento da ocupação do número de leitos pediátricos ocupados em mais de 90%, principalmente, por causa do aumento de doenças respiratórias agudas graves, além da covid-19. "Nessa semana aproximadamente 58 municípios iniciariam suas atividades. Esse início das atividades educacionais na educação infantil poderia representar uma pressão assistencial muito grande dentro desse momento." afirmou o secretário Nésio Fernandes.


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