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Cesan admite que estação não tem capacidade para tratar turbidez da água na Serra

Afirmação foi feita por gerente da empresa durante reunião na Assembleia. Segundo ele, falta decantador na Estação de Tratamento de Água de Carapina

Foto: pexels

A Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) admitiu na última quarta-feira (15), durante reunião extraordinária da Comissão de Proteção ao Meio Ambiente e aos Animais, presidida pelo deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania), que a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Carapina, na Serra, não tem a capacidade suficiente para tratar a água que chega à região, devido ao alto volume de barro produzido pelo manancial que abastece a rede.

Houve o crescimento, em fevereiro, no número de reclamações acerca da turbidez (quantidade excessiva de partículas em suspensão, entre elas o barro), na água que chegou às casas dos moradores, com um pico na ETA de Carapina, que abastece boa parte do município da Serra e que está funcionando no limite da sua capacidade.

De acordo com o gerente Metropolitano Norte da Cesan, Carlos Augusto Dilem, entre 1º de janeiro e 13 de março foram 492 reclamações, referentes a 398 imóveis, sendo 328 na área coberta por Carapina. 

Ele frisou que as ocorrências foram pulverizadas entre os diversos bairros da cidade, mas que todas foram atendidas pelas equipes da companhia, com as devidas orientações aos moradores. 

Além disso, que alguns imóveis demoraram um pouco mais a resolver o problema porque ficavam em “pontas de redes”.

Foto: Equipe parlamentar de Fabrício Gandini/divulgação
Gerente Metropolitano Norte da Cesan, Carlos Augusto Dilem, disse que Estação de Tratamento de Carapina está passando por obras de adequação

Dilem garantiu, contudo, que a Estação de Tratamento de Carapina está passando por obras de adequação, que serão concluídas em agosto de 2024. Ele reforça que a ETA vai ampliar sua capacidade de tirar a turbidez da água e que, “se novos eventos ocorrerem, a estação estará mais preparada, uma vez que hoje só conta com um processo conhecido como floto filtração”.

O gerente da Cesan, porém, evitou falar abertamente sobre falhas no sistema. Ele frisou que o problema está no manancial, no caso o rio Santa Maria da Vitória. Dilem explicou que, às vezes, há mais terra do que a capacidade que a estação tem de tratar.

“É como se fosse o filtro da nossa casa. Se tiver uma água que vem com muito material no filtro, ele vai entupir, não terá capacidade de fazer o tratamento. Temos filtros que são lavados de tempo em tempo, no processo de tratamento. Mas há um momento em que a sujeira que vem do rio é tão grande que a quantidade de produtos que jogamos na água não é suficiente. Para não comprometer a qualidade, e não cair muito a vazão da água, optamos pela interrupção do abastecimento até que as condições do rio melhorem”, exemplificou.

Dilem lembra que a Estação de Carapina foi construída num momento em que a qualidade do rio era muito boa. Segundo ele, ao longo do tempo, com a degradação do manancial, ficou clara a necessidade do uso da nova metodologia.

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“A decantação é um processo moderno. São tanques grandes. Além do filtro, é feito um tratamento complementar, não prejudicando o processo de tratamento, quando ocorrem situações de elevada turbidez. Boa parte das nossas estações já conta com o decantador. Agora, vamos empregar na Estação de Carapina. Vai ser ajustado para que o tratamento ocorra da melhor forma”, declarou.

Alerta para situação do rio Santa Maria da Vitória

Para Gandini, o relato acende um sinal de alerta ainda maior, uma vez que, com a necessidade de um decantador para manter a fluidez da água, há um sinal claro de que o rio Santa Maria da Vitória está morrendo e necessita urgentemente de atenção por parte da sociedade civil e das autoridades.

“Temos um desafio enorme pela frente: os nossos corpos hídricos estão sofrendo muito por conta do desmatamento, do esgoto sendo jogado in natura, das mudanças climáticas. Como a Cesan diz que já usa o decantador em outras estações, isso significa que os outros rios têm uma qualidade inferior. A constatação é que o rio Santa Maria está morrendo e que precisa de políticas públicas para ser preservado”, declarou Gandini.

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O parlamentar lamentou a ausência da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) na reunião, que contou, além da Cesan, com a participação efetiva de representantes da sociedade civil, do Idaf, da Prefeitura da Serra, dos comitês de bacias e da ONG Juntos SOS ES Ambiental, além dos deputados Iriny Lopes (PT) e Tyago Hoffmann (PSB), dentre outros.

Empresa garante que vai ressarcir quem recebeu água suja

A Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) garantiu que qualquer usuário ou condomínio que tenha o problema da turbidez, com a presença de resíduos sólidos na água fornecida, como barro, poderá fazer o descarte e a limpeza da caixa d’ água bancados pela empresa pública.

“Se comprou a água ou contratou uma empresa para fazer a limpeza da caixa, pode pedir o ressarcimento à companhia. A regra também vale para os condomínios, se precisarem fazer a higienização”, informou o gerente Metropolitano Norte da Cesan, Carlos Augusto Dilem.

De acordo com o gerente, a Cesan disponibilizou canais de atendimento aos consumidores, no site da companhia, por meio do telefone 115 (na Serra) e, também, pelo WhatsApp (27) 99722-9291.

Segundo ele, nesses canais, os usuários poderão ser orientados sobre como proceder para receber o ressarcimento dos custos.

Dilem destacou que a empresa está presente em 53 dos 78 municípios capixabas e que possui 92 Estações de Tratamento de Água (ETAs) e 102 de Esgoto (ETEs). As demais cidades são atendidas pelos Serviços Autônomos de Água e Esgoto (Saaes) ou por empresa privada.

Ele afirmou que a turbidez é apenas um dos vários parâmetros de potabilidade monitorados pela Cesan em relação à qualidade da água e que, quando determinados padrões são ultrapassados, é preciso suspender o serviço. “Quando tem uma situação de barro muito grande na entrada existe a suspensão do abastecimento porque não há condições de tratar”, esclareceu.

Suspensão no serviço e salinidade no manancial

Quem também participou da reunião foi o jornalista Bruno Lyra, que atuou por anos na área de jornalismo ambiental, em especial, na região da Serra. Ele disse que várias reportagens produzidas após reclamação de moradores detectaram turbidez na água e odor ruim. Tais problemas, apontou, teriam sido causados por excesso de barro e uso de produtos químicos.

Lyra falou que, nos últimos anos, percebeu o aumento da frequência da suspensão do serviço de fornecimento de água na Serra. Ele comentou que o município é abastecido pela água dos rios Santa Maria da Vitória e Reis Magos, e que esse último possui um problema relacionado à salinidade da água no manancial.

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Em relação à salinidade da água oriunda da ETA Reis Magos, alegou que em virtude da característica do manancial de vez em quando a salinidade atinge um nível elevado e que o procedimento acaba sendo mesmo o corte no abastecimento.

Entretanto, reforçou que na maior parte dos casos a população não sente o problema porque o sistema faz o uso da água da ETA de Carapina.

Ahnaiá Silva, do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), disse que a questão da qualidade da água está ligada à captação da água bruta no manancial. 

Ela informou que o órgão vem monitorando as áreas que precisam de recuperação ambiental e pediu atenção aos municípios na hora de fazer os licenciamentos ambientais.

Odyléa Tassis, diretora de Saneamento Básico da Agência de Regulação de Serviços Públicos do Espírito Santo (Arsp), enfatizou que a autarquia faz as fiscalizações necessárias, inclusive, na Serra, onde a Cesan já foi notificada. 

“O objetivo não é ficar distribuindo penalidades, mas corrigir as pendências. A agência caminha nesse sentido”, garantiu.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente, Fabrício Gandini, por sua vez, sugeriu aos municípios que tenham suas próprias agências fiscalizadoras, pois eles acabam passando essa atribuição para o Estado, que muitas vezes não consegue atender a todos adequadamente. 

“O município poderia conceder o serviço (de água e esgoto), mas não o da regulação. Poderia acompanhar mais de perto o serviço”, pontuou.

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