Erramos: Paciente é internado no ES com intoxicação após comer peixe baiacu
De acordo com o Centro de Atendimento Toxicológico do Espírito Santo (Toxcen), a intoxicação após ingestão da carne de baiacu ocorre raramente.
Você já comeu baiacu? Um dos peixes mais controversos da culinária mundial foi tema de sessão clínica no Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra. Recentemente, o hospital recebeu um paciente com quadro de intoxicação após ingestão de baiacu. Na literatura médica não há registro de muitos estudos sobre a espécie, por isso a direção do hospital considerou importante reunir um grupo de profissionais para analisar os procedimentos adotados.
“Para 2015, a direção técnica do Hospital Dr. Jayme decidiu realizar todo mês uma sessão clínica, ou seja, um momento de aprendizado, de troca de experiências com casos reais. Acreditamos no crescimento clínico da equipe com ações que englobam todos os profissionais da área médica. O tema ‘Intoxicação exógena por Toxina de Baiacu’ foi o primeiro discutido e já avaliamos como positiva essa iniciativa”, revelou o diretor técnico da instituição, o médico Eric Teixeira Gaigher.
Estudos científicos relatam que o envenenamento por baiacu é uma das formas mais graves de intoxicação por animais aquáticos e pode causar a morte em pouco tempo. O veneno, a tetrodotoxina, normalmente concentra-se mais no fígado, no baço, na vesícula biliar, nas glândulas sexuais e na pele do peixe. A substância não se altera com a temperatura, portanto, o veneno permanece intacto mesmo se a carne for congelada ou preparada em altas temperaturas. Por isso o preparo da carne é tão importante.
O paciente atendido no Hospital Dr. Jayme, um homem adulto, passou 12 dias internado e metade desse período ficou na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). A médica Priscilla de Aquino Martins, coordenadora da UTI, conta que ele chegou ao pronto-socorro em estado grave, com um nível de consciência muito baixo, sinais de fraqueza muscular considerável e início de insuficiência respiratória.
“O atendimento rápido e o tratamento de suporte nos dias seguintes foram essenciais, pois não há antídoto para a toxina do baiacu. A conduta indicada é fazer o tratamento dos sintomas com hidratação rigorosa, uso de medicamentos para manter a pressão arterial em níveis adequados, uso de ventilação mecânica para auxiliar a respiração do paciente, entre outros procedimentos para evitar complicações até que a toxina seja eliminada do corpo e pare de fazer efeito”, detalha a médica.
De acordo com a coordenadora da UTI do Hospital Dr. Jayme, o diagnóstico da intoxicação por baiacu é clínico, por isso foi importante o acompanhante do paciente ter informado que o homem havia comido carne desse peixe. “Quando começou a passar mal, ele pediu ajuda à vizinhança e deu essa informação. Se não fosse isso, seria muito difícil fecharmos o diagnóstico, pois ele chegou ao hospital sem condições de se comunicar. Depois, com o aparecimento de todos os sintomas, a hipótese foi sendo corroborada”, contou a médica, salientando que o paciente deixou o hospital sem nenhuma sequela.
Intoxicação rara
De acordo com o Centro de Atendimento Toxicológico do Espírito Santo (Toxcen), a intoxicação após ingestão da carne de baiacu ocorre raramente. No ano passado, por exemplo, não houve nenhum registro em todo o Estado e, neste ano, o caso atendido no Hospital Dr. Jayme foi o primeiro.
Os baiacus ou peixes-bola são peixes venenosos comuns na costa brasileira. Os mais importantes no Brasil são os baiacus-araras ou baiacus-lisos e os baiacus-pintados. As complicações neurológicas se manifestam por meio de dormência na boca e nas extremidades, fraqueza muscular, distúrbios visuais e outros sintomas. Ocorrem também náuseas, vômitos, dores abdominais e diarreia, e podem acontecer ainda convulsões e parada cardiorrespiratória nas primeiras 24 horas.