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'O mosquito continua aí. Quantas doenças mais ele pode trazer?'

Quais são os riscos que a falta de saneamento e a proliferação desordenada do Aedes aegypti pode trazer para o país. Confira a entrevista da pediatra Danielle Cruz

Redação Folha Vitória
"O Aedes continua aí. Quantas doenças mais ele pode trazer?", questiona a pediatra Danielle Cruz. Foto: Divulgação

RecifePara a pediatra Danielle Cruz, a microcefalia causada por zika é um alerta sanitário: chama a atenção do País para os riscos da falta de saneamento e para a proliferação desordenada do Aedes aegypti. Coordenadora do Laboratório de Microcefalia do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), ela cuida de 105 crianças com a má-formação e diz: "O Aedes continua aí. Quantas doenças mais ele pode trazer?" A seguir, trechos da entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Já identificaram algum padrão na microcefalia por zika?

O espectro é variado. Há crianças que convulsionam tanto que precisam ficar internadas. Algumas quase não têm massa encefálica. Vão ter muitas dificuldades, até para se locomover e falar. A doença compromete de diferentes maneiras os movimentos voluntários. A fisioterapia poderá resolver parte deles, mas nem todos. Engolir, por exemplo, em parte, depende de movimentos voluntários. Mas há outras crianças que já interagem, riem, fazem alguns movimentos.

O número de casos caiu?

Sim. Mas porque o vírus que circulou nos últimos meses não é zika. A zika volta agora, em março, abril, maio e junho. Ao menos foi assim no ano passado. Até onde sabemos, só tem um subtipo, uma variante. Assim, a maioria da população de Pernambuco já teve o vírus zika. A incidência deve diminuir, ao menos até que venha qualquer novo subtipo. A dengue já tem quatro. O vírus que circula agora é o chikungunya, que eu acho mais grave.

Por quê?

O zika tem essa ponta de iceberg que é a microcefalia na gestação. Não sabemos quais efeitos terão nas mulheres no futuro nem o que vai acontecer com os bebês quando crescerem, mas fora da gravidez o zika passa quase despercebido. O chikungunya pode deixar a pessoa com dores articulares por um, dois anos. A maioria das mães que tiveram zika agora está com chikungunya.

Por que a maioria dos doentes é de famílias carentes?

Porque na periferia faltam saúde pública e saneamento, e há mais mosquitos. Se uma mulher que come caviar cruzar com o Aedes aegypti pode ser infectada. Há várias crianças com microcefalia sendo tratadas na rede particular. O mosquito não escolhe.

O transmissor é o problema?

Sim. Dengue, zika, chikungunya eram doenças desconhecidas porque estão no terceiro mundo. Eu vou falar uma coisa dura: às vezes, é mais fácil lidar com a morte do que com sequelas. Eu cansei de ver crianças morrendo por dengue hemorrágica, mas o mundo não estava interessado. A microcefalia é visível, por isso chamou a atenção. No começo, até eu tinha dificuldade. Fechava os olhos e só via eles. Acordava de madrugada com o choro na minha cabeça. O mosquito Aedes continua aí. Quantas doenças mais ele pode trazer?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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