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Combates podem levar Líbia à guerra

Quase cinco anos depois do conflito civil que assolou a Líbia com a queda do ditador Muamar Kadafi, o país está novamente à beira da guerra. As milícias aliadas aos dois governos que disputam o controle do país se envolveram em violentos combates nos últimos dias, com bombardeios de ambos os lados. A comunidade internacional instou as partes a chegarem a um cessar-fogo e alertou para os riscos de uma nova e sangrenta guerra civil.

Neste domingo, 7, o Exército Nacional Líbio (ENL), liderado pelo general Khalifa Haftar, que controla o leste da Líbia, bombardeou pela primeira vez a periferia de Trípoli, sede do Governo de União Nacional (GNA), reconhecido pela comunidade internacional, como parte de uma "contraofensiva". No sábado, os rebeldes do ENL haviam sido alvo de bombardeios do GNA. Os soldados de Haftar avançam em direção à capital, para tentar tomar o poder.

Em resposta à escalada de tensões, a missão da ONU na Líbia pede uma trégua para permitir a retirada de feridos e civis. Segundo o governo central, 21 pessoas foram mortas e 27 ficaram feridas.

Neste domingo, autoridades militares dos EUA disseram que as forças americanas deixarão a Líbia.

O processo político de transição iniciado depois da queda de Kadafi, em 2011, foi abandonado em 2014, na época em que Haftar declarou sua intenção de tomar o poder. Quando o país se esfacelou em uma guerra civil, as Nações Unidas, com o apoio dos Estados Unidos e de outros governos ocidentais, tentaram resolver o conflito criando um governo de união sediado em Trípoli.

Sem Forças Armadas, o governo de Trípoli dependia para sua segurança de um conjunto desunido de milícias locais. Mas o governo paralelo de Haftar criou certa estabilidade. Surgiu então um equilíbrio entre o governo de Trípoli, no oeste, e o do general, no leste. O Banco Central de Trípoli continua a pagar os salários dos servidores públicos na região controlada por Haftar, o que inclui seus soldados, e Haftar permitiu que o governo de Trípoli vendesse petróleo embarcado em portos que ele controla.

Esse equilíbrio se desfez dois meses atrás quando as forças de Haftar avançaram para o deserto no sul do país e tomaram o controle de um dos maiores campos de petróleo da Líbia, Sharara. Muitos analistas previram que era só questão de tempo para que ele avançasse contra a capital.

"Para Haftar, é tudo ou nada", disse ao New York Times Wolfram Lacher, que pesquisa sobre a Líbia no Instituto de Assuntos Internacionais e de Segurança, na Alemanha. "Ele busca tomar o poder e, se fracassar, será uma derrota devastadora."

Para analistas, o avanço é uma tentativa de Haftar de fechar acordos com organizações armadas locais na área de Trípoli, como fez com sucesso em outras regiões.

Até agora, seu avanço teve o efeito contrário: causou a união de milícias rivais na região de Trípoli, para frear o avanço dele. Líderes de milícias da cidade de Misrata, os mais poderosos rivais de Haftar, disseram estar mobilizando suas forças para avançar na direção de Trípoli e detê-lo.

A ofensiva de Haftar pôs fim aos planos para negociações de paz que seriam conduzidas neste mês entre as facções rivais líbias. António Guterres, o secretário-geral da ONU, chegou a Trípoli para isso na quarta-feira. "Não existe solução militar. Só o diálogo entre os líbios poderá resolver os problemas", disse ele. EUA, Reino Unido, França, Itália e Emirados Árabes Unidos apelaram a "todas as partes que reduzam as tensões". O chanceler russo, Serguei Lavrov, pediu um "diálogo inclusivo". (Com agências internacionais).

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