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Metade das empregadas domésticas perderam o emprego no Espírito Santo na pandemia

Seja por motivos de segurança ou por dificuldade financeira por parte dos patrões, a categoria tem sofrido um forte impacto

Foto: Reprodução / TV Vitória
A diarista Alcelina da Encarnação se aposentou, mas mesmo assim continuou a exercer a função

Limpar a casa, cozinhar,  lavar louça, lavar roupas, são algumas das inúmeras atividades das empregadas domésticas. No entanto, durante a pandemia do novo coronavírus, muitas famílias se viram obrigadas a romper os contratos de trabalho, seja por dificuldade financeira, seja por causa das medidas sanitárias de isolamento ou distanciamento social.

Com 40 anos de experiência como empregada doméstica, dona Alcelina da Encarnação sentiu os impactos provocados pela pandemia. Medidas de segurança como distanciamento, por exemplo, prejudicaram a rotina da diarista, que faz faxina em duas casas; mas chegou a ficar sem trabalho por um período.

"Eu trabalhei muito em casa de família com carteira assinada. Trabalhei muito, e depois que eu me aposentei, não quis ficar parada"; disse a diarista.

Alcelina contou que diversas de suas colegas estão sem emprego, devido à pandemia. A diarista acredita que o medo da pandemia seja o principal motivo das demissões.

A empresária Clara Maria Segrini optou por abrir mão da funcionária por motivos de segurança. Ela disse que decidiu deixar a empregada doméstica de stand by até que a situação melhore.

Os números mostram que a categoria tem enfrentado um cenário dramático. De acordo com informações do Sindicato das Empregadas Domésticas (STPDES), antes da pandemia, o Espírito Santo contava com 236 mil empregados domésticos com carteira assinada ou informais. Após um ano da chegada do novo coronavírus, metade já perdeu o emprego.

No sindicato que representa a categoria, o sentimento é de tristeza e preocupação. "Hoje a situação de cada um deles é muito difícil, porque muitos perderam o emprego, não estão trabalhando, o patrão dispensou por falta de condições de pagamento, apontou a presidente do sindicato, Ivete Pereira.

Todos os dias surgem novas demissões e mais gente afastada. Além disso, também existem as reduções de jornada de trabalho.

"Quando se reduz carga horária fica mais difícil ainda, porque além de reduzir as horas, o patrão também reduz o salário. Então, para o trabalhador que depende de família fica difícil, o que prejudica o pagamento de aluguel, energia, água, telefone e os demais sustentos da família", salientou Ivete.

A autônoma Graça Silva sempre contou com a presença de uma ajudante em casa, mas com a pandemia os planos mudaram. "Eu mesma faço as minhas coisas. Já tem um bom tempo, desde que começou essa pandemia que ela (a emprega doméstica) está na casa dela", disse.

Demissão

Demitir durante a pandemia não é uma prática ilegal, mas é preciso respeitar os direitos trabalhistas e há patrões que não tem feito isso, segundo o sindicato. "Para algumas delas, a gente consegue um acordo amigável. Outras preferem ir para a Justiça. Por falar em ir para Justiça, é ter que esperar ela voltar e nesse caso a fome não espera", lembrou a presidente da associação.

Para quem anda dentro da lei, o desafio é manter o equilíbrio entre a economia e os cuidados com a saúde das famílias e das empregadas domésticas. É o que faz a empresária Clara Maria Segrini.

"Teve uma época que a pandemia acalmou um pouco e havia menos contaminados diários. Ela ( a empregada doméstica) voltou a trabalhar usando máscara. Eu forneci a máscara, e ela trocava a cada duas horas. Essa cepa que está rolando agora é muito mais transmissível e muito mais perigosa.  Eu já tive covid, foi uma experiência ruim e que deixa um alerta e uma lição importante", lembrou Clara.

Enquanto a vacina não chega para toda a população e nem a pandemia acabe, o sindicato pede ajuda para conseguir, pelo menos, cestas básicas e aliviar o sufoco de centenas de famílias.

"Aqueles que puderem, eu gostaria que ajudassem com uma cesta básica, um produto de limpeza, álcool, água sanitária, que é essencial para a higiene. Uma cesta básica ajudaria uma família a superar essa situação que está muito difícil", afirmou a presidente.

* Com informações do repórter Michel Bermudes, da TV Vitória/Record TV.

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